quadros com cera puxada: um “must have” nesta época

Tendo estado cerca de 15 dias sem visitar as minhas colónias, por motivos que vão desde as fracas condições climatéricas, uma ida à clinica dentária e alguns compromissos familiares, estou a planear mentalmente o maneio que irei fazer, nesta semana que vai entrar, em parte das minhas colmeias.

Sabendo que as colónias começam a planear o comportamento enxameatório cerca de um mês antes da enxameação efectivamente se dar, as medidas de prevenção da enxameação devem ser iniciadas, mais semana menos semana, nesta época, isto no território onde tenho os apiários e com mais ênfase nos que se situam a 600 m de altitude.

Uma das formas mais eficaz e expedita de atrasar, diminuir ou mesmo eliminar o impulso de enxameação passa por fazer acreditar ao superorganismo, o enxame, que o ninho não está completamente utilizado, concluído, nem constringido. O apicultor pode através do maneio criar artificialmente um ninho “por acabar” e assim confundir o enxame, levando este a acreditar que ainda não estão reunidas as condições óptimas para levar a cabo a sua reprodução natural por enxameação.

O que deverá fazer o apicultor? Basicamente, remover a restrição das abóbadas/arcos de mel em redor das áreas de criação/postura. Uma das formas de alcançar este objectivo é colocar gradual e regularmente quadros vazios com cera puxada, ou quadros com cera laminada, no ninho/sobreninho ou meias-alças, durante a época de pré-enxameação — no meu território esta época inicia-se no final de fevereiro/início de março, com a criação de zângãos —e durante a época de enxameação.

Nesta altura do ano, em que as condições para puxar cera não estão todas reunidas, a minha opção passa por utilizar quadros com cera puxada para criar nas abelhas esta sensação de ninho inacabado. Estes quadros, um por semana, serão colocados ao lado do último quadro com criação, preferencialmente do lado quente da colmeia, ou logo a seguir ao quadro com pólen nos casos de enxames um pouco menos fortes. O meu pai há 11 anos atrás, quando comecei, ensinou-me a fazer este maneio, e chamava-lhe expandir o ninho ou abrir o ninho.

Colocar, nesta altura e no território que as minhas abelhas pisam, cera laminada é, na minha opinião, um erro (não me perguntem como o sei!). As abelhas não a vão puxar, servirá mais de muro para a rainha e abelhas, criando provavelmente uma sensação de maior constrangimento no enxame, precisamente aquilo que pretendo evitar. O mesmo se passa com a adição de meias-alças com cera laminada. Não tendo condições para puxar a cera, as abelhas não irão reconhecer aquele espaço como um espaço para expansão da criação e/ou um espaço para transferir parte do mel e néctar de forma a preservar o ninho de um bloqueamento. O espaço está lá aos olhos do apicultor, contudo aos olhos das abelhas não está.

Como não tenho a certeza absoluta da data em que as minhas abelhas vão começar a puxar cera opto por colocar a primeira meia-alça com cera puxada e o mesmo para os quadros no ninho/sobreninho. Mais adiante, quando as abelhas estiverem inequivocamente a puxar cera, iniciarei a colocação de quadros com cera laminada no ninho e/ou sobreninho e nas meias-alças. Até que essa época chegue, os quadros com cera puxada é um objecto que desejo muito possuir porque as minhas abelhas assim me o têm dito, como já diziam também as abelhas do meu velho Mestre.

Algumas meias-alças do modelo Langstroth, com quadros com cera puxada, armazenadas e disponíveis para serem colocadas sobre as colmeias tão cedo quanto o necessário.

must have: designa um objeto que muitas pessoas desejam possuir.

tudo bons rapazes…

No território onde tenho os apiários começam a emergir os primeiros zângãos. Parece-me oportuno traduzir um excerto do artigo de revisão Factors affecting the reproductive health of honey bee (Apis mellifera) drones—a review (2019) acerca destes bons rapazes.

Emergência de um zângão

Clima, nutrição e outros fatores ambientais afectam o tempo de maturação sexual dos zângãos. As estimativas da idade em que os zângãos atingem a maturidade sexual variam de 6 a 12 dias pós-emergência. Nos primeiros dias depois da emergência, os jovens zângãos interagem com as operárias perto da área de criação para serem alimentados. Os voos de orientação, que ajudam os zângãos a conhecer os marcos locais e a localização precisa do ninho/colmeia, começam aproximadamente 5 a 8 dias após a emergência. Identificados os principais marcos e localização da colmeia, o seu ciclo de vida culmina quando se junta a outros numa área de congregação de zângãos (“ACZ”) com um diâmetro de 30 a 200 m, onde se juntam até 11.000 zângãos no ar entre 10 e 40 m acima do solo. Os zângãos emitem feromonas odoríferas produzidos pela glândula que modulam as interações sociais entre eles e provavelmente ajudam à formação de ACZs. Quando as rainhas virgens entram numa área de congregação, elas atraem os zângãos com feromonas e fornecem pistas visuais de curto alcance, que ajuda os zângãos a encontrá-las e acasalar. As rainhas virgens normalmente visitam ACZs num ou vários voos de acasalamento que podem acontecer num ou vários dias. Os ACZs são compostos por zângãos de até 240 colónias localizadas de até 5 km de distância entre si. Embora esta seja a distância máxima de vôo registrada até agora, a maioria dos zângãos tendem a reunir-se em ACZs localizados a apenas algumas centenas de metros de sua colmeia de origem, numa estratégia que se presume maximizar a quantidade de tempo que eles podem passar na ACZ para aumentar sua oportunidade de acasalar. Outra explicação: os zângãos também se podem reunir perto de suas colónias de origem para evitar o acasalamento com rainhas aparentadas, visto que a maioria das rainhas virgens voa a vários quilómetros de distância de suas colónias de origem em busca de parceiros (ver esta publicação a este respeito), numa estratégia que supostamente ajuda a evitar o cruzamento genético endogâmico.

fonte: https://link.springer.com/article/10.1007/s13592-019-00684-x

introdução de rainhas: a vantagem de colocar um quadro com criação aberta

No artigo Influence of brood pheromone on honey bee colony establishment and queen replacement (2021), R. Tarpy — um dos mais prolíficos investigadores na área das abelhas rainha — conclui que a aceitação de rainhas em pacotes de abelhas aumenta significativamente com a colocação de um quadro com criação aberta. No grupo de controle (grupo de colónias onde não se colocou um quadro com criação aberta), verificou-se a aceitação da rainha em 33,3% dos casos, considerando a sua rejeição nas primeiras 5 semanas, ou a sua substituição entre a 5ª e a 12ª semana após a introdução. No grupo experimental (grupo de colónias onde foi colocado um quadro com criação aberta) a aceitação das rainhas foi de 86,7%.

fonte: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00218839.2020.1867336

Larvas por opercular ou criação aberta.

Ainda que a experiência tenha sido realizada com pacotes de abelhas, acho que no processo de introdução de rainhas engaioladas em núcleos de abelhas, geralmente formados com dois quadros com reservas e dois ou três com criação, não perdemos nada, à luz destes dados, em acautelar que um destes quadros contenha um bom número de larvas por opercular.

Sobre outras orientações que visam aumentar a aceitação de rainhas introduzidas em gaiola, ver aqui.

o ciclo de vida do ácaro Varroa: uma actualização

Se, por uma razão qualquer, estivesse limitado a aprender o conhecimento produzido de apenas duas doenças das abelhas escolheria a criação pútrida americana — mais conhecida por Loque americana — e a varroose. A primeira pela sua contagiosidade a colónias vizinhas; a segunda pela sua prevalência e ubiquidade; ambas pela sua letalidade. Como apicultor auto-didacta que não gosta de ver sofrer as suas abelhas procuro, com as minhas limitações, acompanhar de perto os progressos no conhecimento em torno destas duas doenças. Tenho escrito com alguma frequência sobre a varroose, e esta tarefa obriga-me a ler e a aprender. Os ganhos que retiro deste labor, entre outros, é ser capaz de, com algum rigor, prognosticar a evolução da infestação e aplicar esta aprendizagem à minha realidade enquanto apicultor — ver um exemplo nesta publicação de 2016.

Excrementos (guanina) de varroas visíveis nas paredes dos alvéolos, um sinal que aponta para a morte da colónia por varroose e viroses associadas.

A publicação de hoje visa actualizar alguns conhecimentos sobre o ciclo de vida da varroa, e tem como fonte o artigo de revisão da literatura mais relevante que li nos últimos anos.

O ciclo de vida é dividido em duas fases distintas:

  • A fase reprodutiva que ocorre dentro dos alvéolos de criação das abelhas, onde um ácaro fundador fêmea cria a sua prole;
  • A fase de dispersão – frequentemente denominada incorretamente de fase forética — na qual os ácaros fêmeas maduros viajam e se alimentam nas abelhas adultas.

Fase Reprodutiva
Na A. mellifera, a varroa normalmente produz 0,7-1,45 filhas fêmeas maduras em alvéolos de larvas de operárias e 1,6-2,5 filhas em alvéolos de larvas de zângãos (Figura A). Os ácaros Varroa usam cairomonas*, uma forma de ‘espionagem química’ para invadir alvéolos onde se desenvolvem larvas com a idade adequada, exibindo uma preferência oito vezes superior por cria de zângãos, onde têm um potencial reprodutivo aumentado. A quantidade de criação de operárias e zângãos disponíveis muda ao longo da época, com impacto na proporção de varroa na criação versus nas abelhas adultas (Figura B). Ao invadir o alvéolo com larva, a varroa fundadora esconde-se, imóvel, na papa larval depositada na base do alvéolo, respirando através do seu peritreme que se estende acima do alimento líquido como um canudo. Esta imobilidade pode ser uma adaptação para minimizar a sua remoção pelas abelhas operárias, uma vez que, antes e durante o selamento do alvéolo, as abelhas-nutrizes inspecionam frequentemente o alvéolo. Após o selamento do alvéolo, a larva da abelha finaliza a sua alimentação, estende-se ao longo do comprimento do mesmo e forma um casulo. Durante esta fase, o ácaro fundador deixa a papa larval, sobe para a pré-pupa da abelha e perfura, com um orifício relativamente grande (100 μm), a cutícula da abelha que se está a criar, um local de alimentação para ela e sua futura prole. Este local de alimentação permanece aberto devido aos anticoagulantes presentes na saliva do ácaro e supressão da cicatrização de feridas do hospedeiro.

(A) Reprodução individual de varroa através da invasão de um alvéolo. Embora a varroa transmita vírus para pupas de abelhas e adultos (setas vermelhas), existem muitas outras rotas de transmissão do vírus, como transmissão sexual e vertical via óvulos e esperma (setas azuis), ou transmissão oral e fecal horizontal via alimentação, limpeza dos alvéolos, canibalismo (setas verdes), transmissão de contato entre adultos (setas pretas) e interações ecológicas com o meio ambiente e outros insetos (setas laranja). (B) Crescimento teórico de uma colónia saudável sem tratamentos para o ácaro Varroa com um inverno de 3 meses. As colónias no inverno normalmente consistem em abelhas adultas de inverno (azul escuro) com muito pouca criação de operárias (castanho claro) e baixas populações de varroa. Conforme surgem novas abelhas, a colónia expande-se rapidamente com abelhas adultas (amarelo) e criação. No início da primavera, a colónia começa a criar larvas de zângãos (castanho escuro), que são preferencialmente invadidas por varroa (pontos vermelhos). Após a temporada de enxameação, as abelhas param de criar zângãos, forçando a varroa a reproduzir-se na criação de operárias. À medida que os níveis de ácaros aumentam, um único alvéolo é co-infestada por várias fundadoras, circunstância onde a taxa de reprodução de cada uma é reduzida, mas a taxa de produção de crias femininas de varroas fertilizadas aumenta. No final do verão, tanto a população de abelhas quanto a área de criação contraem-se, e as infestações de varroa aumentam acima dos limites de eficácia dos medicamentos na população de abelhas adultas. As colónias criam simultaneamente criação de inverno (azul claro) que se tornam as abelhas de inverno de vida longa (azul) com uma camada extra de corpo gordo, no qual varroa se alimenta. Como a colónia pára de criar larvas, a varroa não tem lugar para se reproduzir e sua população diminui.

Alimentar-se com a gordura do corpo larval é um pré-requisito para a reprodução da varroa. Os sinais da larva da abelha desencadeiam a reprodução do ácaro e influenciam o sexo do ovo do ácaro. A determinação do sexo na varroa é por via da partenogénese arrenótoca**: os machos são haploides com sete cromossomas, enquanto as fêmeas são diplóides com 14 cromossomas. No entanto, o mecanismo genético exato (por exemplo, a existência e identidade de um locus de determinação de sexo genético distinto) permanece desconhecido.

Iniciando a oviposição
Iniciar a oviposição é uma tarefa que exige muita energia, e as varroas fundadoras obtêm essa energia metabolizando o tecido consumido das abelhas. A fundadora também requer algumas proteínas larvais e hormonas (por exemplo, a ecdisona***) para iniciar a postura de ovos. Julgamos que as fundadoras sequestram as moléculas do hospedeiro nos seus ovos, e o pico da abundância enzimática antes e depois da oviposição abastece as necessidades energéticas para a produção de ovos. Estas observações formam um quadro complexo de transporte e sequestro de nutrientes do tecido da abelha, do ácaro fundador até aos ovos.

Da direita para a esquerda: ovo; protoninfa; deutoninfa masculina (em baixo); deutoninfa feminina (em cima); macho adulto (em baixo); fêmea adulta (em cima).

A fundadora deposita o primeiro ovo haplóide aproximadamente 60-70 h após a invasão do alvéolo e dedica-se ao cuidado parental, colando este ovo na parede superior do alvéolo (o local mais seguro durante a pupação da abelha) para garantir que a protoninfa masculina possa circular no interior após a sua eclosão. Os ácaros machos frequentemente morrem durante a pupação do hospedeiro, devido ao movimento da pupa que bloqueia o seu acesso ao local de alimentação. A fundadora então põe um ovo diplóide a cada 30 h , depositando-os mais abaixo na parede do alvéolo. Quando a primeira fêmea amadurece, ela acasala com seu irmão na pilha fecal (guanina) comunitária. Os machos acasalam quase exclusivamente com fêmeas mais novas à medida que surgem e param de acasalar com as fêmeas mais velhas. Se o macho é desalojado ou morre, as fêmeas emergem sem acasalar. Anteriormente, acreditava-se que estas varroas não fertilizados eram incapazes de acasalar logo que saissem do alvéolo, portanto nunca produziriam descendentes viáveis, nem mesmo machos haplóides. Uma nova pesquisa demonstra que as fêmeas varroa virgens podem colocar ovos haplóides partenogénicos e depois acasalar com seu filho, produzindo filhas viáveis ​​em condições de laboratório. Os ácaros nem sempre iniciam a oviposição após a invasão do alvéolo, provavelmente devido à interrupção na comunicação química. De fato, a oviposição pode ser interrompida experimentalmente pela aplicação de (Z) -8-heptadeceno aos alvéolos de criação antes do seu selamento, e outros compostos podem interromper o comportamento de busca do hospedeiro.

Em condições de laboratório, um ácaro fêmea pode ter até sete ciclos reprodutivos durante sua vida e colocar até 30 ovos. No momento em que ela amadurece pela primeira vez, ela recebe de 30 a 40 espermatóforos**** por meio de acasalamentos múltiplos com o (s) macho (s) presentes no alvéolo, que ela armazena e usa durante sua vida. Na criação de operária de A. mellifera, uma fundadora com sete ciclos reprodutivos teoricamente produziria ~ 5-10 filhas maduras, ou ~ 10-17 filhas maduras em criação de zângão. No entanto, em condições de campo, cada ácaro tem apenas ~ 1,5 a 3 ciclos reprodutivos.

Fase de Dispersão
Quando uma abelha melífera parasitada emerge do seu alvéolo, ela carrega os ácaros fêmeas maduros (mãe e filhas). As filhas frequentemente mudam para uma abelha em idade de ama/nutriz para ativar seus ovários, permitir que os espermatóforos amadureçam e, nesta fase, vão alimentando-se nestas abelhas adultas. Por muito tempo, acreditou-se que varroa era um parasita semelhante a um carrapato, que se alimentava da hemolinfa. No entanto, o aparelho bucal e o sistema digestivo da Varroa são estruturados como os dos organismos que se alimentam de tecido semissólido por meio de digestão extraoral. Os resíduos/dejectos da Varroa consistem predominantemente de guanina com traços de hipoxantina, ácido úrico e cafeína, sugerindo uma dieta rica em proteínas com pouca água. Uma pesquisa recente derrubou a crença de décadas de que Varroa se alimenta exclusivamente de hemolinfa, demonstrando que a alimentação no corpo gordo (ver aqui publicação) é necessária para a produção de ovos de varroa e que o tecido do corpo gordo foi detectado consistentemente dentro do intestino de ácaros quando se alimentam nas abelhas adultas. A inspeção dos locais de alimentação de varroa revelou orifícios de alimentação entre as placas abdominais sobrepostas da abelha e células degradadas do corpo gordo abaixo da membrana intersegmentar, provavelmente devido à digestão extraoral pela saliva do ácaro.

Vista ao microscópio electrónico do corpo gordo de uma abelha.

fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S147149222030101X#bb0450

Notas:

* Cairomona: composto semioquímico (que comunica algo), emitido por um organismo, que funciona como mediador de interações interespecíficas de forma a beneficiar um indivíduo de outra espécie que o recebe (neste caso o ácaro varroa) e prejudica o emissor (neste caso a larva da abelha/zângão).

** Partenogénese arrenótoca: origina apenas machos, como por ex. os zângãos na espécie Apis mellifera.

*** Ecdisona: hormona esteroide, que estimula a muda e as metamorfoses, segregada por duas glândulas do tórax dos insetos.

**** Espermatóforo: é uma cápsula ou massa produzida pelos machos de várias espécies de invertebrados que contém espermatozoides sendo integralmente transferida para o oviporo da fêmea durante a cópula.

tratamentos para a varroose: a experiência de Bob Binnie

Nesta recente conversa de Bob Binnie, que me foi sinalizada pelo Marcelo Murta, uma parte importante da mesma é dedicada a considerações interessantes sobre diversos tratamentos/medicamentos, a saber: toalhetes de ácido oxálico misturado em glicerina (propostos e desenvolvidos por Randy Oliver); Apivar; Apiguard; ácido oxálico sublimado.

Os toalhetes de ácido oxálico misturado em glicerina foram submetidos a um estudo de eficácia pela Universidade da Geórgia em colónias fornecidas pelo Bob Binnie. Os resultados foram muito pouco satisfatórios como revela o próprio. A elevada humidade da região é a razão provável para estes maus resultados. Randy Oliver já havia referido, há algum tempo atrás no seu blog e/ou Bee-L, resultados decepcionantes deste veículo de ácido oxálico em territórios com elevada humidade ambiental, contudo sugere outra explicação, como veremos noutra publicação a surgir num futuro próximo. O Randy está novamente a ensaiar a opção de um veículo em cartão, opção mais próxima da originalmente proposta pela cooperativa argentina que tornou conhecida esta modalidade de tratamento com o nome Aluen Cap.

Sobre o Apivar, Binnie refere que na aplicação que fez no passado mês de agosto a sua eficácia não foi tão boa como tem sido no passado. Apesar disso diz que vai voltar a utilizá-lo este próximo mês de agosto. Nas entrelinhas da conversa parece-me que está céptico em relação à tese de estar na presença de varroas resistentes ao amitraz.

Relativamente ao Apiguard, faz a habitual recomendação acerca do cuidado que deve haver quando se aplica com temperaturas elevadas, isto é temperaturas acima dos 30ºC-35ºC, e recomenda um regime de aplicação de metade da dose (25 gr.), repetida três vezes, com uma renovação da dose 7 a 10 dias após o início da aplicação anterior. Esmiuçando para ficar muito claro, significa por ex. colocar a primeira dose de 25 grs. dia 1, renovar com segunda aplicação dia 8 e, finalmente, aplicar terceira dose dia 15.

Fogger ou nebulizador/vaporizador

Quanto ao tratamento por sublimação do ácido oxalico com o “fogger”, Joe May refere a simplicidade na sua utilização, mas com resultados inconsistentes devido a um débito inconstante destes nebulizadores. Por seu lado Bob Binnie aponta a baixa eficácia de vários programas de tratamento com ácido oxálico sublimado na presença de criação (não me surpreende! Já desde 2016 que leio relatos de resultados insatisfatórios no Beesource). Os programas de tratamento com sete dias de intervalo, repetidos por três vezes, são um fracasso de acordo com a sua opinião. Mais, refere um estudo conduzido por Jennifer Berry, ainda por publicar, onde se avaliou um regime 5 a 6 de aplicações a cada cinco dias e no qual não se conseguiu baixar a taxa de infestação. Refere que o número de ácaros no final das rondas era igual ao número de ácaros presentes no início do tratamento. Refere que alguma investigação tem identificado uma fase de dispersão dos varroas (fase forética) de apenas 4 dias. Posso acrescentar a este propósito que testes em laboratório identificaram varroas com a fase de dispersão a durar menos de 24 horas — ver Rosenkranz et al., 2010, num artigo que permanece um dos melhores feitos até à data sobre o ciclo de vida e biologia deste irredutível inimigo das abelhas. Bob Binnie diz que Jennifer Berry vai prosseguir a sua investigação e reduzir os intervalos entre aplicações a 3 dias. Isto significa que para apanhar um ciclo completo de criação (21 dias para obreiras e 24 dias para os zângãos) serão necessário fazer entre 7 a 8 aplicações de um ácido muito potente sobre as abelhas e sua rainha. Para além dos custos em tempo, trabalho, deslocações e gasto de material, fico apreensivo sobre os efeitos que poderá ter sobre o elemento mais longevo da colónia, a rainha, 7 a 8 aplicações de um químico tão potente como é o ácido oxálico em tão curto espaço de tempo. Caso fosse eu a dirigir este programa quereria avaliar também eventuais efeitos sub-letais deste regime intensivo de aplicações de ácido oxálico sobre as rainhas.

Felizmente há um maneio alternativo, entre outros, muito mais amigável para as abelhas e creio também para o apicultor, para quem deseje utilizar o ácido oxálico sublimado numa fase da vida da colónia em que há muita criação operculada presente.

o canibalismo pupal por abelhas operárias contribui para a propagação do vírus das asas deformadas

Em consequência de muitas das nossas acções existem os chamados “efeitos/ danos colaterais”. Uma das poucas certezas que tenho acerca do maneio apícola é a de que provocamos frequentes danos colaterais, muitos deles de pouca monta e compensados pelos benefícios trazidos. Contudo alguns têm um impacto grave de difícil observação e quantificação e diferidos no tempo — ver o caso do maneio de troca de quadros com criação/reservas entre colónias, com uma delas num estádio de doença contagiosa. O resumo de um estudo recentemente publicado* dá-nos a conhecer os danos colaterais decorrentes do comportamento VSH presente em linhagens de abelhas resistentes ao ácaro Varroa.

Resumo: As rotas de transmissão afetam a virulência e a genética do patógeno, portanto, o conhecimento abrangente dessas rotas e sua contribuição para a circulação do patógeno é essencial para compreender as interações patógeno-hospedeiro e desenvolver estratégias de controle. O vírus das asas deformadas (VAD), o principal patógeno viral das abelhas associado ao aumento da mortalidade das abelhas e à perda de colónias, tornou-se altamente virulento com a disseminação de seu vetor, o ácaro ectoparasitário Varroa destructor. A reprodução dos ácaros Varroa ocorre no interior dos alvéolos de criação operculada e pupas infestadas por ácaros no interior dos alvéolos geralmente têm altos níveis de VAD. A remoção de pupas infestadas por ácaros por abelhas operárias, designado comportamento Varroa Sensitive Hygiene (VSH), leva à canibalização de pupas com altas cargas de VAD, oferecendo uma via alternativa para a transmissão do vírus. Usamos VAD geneticamente marcado para investigar a transmissão do vírus para e entre as abelhas operárias após a canibalização da pupa em condições experimentais. Demonstramos que a canibalização de pupas infectadas com VAD resultou em níveis elevados desse vírus em abelhas operárias e que o vírus adquirido foi então transmitido entre as abelhas via trofalaxia, permitindo a circulação de variantes VAD inicialmente transmitidos por Varroa mesmo após a eliminação dos ácaros. Apesar dos benefícios conhecidos do comportamento higiénico, é possível que níveis mais elevados de atividade do comportamento VSH possam resultar no aumento da transmissão de VAD via canibalismo e trofalaxia.

(a) Canibalização de pupas de abelhas por abelhas operárias. (b) Cargas médias de RNA de VAD em pupas de abelhas operculadas sem varroa [coluna à esquerda] e cargas médias de RNA de VAD em pupas de abelhas desoperculadase e parcialmente canibalizadas por abelhas com comportamento VSH.

fonte: https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2020.11.25.396259v1.full

Ocorrem-me duas reflexões de natureza práticas a propósito dos dados recolhidos por este estudo:

  • A primeira tem a ver com os possíveis danos colaterais da prática da “raspagem de criação de obreira”, técnica relativamente em voga no país vizinho, utilizada para controlar a infestação por varroa, em particular no final do verão. Sobre este aspecto faço minhas as palavras de Randy Oliver, o apicultor que popularizou a técnica, mas que depressa a abandonou: “As descobertas deste excelente conjunto de experiências confirmam o que observei no campo quando experimentámos raspar a criação operculada em colónias infestadas de ácaros para criar uma paragem artificial de criação para o controlo da varroa. As colónias diminuíram rapidamente a sua força, e suspeito ter sido a transmissão do VAD quando as abelhas adultas canibalizaram / limparam as pupas estropiadas dos favos pelo processo de raspagem da criação.” Randy Oliver
  • A segunda está associada aos possíveis danos colaterais da prática da raspagem da criação de zângãos nos quadros-armadilha preparados para a sua criação intensiva, quando o apicultor opta por recolocá-los na colónia logo após a raspagem ou após um período prévio de congelação. Sobre os danos colaterais da primeira alternativa a explicação está dada no ponto prévio. A respeito da alternativa, a da congelação do quadro e posterior re-colocação na colónia para as abelhas o limparem, tanto quanto sei não há uma garantia credível que os vírus sejam eliminados, ou mais precisamente, definitivamente desactivados pelo processo de congelação — conhecem-se vírus que não são desactivados por congelação. Supondo que a congelação também não desactiva o VAD, ao re-colocarmos os quadros nas colónias para serem limpos pelas abelhas, estas no processo de limpeza vão morder e despedaçar as larvas mortas com ziliões de vírus no seu interior. Esta carga viral vai entrar nas abelhas e re-iniciar o seu processo de sua replicação. Que fique claro que não estou a dizer que aconteça, estou a colocar a hipótese de acontecer. Parece-me portanto que a questão que importa para quem utiliza este processo é: este vírus fica definitivamente inactivado pelo processo de congelação?

* dada a sua recenticidade esta publicação ainda não foi submetida à revisão pelos pares.

avaliação de alimentos comerciais utilizados em apicultura (em Portugal)

Este estudo, levado a cabo por uma equipa de investigadores portugueses liderada pelo Prof. Paulo Russo de Almeida (UTAD, Vila Real), já é do conhecimento de alguns entre nós. Ainda assim, e nesta altura em que me encontro a suplementar frequentemente as minhas colónias com pasta de açúcar (fondant), achei muito oportuno voltar a relê-lo e publicá-lo. O estudo definiu como critério de avaliação da qualidade dos alimentos os seus efeitos na longevidade das abelhas. Nós no campo não conseguimos utilizar este critério, por razões óbvias. Substituímos um critério pertinente por este outro de pertinência muito duvidosa: “é um alimento muito bom porque o comem muito depressa”. Como nós, as abelhas também podem ser enganadas pela boa palatibilidade de um determinado alimento, consumirem-no rapidamente, ainda que do ponto de vista nutricional o alimento seja medíocre e eventualmente tóxico.

Pão-de-abelha de diversas origens botânicas, o melhor alimento proteico que as abelhas conhecem até à data. Muito abundante no território onde tenho as minhas colónias, em especial a partir de meados de fevereiro, aspecto que me dispensa a utilização de suplementos proteicos.

Resumo: O estado nutricional de uma colónia é reconhecido como um fator chave para garantir uma colmeia saudável. Assim, é natural que se verifique por parte dos apicultores um incremento na procura de suplementos alimentares para colmatar os desequilíbrios nutricionais de acordo com os objetivos desejados pelos mesmos. As empresas ligadas à apicultura têm demonstrado uma enorme capacidade para responder a essa procura, verificando-se uma escalada crescente e agressiva no número de produtos comercializados, fruto também da baixa regulamentação de produtos alimentares para animais. Atualmente estão disponíveis mais de 40 produtos no mercado Português, com uma composição muito variável e por vezes mesmo indefinida, alegando um conjunto de ações ao nível de estimulo à criação, suplemento energético, suporte à criação de rainhas, melhoria da qualidade de postura redução de níveis de reprodução de varroa, melhoria da microflora intestinal das abelhas, prevenção da Nosemose, melhoria da saúde de colmeias infestadas por Loque americana, entre outras. Face a esta realidade o projeto ApisCibus, financiado pelo PAN (Programa Apícola Nacional), no qual intervêm a FNAP, como entidade preponente, o IPB como coordenador científico e a UTAD como parceira científica, pretende avaliar nutricionalmente alimentos presentes no mercado português. Neste trabalho são apresentados os resultados preliminares entretanto obtidos.

A metodologia utilizada segue as recomendações de um grupo de especialistas apícolas da comunidade científica internacional COLOSS. Os alimentos são avaliados de acordo com a longevidade das abelhas que os ingerem. As abelhas (Apis mellifera iberiensis) utilizadas neste estudo, nasceram em estufa à temperatura de 35 oC e humidade de 70%, num período de 10 horas sem acesso a alimento. Após o nascimento foram homogeneizadas e aleatoriamente distribuídas por gaiolas num total de 50 abelhas por gaiola.

Foram realizados 2 ensaios, no primeiro forneceu-se um alimento e água a cada gaiola com abelhas e envolveu 14 alimentos (9 energéticos e 5 proteicos); no segundo ensaio, a cada gaiola foi fornecido um alimento proteico e um energético, mais água, num total 20 gaiolas, tendo-se efetuado 2 réplicas.

Os resultados sugerem que com a utilização de alimentos energéticos se obtém uma longevidade superior à dos alimentos proteicos. Em geral, observou-se uma sinergia positiva quando se associou um alimento energético a um proteico, mas verificou-se uma exceção em que alimentos energéticos sozinhos apresentaram maior longevidade do que quando associados a um proteico o que sugere uma eventual toxicidade do segundo. O pólen quando combinado com um alimento energético mostrou ser o alimento proteico com maior capacidade para manter as abelhas vivas.

fonte: https://www.uc.pt/ffuc/congresso_iberico_de_apicultura/documentos/V_CIA_2018_livro_resumos.pdf

Nota: ainda que tenha deixado de utilizar alimentação líquida há uns anos, para aqueles que entre nós fazem “xarope caseiro” com água e açúcar branco refinado, refiro que não é necessário fervê-lo e invertê-lo. A fervura pode tornar a mistura tóxica, a inversão dos açucares diminui a longevidade das abelhas. Um caso mais em que as abelhas são enganadas pela palatabilidade de um alimento que o apicultor tornou medíocre e/ou tóxico.

adaptação local da Abelha Ibérica (Apis mellifera iberiensis): uma experiência de translocação recíproca

Um dos leitores das publicações do abelhas à beira, Tó Zé da Frágua, ligou-me há umas três semanas para trocarmos ideias, e perguntou-me se conhecia algum estudo que avaliasse o desempenho de rainhas locais comparado com o desempenho de rainhas não-locais. Na altura só me ocorreu o que tinha lido em estudos realizados nos EUA. Contudo, no último Congresso Ibérico de Apicultura realizado em Portugal foi apresentado este estudo levado a cabo no nosso país.

A foto em baixo espelha a postura de uma das rainhas criadas por mim e que em regra têm bom desempenho, mas tenho também experiências positivas com rainhas compradas a um criador da Beira Litoral e a um outro da Beira Baixa — em regra faço apenas questão que sejam fecundadas pelos zângãos locais.

Postura de rainha nova. Um detalhe: nesta altura já se começa a ver a abóbada de mel e pólen, que irá crescendo à medida que o verão for entrando. De imprevidente, a estas abelhas adaptadas, não lhes conheço nada (foto e texto de junho do ano passado).

Resumo: Na Europa, várias experiências de translocação recíproca com diferentes subespécies de abelha melífera (Apis mellifera L.) têm demonstrado a existência de adaptação local, sobretudo quando a pressão de selecção é mais forte devido, por exemplo, a novas doenças e parasitas, agroquímicos, ou rápidas mudanças climáticas. Contudo, até agora nenhum desses estudos abrangeu a subespécie da Península Ibérica, Apis mellifera iberiensis. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a existência de adaptação local em A. m. iberiensis. Em 2015 foram instalados dois apiários, com 36 colónias cada, em dois extremos latitudinais de Portugal: Bragança e Vila do Bispo*. As 36 colónias (18 da origem Bragança e 18 da origem Algarve) foram avaliadas para várias características durante um ano. Entre as características avaliadas incluem-se o número de alvéolos com mel, produção de mel, e o peso mensal das colónias. Na análise destas características foram usadas duas abordagens: (i) comparação entre as duas origens no mesmo apiário e (ii) comparação da mesma origem entre os dois apiários. Os resultados indicam que embora as três características possam sugerir uma interação genótipo-ambiente, apenas a produção de mel e o peso da colónia demostraram adaptação local, uma vez que as abelhas locais tiveram um melhor desempenho no seu apiário de origem. Adicionalmente, verificou-se que as diferenças entre as duas origens foram mais evidentes no ambiente considerado menos hostil (Vila do Bispo), onde cada colónia pode expressar todo o seu potencial genético.

fonte: https://bibliotecadigital.ipb.pt/handle/10198/18031

Nota: * Vila do Bispo é uma vila portuguesa no distrito de Faro.

sam: uma ferramenta para melhorar abelhas num futuro próximo

Tendo ficado apeado, com as chaves da pick-up no interior da carrinha, e as portas inexplicavelmente trancadas (tenho um comando de portas com vontade própria?), ocupo-me a limar alguns rascunhos por publicar. Este deu-me algum trabalho, mas muito gosto a escrever. Boa leitura!; eu vou continuar a limar arestas de futuras publicações enquanto espero que me tragam a segunda chave!

Não sou um grande crente nas proclamações de selecção e melhoria de abelhas que se fazem na actualidade, em Portugal e no estrangeiro. Neste cepticismo estou acompanhado por Keith Delaplane, entre outros (ver a palestra nesta publicação de 2019). Por exemplo, nos últimos vinte anos diversos programas de melhoria de abelhas no que respeita à resistência ao ácaro varroa produziram resultados decepcionantes. Como poderei fazer outra avaliação se após duas décadas de trabalho se identifica de forma comprovada apenas uma região onde persistem linhas resistentes: Gorgona, em Itália (ver o artigo Geographical Distribution and Selection of European Honey Bees Resistant to Varroa destructor, publicado em dezembro de 2020, de Yves Le Conte e Ralph Büchler, dois dos maiores especialistas neste domínio)?

Dito isto, acredito que num futuro próximo iremos assistir a desenvolvimentos importantes na nossa capacidade de selecção e melhoramento de abelhas. A genómica em geral e a Seleccção Assistida por Marcador (SAM) em particular fazem já parte do presente, e estão a ser utilizados para nos ajudar e capacitar a fazer esse melhoramento de forma económica e confiável. É sobre esta ferramenta a Seleccção Assistida por Marcador o conteúdo desta publicação.

“Selecção Assitida por Marcador é o uso de um marcador molecular* que é conhecido por estar associado a uma característica comercialmente importante para identificar indivíduos portadores de um genótipo desejado. A capacidade de selecionar indivíduos superiores diretamente e com base nos seus genótipos permite a possibilidade de ganhos substanciais no melhoramento das abelhas. Uma vez que os marcadores moleculares para uma característica estejam identificados, eles podem ser usados para facilitar a avaliação do valor reprodutivo (breeding value) estimado das colónias. Esta capacitação terá o maior valor para características comportamentais que são difíceis de quantificar com precisão. Além disso, rainhas e zângãos podem ser genotipados antes do acasalamento (Oldroyd e Thompson, 2007), proporcionando uma intensidade selectiva muito forte (Lande e Thompson, 1990) e ganhos mais rápidos na melhoria de características.

fonte: The Genetic Architecture of Honeybee Breeding, Peter R. Oxley and Benjamin P. Oldroyd, Behaviour and Genetics of Social Insects Laboratory, School of Biological Sciences, The University of Sydney, New South Wales, Australia

* marcador genético/molecular: historicamente, o princípio da utilização de marcadores genéticos está baseado no dogma central da biologia molecular, no princípio da replicação do DNA, e na pressuposição de que estes marcadores refletem alterações nas sequências do DNA podendo muitas vezes resultar em diferenças fenotípicas. A partir disto, dados morfológicos e bioquímicos também servem como marcadores genéticos. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcador_genético)

Um estudo de caso de colónias de abelhas canadianas

A criação seletiva de abelhas produtoras de mel é atualmente usada por um pequeno grupo de criadores de rainhas que escolhem características com base em comportamentos exibidos por abelhas no campo (Seleção Assistida em Campo ou SAC). Existem diversos obstáculos a esta metodologia como os custos, recursos e eficácia que limitam a adoção generalizada de testes baseados em campo, resultando em que poucos criadores se empenham na metodologia SAC e menos ainda em resultados precisos e eficazes (Spivak e Gilliam 1998, Pernal et al. 2012). O teste de campo para comportamento higiénico, em particular, depende de um teste específico de características que não pode ser usado para testar outras características, como produção de mel ou defensividade, tornando o processo de teste para características múltiplas muito exigente em recursos.

Uma alternativa aos testes de campo é o uso de diagnósticos moleculares, especificamente a Seleção Assistida por Marcador (SAM), que usa marcadores moleculares para auxiliar na identificação de colónias que apresentem características específicas de interesse ou a falta de características indesejáveis ​​(por exemplo, defensividade). A seleção assistida por marcadores em abelhas é baseada em marcadores de proteínas e tem o potencial de fornecer uma capacidade de seleção mais rápida na criação de rainhas do que a metodologia SAC, pois permite aos criadores testar um número maior de colónias, abrangendo e maximizando a diversidade genética no pool de seleção . Uma vez identificados os marcadores adicionais, os testes de marcadores podem incluir uma série de características diferentes simultaneamente (como comportamento higiénico, produção de mel e mansidão) e podem ser avaliados por monitorização de múltiplas reações na mesma análise sem aumento de custo (Parker et al. 2014 ) Uma vez que uma característica hereditária tenha sido identificada e ligada a marcadores específicos de proteína por pesquisadores, os apicultores podem colectar e enviar amostras de abelhas para um laboratório de diagnóstico para teste. Os resultados podem então ser usados ​​para rastrear colónias de reprodutores com potencial, de acordo com as próprias prioridades de reprodução do apicultor ou índice de seleção.

[…]

Uma equipe de cientistas canadianos identificou recentemente marcadores nas antenas de abelhas que correspondem a características comportamentais em abelhas e podem ser testados em laboratório. Esses cientistas demonstraram que esta seleção assistida por marcador (SAM) pode ser usada para produzir colónias de abelhas melíferas higiénicas e resistentes a patógenos. Com base nesta pesquisa, apresentamos um estudo de um caso de apicultura onde a função de lucro de um apicultor é usada para avaliar o impacto económico da adoção de colónias selecionadas para comportamento higiénico usando SAM num apiário. Nossos resultados mostram um ganho de lucro líquido de colónias SAM entre 2% e 5% quando os ácaros Varroa são tratados de forma eficaz. No caso de tratamento ineficaz, o SAM gera um benefício de lucro líquido entre 9% e 96%, dependendo da carga de Varroa. Quando uma população de ácaros Varroa desenvolveu alguma resistência ao tratamento, mostramos que as colónias SAM geram um ganho de lucro líquido entre 8% e 112% dependendo da carga de Varroa e do grau de resistência ao tratamento.

[…]

Ferramentas de reprodução com seleção assistida por marcador (SAM) têm o potencial de aumentar o lucro da colónia e reduzir a mortalidade, o que pode contribuir positivamente para a viabilidade da indústria apícola, particularmente em face do aumento das infestações de Varroa e o risco de resistência aos tratamentos. “[…] 

fonte: https://academic.oup.com/jee/article/110/3/816/3073489

Notas:

  • esta publicação decorre desta outra;
  • em conjunto com um pequeno grupo de amigos, em 2016, talvez tenha sido dos primeiros a tentar introduzir uma linhagem resistente em Portugal. Os resultados foram maus! Ou a proclamação feita pelo criador, John Kefuss, era exagerada ou a hibridação com zãngãos nacionais diluiu ou eliminou o efeito aditivo e/ou epistático dos genes envolvidos na característica. Por feitio acredito mais na segunda hipótese.

as colónias mais fortes do apiário: projecções de maneio

Anteontem e ontem, tenho andado focado na suplementação das colónias com hidratos de carbono, na forma de pasta alimentar e, em alguns casos, coloco também um quadro ou dois com mel. Ontem esta tarefa permitiu-me, nos apiários a 600 m de altitude e com as temperaturas entre os 16-18ºC, ver um pouco mais profundamente algumas colónias, em particular as mais fortes. A publicação de hoje vai focar-se nestas colónias mais fortes e nas projecções de seu maneio neste período de final de inverno e início de primavera.

As colónias fortes e muito fortes, uma forma rápida de designar colónias com 8 ou mais quadros de abelhas e com 4 a 5 quadros com áreas expressivas de criação de novas abelhas, representam cerca de 20-25% do total de colónias neste momento — momento este em que, habitualmente, se inicia um forte fluxo de pólen neste território.

Foto de ontem de uma colónia muito forte, na configuração de duplo ninho do modelo Lusitana. Passou o outono/inverno nesta configuração.
Foto de ontem de uma colónia muito forte, na configuração de duplo ninho do modelo Langstroth. Passou o outono/inverno nesta configuração.
Foto de ontem de uma colónia forte, na configuração de ninho simples do modelo Langstroth.

Com alguns anitos de apicultura a tempo inteiro “no meu cinturão” mal seria se não tivesse aprendido uma coisa ou meia! Por exemplo, aprendi que deixando estas colónias evoluírem “naturalmente”, ao seu gosto, sem freios, pouco ou nenhum mel irão produzir em abril/maio. Isto porque, ainda antes da entrada do principal fluxo de néctar, uma boa parte delas já terão enxameado. Ainda assim, estas colónias são-me muito úteis nestes próximos 30-45 dias, em particular para efectuar os maneios de equalização (entre outras publicações sobre a equalização, esta é a mais recentemente publicada) e criação de novos núcleos populacionais. Cada coisa é para o que nasce, costuma dizer-se, e estas colónias que cresceram de forma temporã, serão preciosas para estes maneios que tanto aprecio realizar. Para produzir mel estão as outras, as que agora estão médias ou fracas e que estarão em “ponto de rebuçado” para daqui a 60 dias se afincarem na colecta do primeiro fluxo importante por cá.

Foto de ontem de um quadro de uma colónia forte do modelo Lusitana onde, para além da bonita mancha de criação de obreira, observo criação fechada de zângão. Desconfio que 30 a 40 dias após o inicio da criação de zângãos, a “mentalidade” desta colónia é a de que reuniu boa parte das condições para se cindir/reproduzir.
Foto de ontem de um quadro de um núcleo do modelo Langstroth, onde se pode ver pão-de-abelha recentemente ensilado.

Dado o acentuado e rápido crescimento que noto nas colónias, típico desta altura do ano, estou em crer que a proporção dos diversos aminoácidos presentes no pólen deste território deve estar próximo do perfil ideal e surge com a devida antecipação. Dado que nada mais faço para as estimular nutricionalmente — há vários anos que não utilizo alimentação líquida 1:1, nunca utilizei suplementação proteica, promotor L que tipo de eletrodoméstico é ? — que melhor explicação que a da qualidade do pólen que a Natureza tão generosa e atempadamente fornece?

No topo da fotografia vemos o segredo da estimulação das minhas colónias nas patitas da abelha. Mais ao centro… a mãe – já agora refiro que quando tiro uma foto de um quadro com criação tenho que ter a certeza que a mãe anda noutro quadro, e só tenho essa certeza vendo que ela anda nesse outro quadro, ou em alternativa vou ter que sacudir todas as abelhas do quadro que pretendo fotografar.