Walter Wright, conhecido apicultor norte-americano, pai da técnica checkerboarding, faleceu há poucos dias atrás. Como forma de o relembrar, aproveito este momento para divulgar as suas ideias, muito próprias, acerca do fenómeno enxameação. Um dos textos mais provocadores (no sentido de provocar a nossa reflexão) que lhe conheço intitula-se Is it Congestion (fonte http://www.beesource.com/point-of-view/walt-wright/is-it-congestion/) e do qual vou traduzir alguns excertos.
Walter Wright
“A mentalidade desculpadora é a minha frase para classificar a teoria de que a enxameação é “causada” pelo congestionamento, e de que a grande aglomeração de abelhas limita a distribuição da feromona da rainha. A limitação da distribuição da feromona da rainha é considerada como o ponto de partida na criação de realeiras. A intenção deste artigo é mostrar que esta teoria da “congestão do ninho” não resiste a uma análise atenta.
Temos visto colónias de enxames que não estão muito congestionadas de abelhas e que enxameiam e, inversamente, colónias muito congestionadas que não enxameiam. O congestionamento do ninho surge de duas formas. Uma através de uma grande aglomeração de abelha, que é o que associamos frequentemente ao termo. Um segundo tipo de congestionamento é provocado pelo armazenamento de reservas, pólen e mel, no espaço que tinha sido anteriormente usado para a criação. O néctar é usado para reduzir a área disponível para a criação antes de se iniciar a construção de realeiras. Se o néctar não abunda no campo, a colónia, por vezes, usa o pólen para iniciar a redução da câmara de criação.
Existem dois tipos principais de enxames gerados na estação da primavera. O enxame reprodutivo, que é anterior e menor do que o enxame derivado da superlotação de abelhas. Para se construir uma população de abelhas a um nível intolerável demora-se um pouco mais e o enxame é geralmente maior. A literatura não faz distinção entre estes dois tipos de enxames, o que leva a uma confusão quanto à “causa” de ambos. No entanto, as causas são diferentes para cada um deles.
As abelhas não precisam de uma desculpa para se reproduzirem através do único método que têm disponível. A sua motivação para se reproduzirem será tão intenso quanto o impulso sexual entre mamíferos. Duvido que alguém, lendo este artigo, considerou alguma vez ser necessário fabricar uma desculpa, uma razão, ou uma “causa” para seu desejo sexual. Por que temos de inventar uma justificação para o processo reprodutivo da abelha do mel?
Os passos para a enxameação reprodutiva fazem parte de um processo deliberadamente controlado pelas abelhas. A partir do fim do inverno, o acúmulo da população tem uma finalidade específica: a divisão por enxameação reprodutiva. Controles naturais das próprias abelhas e integrados no processo evitam a superpopulação, como a redução da área de criação pelo armazenamento de néctar, que serve vários propósitos, e um deles é evitar a sobrepopulação. Se há uma “causa” para a enxameação de reprodução, a causa é o impulso da colónia para se reproduzir.
Os enxames causados pela superlotação de abelhas também ocorrem. Eles são criados pela intromissão do apicultor. O apicultor que deliberadamente interfere no processo controlado da reprodução pode causar superlotação. Por exemplo, invertendo os corpos da colmeia de forma periódica, o apicultor mantém quase duas caixas cheias de criação. Ele adiciona mais espaço para as abelhas geradas por esta enorme quantidade de criação. Contudo as abelhas foram privados de seu controle natural de redução da área de criação. Vemos a enxameação por superlotação como um mecanismo de defesa para proteger a sobrevivência da colónia existente.
Em resumo, com estes dois tipos de congestionamento e estes dois tipos de enxameação, a teoria da “enxameação por congestão”, avançada na literatura, não se aplica a todas as circunstâncias. Podemos dizer com segurança que a enxameação por superlotação é “causada” pelo congestionamento, mas a origem está no mau maneio do apicultor. Ela termina aí.
Nenhum tipo de congestionamento está na “causa” da enxameação reprodutiva. Precisamos de reconhecer que enxameiam simplesmente pelo que é: um esforço deliberado para perpetuar a espécie. Sem outras desculpas.
Os traços de sobrevivência discutidos desviam-se consideravelmente da sabedoria convencional. Eles são o resultado das minhas observações pessoais. É da natureza humana rejeitar qualquer conceito que difere do que nós pensamos e que julgamos ser verdadeiro. A aceitação do que vejo acontecer numa colmeia será difícil, se não impossível, para alguns, com uma forte convicção do contrário.”
Olá, Eduardo.
Um testemunho que vem ao encontro, das nossas opiniões em relação a enxameação.
Mais uma vez, o maneio é uma peça fundamental. Este testemunho, da-me vais força e vontade, em continuar a apostar na nossa abelha negra. Vai levar tempo mas lá chegaremos.
Abraço.
gosto muito da maneira como escreve! sem presunção,
temos agora meios para difundir as nossas ideia que não tinha-mos antigamente e temos muita gente bem formada que sabe bem o que diz e faz!vai ficar obra feita de certeza em especial na melhoria genética da nossa abelha
obrigado!
Muito obrigado pelas palavras de incentivo Júlio.
Vamos aprender todos uns com os outros, seguramente. Assim estaremos a contribuir para uma apicultura mais produtiva e uma abelha autóctone mais seleccionada.
Um abraço!