A colmeia Dadant, actualmente comercializada em Portugal pelo nome de Jumbo, tem evoluído desde que foi inicialmente concebida nos finais do sec. XIX por Charles Dadant. Em Portugal, e para aqueles que não conhecem o “caixotão”, tem a largura e comprimento de uma Langstroth e a altura de uma Lusitana.
No nosso país é um modelo de colmeia com pouca expressão. No entanto parece estar a renascer um interesse cada vez maior em torno desta colmeia. O Sr. Abílio, da Colmeicentro, referiu-me há uns meses atrás que nos últimos 8 anos tem vindo a reconverter os seus apiários Langstroth para Dadant, e nas suas palavras com vantagens assinaláveis ao nível da produção, enxameação e invernagem. Não há muitos dias, o João Tomé no seu blogue Vale do Rosmaninho, deixa no ar a ideia que também está a amadurecer a ideia de uma possível reconversão do modelo de colmeia que utiliza nos seus apiários. Entre outros, eu próprio já há uns meses, e depois da referida conversa que tive com o Sr. Abílio, apicultor com uma enorme experiência, que já viu mais abelhas que eu verei em 10 vidas juntas, que ando a maturar seriamente a ideia de ensaiar as colmeias Dadant/Jumbo.
Dado este meu interesse consegui obter o livro de C. Dadant, de 1920, intitulado “Dadant System of Beekeeping” e li na fonte o que o inventor refere a propósito das vantagens da Dadant quando comparada com o modelo mais usado na altura, o modelo Langstroth.
Fig. 1 — Charles Dadant (1817-1902), considerado um dos pais fundadores da apicultura moderna
Pelo que se pode ler no livro, a Dadant de 10 quadros tem mais cerca de 1370 cm quadrados (se a conversão das unidades de inches para centímetros foi feita correctamente) que a Langstroth de 10 quadros. Na opinião deste conceituado apicultor, o ninho da Dadant é suficiente para uma rainha prolífera e o ninho da Langstroth é insuficiente. C. Dadant refere a sua experiência de 1876, ano em que trabalhou lado a lado várias centenas de colmeias Dadant e 110 colmeias Langstroth. No mês de Maio escreve que as rainhas nas colmeias Langstroth subiram ao sobreninho, e nas Dadant, pelo contrário, nenhuma rainha tinha subido ao andar superior para aí fazer postura. No seu entender esta foi uma demonstração clara que é necessário mais que um ninho da Langstroth para dar espaço a uma rainha prolífera, numa altura em que o apicultor tem de fornecer as condições para o grande aumento da população de abelhas que lhe permitam a melhor colheita possível. Mais adiante C. Dadant confirma que observaram melhores produções nas colmeias Dadant quando comparadas com as produções obtidas nas Langstroth.
Dadant comenta ainda as desvantagens do duplo ninho nas Langstroth, as quais tenho também observado. Relata que quando uma rainha sobe ao segundo ninho hesita em voltar para o ninho debaixo. Em colmeias deste modelo com o ninho, sobreninho e um terceiro corpo igual ao ninho (colmeia com 3 andares ou 3 corpos) refere inclusive a possibilidade de a rainha dispersar a postura pelo três andares. Estas opções dão espaço excessivo à rainha, mas obriga o apicultor a várias manipulações de transferência de quadros de cima para baixo e vice-versa e/ou inversão da posição do ninho e sobreninho.
Dadant conclui dizendo que quer um ninho que não seja demasiado largo nem demasiado pequeno, capaz de acomodar uma rainha prolífera nesta divisão principal da colmeia, reservando o espaço superior das meias-alças para o armazenamento do mel.
Concluo este post dizendo que a minha experiência com as Dadant é nula, mas quero experimentar, porque os sinais que vou obtendo ao longo de seis anos com abelhas, parecem-me indicar que os ninhos Dadant me poderão trazer mais alegrias que as alegrias que tenho tido com os ninhos Langstroth e os ninhos Lusitanos. Esta experiência me dirá que caminho seguir depois.
Parabéns. Blogue a seguir com atenção. Cumprimentos.
Obrigado Octávio. Cumprimentos.
Penso que na colmeia Dadant a rainha também sobe ao sobre-ninho. Aliás, eu tenho colmeias com 3 caixas de ninho sobrepostas, tipo langstroth, e a rainha preenche praticamente todos os quadros com criação durante a primavera. Mas faça a experiência e divulgue depois sff.
e já agora sabe dizer-nos como e que elas passam os inverno, sendo uma cx tão grande!
Bom dia Paulo
Não falo pela minha experiência, porque ainda não avancei com este projecto. Baseado no que três apicultores profissionais portugueses me referiram o seu grau de satisfação é grande com o ninho Dadant. Um deles, um dos maiores apicultores de Portugal, e que está a converter os seus apiários para o modelo Dadant desde há anos, disse-me que as abelhas invernam bem porque têm mais reservas no ninho e a população que entra e sai do inverno é maior.
Em Espanha e França é um modelo muito utilizado e os invernos serão até mais rigorosos que os nossos. Curiosamente no EUA, onde o modelo surgiu, caiu em desuso.
A dimensão da caixa e a termorregulação têm sido investigadas desde há umas décadas para cá, e há um certo consenso entre os especialistas de que as abelhas se aquecem a si próprias e não aquecem o espaço interior da colmeia para além das fronteiras do cacho invernal. Desta forma a dimensão da caixa aparenta ter uma relevância pequena na qualidade da invernagem das abelhas.
Olá Eduardo
Primeiramente, os meus parabéns pelo seu blogue, que acompanho sempre que posso.
Acerca deste tema, convém não esquecer a zona de Portugal em que fazemos apicultura. Existem em Portugal Continental (grosso modo) 8 grandes zonas apícolas, que divergem entre si não só no clima como até na flora. São elas:
Minho e Douro litoral; Trás os Montes e Alto Douro e Beiras até ao Fundão; Beira Litoral e Estremadura; Ribatejo e parte do Alto Alentejo oeste até Ponte de Sor; Alentejo litoral e Algarve Barlavento até Lagos; Algarve Sotavento, parte do Barlavento e sul das serras de Monchique e Caldeirão; Norte das referidas serras e sul do Baixo Alentejo; Alentejo interior e parte da Beira Baixa. Dentro destas, existem ainda muitos micro climas. Nas Ilhas da Madeira( com vários micro climas) e Porto Santo o clima e flora são também diferentes, assim como diferentes são os climas das Ilhas dos Açores. Por isso há que adaptar também as colmeias (caixas) ao clima e flora onde fazemos apicultura, e também a exploração apícola que mais exercemos.
Eu tenho 5 colmeias Dadant, com as quais tento fazer experiencias.
Dados a favor:
1- Produzem mais mel e raramente enxameiam com rainhas novas(um ano), que também sobem à primeira alça.
2-Desenxameiam mais tarde com rainhas de 2 anos ou mais.
3-São excelentes para colheita de pólen.
Contra:
1-Devido ao seu peso são más para o processo de controle total da enxameação através de Piramiding.
2- Por este motivo, no seu tamanho normal de quadros, não as aconselho para multiplicação de rainhas.
3- Para polinização, pelo seu peso e dimensão, também não são as mais apropriadas.
Não me inclino para este modelo, sobretudo pelo seu peso. Por vezes trabalho sem ajudante. Embora também pesada, prefiro a Longstrout, ainda que a rainha suba à segunda e terceira alças, porque estou no Alentejo e a minha base de exploração é o mel.
Se fizesse apicultura noutra Zona de Portugal e a minha base de exploração fosse outra, teria de estudar e ponderar muito bem os prós e contras, sobretudo o peso dos ninhos cheios de mel ( peso específico + – 1,493) que para mim (sessentas e tais), é a maior desvantagem.
No entanto, cada um saberá o que mais lhe convém.
Faça as suas experiências e diga mais do que souber.
Ainda uma achega acerca da subida da rainha.
Tenho notado que, se a caixa a seguir ao ninho for de 9 ou 8 quadros a rainha sobe menos vezes para estas caixas e quando sobe, desce também poucas vezes ao ninho. Será porque estes quadros não dão continuidade vertical aos do ninho?
Cumprimentos
Mais uma achega
Aqui, no Alentejo, as colmeias Dadant (Jumbo) são boas em produção nos anos bons. Nos anos maus, têm que ser sempre e mais vezes alimentadas.
Nestes anos é preferível ter reversíveis, que consomem menos e ainda dão alguma coisa ao apicultor.
Um abraço e bom ano apícola
Bom dia, Manuel!
Fico muito agradecido pela simpatia das suas palavras e pelo relato detalhado da experiência que tem com as colmeias do modelo Dadant. Todos nós aprendemos com relatos como o seu.
O seu alerta para a diversidade no clima e na flora é muito pertinente. Fluxos mais lentos e prolongados vs. fluxos mais intensos e mais curtos; fluxos mais no cedo ou mais tardios; um, dois ou mais fluxos… A apicultura é local. Por outro lado enfatiza que o modelo de colmeias/caixas deve ser adoptado aos produtos da colmeia que pretendemos explorar, aspecto com o qual facilmente concordo.
Porquê a minha preferência por modelos de colmeias com áreas grandes no ninhos?
Neste momento estou convencido que os modelos de colmeias com ninhos de maiores dimensões contribuem para uma melhor e mais fácil prevenção/atraso do fenómeno da enxameação. Como trabalho com dois modelos com ninhos de dimensões aproximadas (langstroth e lusitana) e não trabalho com a reversível não me é possível ter dados em primeira mão. Vejo, contudo, apicultores vizinhos, na minha zona, com o modelo reversível a debaterem-se mais cedo do que eu com a enxameação.
Relativamente à produção maior ou menor de acordo com o modelo de colmeias, os apicultores veteranos, costumam afirmar que são as abelhas que fazem o mel, não são as caixas. Sim e não, na minha opinião. Colmeias com poucas abelhas nunca fizeram mel nas minhas mãos. Nunca consegui esse feito. Quais as caixas/colmeias que promovem um maior número de abelhas na colmeia? Não tenho dados meus, mas inclino-me para os modelos maiores. Mas poderei estar enganado, até porque em conversa com as técnicas da minha associação fiquei com a ideia que um número apreciável de jovens apicultores (com menos de 40 anos) que submetem candidaturas a projectos estão a apostar nas reversíveis. Talvez eles saibam algo que eu não sei! Ou sabem apenas que são mais leves, porque o projectista assim lhes disse, e nada mais sabem.
O Manuel refere e bem na minha opinião, que em anos bons as Dadant são excelentes colmeias para produzir e que em anos maus as reversíveis ainda dão algum mel ao apicultor. Compreendo claramente que num ano mau as abelhas não passem do ninho Dadant e todo o néctar colhido ficará armazenado no ninho. Na reversível como enchem mais rapidamente o ninho com mel, mais depressa subirão ao nível superior, o nível do apicultor para aí armazenarem o néctar. Não me surpreende que assim seja. Fico no entanto surpreendido que para alguns os últimos anos tenham sido sistematicamente maus, porque a minha experiência tem sido felizmente diferente. Se o clima faz o mel, se as florações fazem o mel, se as abelhas fazem o mel, então nós não contribuímos em nada para esta equação? Esta questão não é dirigida ao Manuel, é dirigida a todos nós, a começar por mim.
Manuel relativamente à sua observação da subida das rainhas ao sobreninho e sua “teimosia” em não descerem de novo ao ninho também o verifico nas minhas colmeias. A inversão das caixas é uma técnica muito utilizada em todo o mundo porque muitos e muitos outros apicultores observam isto mesmo um pouco por todo o lado. Julgo que, e focando-me em particular no aspecto dos sobreninhos com 8 e 9 quadros que relata, uma hipótese de explicação pode passar pela ventilação diferente entre os quadros de caixas com 10 quadros e caixas com 8 ou 9 quadros. No início da temporada as rainhas são reticentes em subir às caixas com 8 ou 9 quadros porque o espaço entre quadros é maior e torna mais difícil de aquecer a cria; mais adiante na temporada, com o calor a “apertar” mais, preferem esse espaço porque mais ventilado e mais fresco para a cria. Enquanto isso o ninho vai ficando cada vez mais e mais bloqueado com néctar e pólen, obrigando a rainha que desce a fazer uma postura não contígua, um pouco aqui, um pouco ali, coisa que me parece lhes é muito desconfortável.
São boas questões para todos pensarmos e para que outros companheiros se “cheguem à frente” e nos venham dizer quais são as suas experiências e “feelings”.
Caro Eduardo, o que pensa de adicionar uma meia alça de 10 quadros sobre o ninho lusitano é só depois meias alças de 8 quadros, com intuito de diminuir a tendência a enxameaçao?
Da uma área disponível a rainha um pouco maior que a dadant e caso não seja utilizado para criação fica com mel . Estou a pensar experimentar este ano mas gostaria de uma opinião de alguém mais experiente. Obrigado por todo o conhecimento que partilha connosco, passo horas a ler as suas publicações.
Bom dia, Emanuel! Não perde nada avançar com essa configuração e ver os resultados no seu local. Eu fi-lo nos primeiros anos, influenciado por algumas leituras do grande apicultor argentino Manuel Oksman. Sugiro que coloque a meia-alça a partir do momento em que o enxame ocupe 8 quadros de abelhas no ninho e as temperaturas mínimas estejam regularmente acima dos 7-9 graus. Na minha opinião essa meia-alça não necessita de ser de 10 quadros. Com oito quadros as rainhas também lá fazem postura. Se os alvéolos puxados estiverem demasiados altos as abelhas roem a cera, rebaixam-nos, para que a rainha possa fazer a postura. Um abraço.
Viva, Eduardo!
É um prazer ler o seu blogue.
Iniciei-me na Apicultura há cerca de um ano e tenho tentado aprender o máximo possível. Li este seu post sobre as colmeias Dadant e gostaria de saber, passados estes anos, o que pensa sobre o assunto, porque me parece que utiliza colmeias Langstroth e Lusitana. Chegou a experimentar as Dadant?
Muito obrigado por partilhar o seu estudo e conhecimento sobre a Apicultura.
Cumprimentos,
José Borges
Viva, José Borges! Não cheguei a experimentar as Dadant. Não dei esse passo, sobretudo para não aumentar as dificuldades logísticas que imagino adviriam de trabalhar com três modelos. Um abraço!
Obrigado. Um abraço.
Talvez já tarde para dar uma resposta de como se passa o inverno em França…reduzo o ninho com uma partiçāo quente.Passam o inverno só em 7 ou 8 quadros ocupados, 2 de reserva cheios..