as filhas temporãs ou as rainhas de enxameação

Nesta publicação descrevi a enxertia de mestreiros em duas colónias-núcleo no passado dia 17 de abril. Anteontem verifiquei que andava uma rainha em postura em cada uma delas.

A sequência de acontecimentos: no dia 02-04 eliminei a rainha deste núcleo; a 5 introduzi uma rainha virgem; como não deu resultado a 15 re-introduzo outra virgem; a 17 introduzo mestreiro enxertado porque verifiquei que a rainha estava morta dentro da gaiola. Basicamente procurei dar resposta aos déficites existentes com os recursos disponíveis no momento.

Ontem, um desses núcleos foi passado para uma caixa-colmeia.

O núcleo…
A rainha…
A postura e a criação aberta…
Da caixa-núcleo para a caixa-colmeia.

Em conclusão e remetendo para o conteúdo da publicação da hiper-ligação em cima, as abelhas guardaram e defenderam mestreiros com rainhas viáveis das intenções destrutivas das diversas rainhas virgens nascidas horas ou até dias antes.

Estas rainhas enxertadas provêm de mestreiros de enxameação! Óptimo, são as rainhas melhor alimentadas e melhor criadas de todas as que podemos deitar a mão — muito provavelmente têm um número de ovaríalos acima da média. Óptimo, porque este ano vão fazer crescer a sua família a um ritmo tal que provavelmente me vão dar uma ou duas meias-alça no castanheiro. Óptimo, porque no próximo ano antevejo que estas rainhas arranquem precocemente e me ajudem a equalizar outras colónias que se foram mais abaixo durante o inverno e/ou apresentem um arranque mais lento e tardio. Óptimo, serão colónias ideais para trabalhar com ninho e sobreninho logo em março, e colónias que dedicarei aos desdobramentos pela técnica Doolittle relativamente cedo, em meados de março — estes desdobramentos não multiplicarão a sua herança genética, apenas aproveitará a sua produção, abelhas e quadros com criação. Aproveito sem rebuço, e com este sentido estratégico, algumas rainhas provenientes de mestreiros de enxameação. Há quem lhe chame linhas enxameadoras, eu prefiro chamar-lhe linhas precoces.

Nota: nesta publicação não estou a falar de colónias que apresentam mestreiros de enxameação com meia-dúzia de quadros mal preenchidos de abelhas e /ou que enxameiam duas vezes no mesmo ano. Aos anos que não vejo colónias dessas nos meus apiários. Nesta publicação falo de colónias que sobreviveram saudavelmente ao inverno, saem dele mais desenvolvidas que a média, e são uma fonte temporã do recurso mais precisoso da apicultura à saída do inverno no meu território: abelhas.

ozono: um tratamento eficaz da varroose?

Em 2015, no Beesource, o inventor de um equipamento de tratamento da varroose por meio do ozono, Luigi Conelli, publicou esta afirmação: “

O “ozonador ” do Sr. Luigi Conelli. Um ozonador amarelo-ferrari com um preço de Ferrari!

Concluímos nossos testes usando ozono em abelhas. Os resultados são muito interessantes. Aplicando 20 minutos de ozono nas colmeias, quando todas as abelhas estão dentro, observámos como resultado a morte de todas as varroa dentro das colónias por um longo período, mais de 21 dias. Todos os estádios de varroas caíram mortas depois de algumas horas.
Observámos colónias sem varroa, loque europeia, loque americana, Nosema sp. ect.
(Luigi Conelli, Beesource, 13-07-2015)

Fez também afirmações peremptórias que o dito tratamento ao mesmo tempo que era eficaz na eliminação das bactérias nocivas, preservava vivas as bactérias benéficas presentes na colmeia!!! Achei, como outros companheiros do Beesource, que este tipo de afirmações extraordinárias requeriam provas igualmente extraordinárias. Tanto quanto é do meu conhecimento o Sr. Conelli nunca as apresentou, e acabei por me desinteressar, esquecer e continuar a tratar a varroose como sempre o fiz, “dentro da caixa”!

Contudo, recentemente num grupo de apicultura português, surgiu de novo a indagação sobre esta técnica. Lembrei-me das afirmações do inventor em 2015, estranhando que de lá para cá quer a técnica quer o equipamento tenham caído no quase completo anonimato — que em Itália e noutras partes do mundo os apicultores não tenham testemunhado massivamente a sua satisfação — e procurei informação em língua inglesa sobre esta técnica para o tratamento da varroose, não fosse dar-se o caso de que entre 2015 e a actualidade tenha merecido a atenção de alguma equipa de investigação independente. Não encontrei nada no Google Scholar, o sítio onde estão acessíveis uma grande quantidade de estudos científicos — e para um equipamento tão “super-hiper” achei no mínimo isto muito bizarro! Ontem lembrei-me de pesquisar em língua italiana, uma vez que o inventor é italiano. Terá sido feito algum teste, com o devido controle, no país do inventor? E sim, esse teste foi feito em 2015, por uma equipa de investigadores do Istituto Zooprofilattico Sperimentale del Lazio e della Toscana “M. Aleandri”  e do Istituto Superiore di Sanità. Sobre a eficácia na eliminação das bactérias de loque europeia os resultados são decepcionantes. Sobre a eficácia na eliminação dos esporos da loque americana idem aspas. Contudo o que mais me interessou foi saber sobre o efeito acaricida da aplicação do ozono durante 20 minutos em colónias de abelhas. Em baixo deixo a tradução de um excerto publicado na revista Apitalia em fevereiro de 2016, com os resultados obtidos.

“Cinco colmeias sem criação foram tratadas com ozono, aplicando-o diretamente na colmeia durante 20 minutos e seguindo as instruções do fabricante do instrumento utilizado.
Algumas colmeias usadas como controle não foram tratadas. Para avaliar a eficácia acaricida do ozono, foi realizado um tratamento 14 dias após a administração do ozono, com Apibioxal e Apivar. A eficácia acaricida obtida com o tratamento com ozono foi igual a 4,9% ± 0,8%, enquanto a queda natural encontrada no grupo controle não tratado foi igual a 4,8% ± 0,7%. A diferença de eficácia entre o grupo tratado com ozono e o grupo de controle não foi estatisticamente significativa.

A força das colmeias observadas, as populações de abelhas adultas dos dois grupos experimentais e de controlo, foi avaliada no dia do tratamento e no final do período estimado para testar a eficácia do ozono (igual a 14 dias) segundo o método descrito por Delaplane et al., 2013.

No grupo tratado com ozono houve uma redução maior na quantidade de abelhas adultas do que no grupo controle, embora não significativa. A mortalidade aguda de abelhas foi avaliada pelo cálculo do número de abelhas mortas que caíram nos dias seguintes ao tratamento, colocando recipientes especiais, chamados cestos em gaiola, colocados à frente das colmeias. Não foi encontrado nenhum fenómeno agudo de mortalidade devido ao tratamento.
A mortalidade das abelhas rainha também foi avaliada no final do período de tratamento. Não se verificou a mortalidade de rainhas, tanto no grupo tratado quanto no grupo controle.
” (fonte Apitalia, 2/2016, https://www.izslt.it/apicoltura/wp-content/uploads/sites/4/2018/06/5.-Applicazione-dellozono-in-apicoltura-risultati-preliminari.pdf)

Em conclusão, ao contrário do que eu temia este tratamento, nas doses e na duração preconizada pelo inventor, não matas as abelhas, o que já é bom… tirando o facto que também não mata as varroas.

uma breve conversa: o que aprendo e ouço aos melhores apicultores norte-americanos

Paul Hosticka

Eu não dou a mínima para o que faz alguém que perde mais de 30% de suas colónias.Paul Hosticka

Nesta era de sensacionalismo, concordo plenamente! Especialmente ignoro aqueles que parecem nunca aprender a melhorar.
Aqui na Califórnia, existem apicultores que cumprem os seus contratos de polinização de amendoeiras de forma confiável ano após ano. Se cometerem um erro e perderem colónias, eles entendem o porquê, e deitam as culpas apenas a si mesmos.
Copie o sucesso — há muitos apicultores bem-sucedidos por aí,
silenciosamente mantendo colmeias saudáveis e ganhando dinheiro.
Randy Oliver, Grass Valley, CA
530 277 4450
ScientificBeekeeping.com

in Bee-L (01-05-2021)

Nota: uma força muito grande ao Randy, neste momento difícil da sua vida. Que supere rápida e totalmente o grande desafio de saúde que tem pela frente.

grelhas excluidoras: limitando as rainhas sem as limitar

Na utilização da técnica Doolittle para fazer desdobramentos tenho de confinar a rainha ao ninho por meio de uma grelha excluidora de rainhas.

Esta colónia, que habita uma colmeia do modelo Langstroth, recebeu o sobreninho a 21-03. A rainha foi confinada ao ninho em 27-03 por uma grelha excluidora, portanto há pouco mais de um mês.

Quando se menciona grelhas excluidoras de rainhas surge inexoravelmente a questão se limita ou não a postura das rainhas. Vamos por partes!

Esta é uma lâmina de cera que costumo utilizar nos ninhos das Langstroth. Tem 19,5 cm por 42 cm.

Ontem, depois do jantar comedido que fiz, decidi contar os alvéolos desta lâmina de cera.

Tinha 41 alvéolos na altura e 78 na largura. Multiplicando estes dois números fiquei a saber com rigor que estão presentes 3198 alvéolos em cada face desta lâmina de cera. Nas duas faces são 6396. Como incrusto a cera mais próximo do travessão do fundo dos quadros, estimei a altura com mais três filas de alvéolos, neste caso 44 em altura. Fazendo novamente as contas para esta alternativa obtenho um total de 3432 alvéolos em cada face, perto dos 7000 nas duas faces.

Outra questão que importa esclarecer: uma rainha põe exactamente quantos ovos por dia? Eu não sei! Julgo que varia de acordo com vários factores. Contudo na literatura são referidos valores médios a variarem entre 1000-2000 ovos/dia. Muito bem, se assim é 8 quadros do ninho bem desbloqueados dão espaço de sobra a uma rainha com uma postura média de 2000 ovos/dia durante 20 dias. Sim, porque ao fim do vigésimo dia começam a emergir as abelhas geradas a partir dos ovos postos 20-21 dias antes. E de novo esses alvéolos ficam disponíveis para um novo ciclo de postura — de facto o reverendo Langstroth não andava sob o efeito de psicotrópicos quando idealizou as dimensões dos quadros da sua colmeia.

Em conclusão, a grelha excluidora limita o espaço de postura de uma rainha ao ninho, mas não tem forçosamente de limitar a postura em si mesma. Bem desbloqueados os 10 quadros do ninho no modelo Langstroth — e também os da Lusitana, que têm um número de alvéolos muito próximo — não limitam a postura das minhas rainhas. No período de 20 dias permitem a oviposição de 40 mil ovos. Sabendo que a população máxima de uma colónia iberisiensis ronda as 45 mil abelhas, parece-me que não é “contra-natura” a utilização da grelha excluidora nas condições que descrevo. Não noto, nestas colónias, atraso nenhum no seu desenvolvimento.

Tirei umas fotos para me convencer que também não ando sob o efeito de psicotrópicos quando trabalho nos meus apiários — desde que anteontem uma raposa se aproximou de mim, a menos de 10 metros, enquanto eu trabalhava silenciosamente no meu apiário como é meu hábito, e ambos ficámos admirados de nos vermos ali tão inesperadamente próximos, que já não sei aos certo se o que vejo existe ou se vejo o que quero ver. Se calhar é um pouco das duas coisas!

Quadros do ninho da colónia 1, com rainha confinada ao ninho.
Quadros do ninho da colónia 2, com rainha confinada ao ninho.
Quadros do ninho da colónia 3, com rainha confinada ao ninho.

Mas como a apicultura é feita de imprevistos e de singularidades, se alguém desejar ensaiar não deixe de ir fazendo as suas observações e os ajustamentos que achar adequados. Nem sempre tudo sai como o planeado!

Como não saiu como planeado o meu primeiro ensaio na utilização da técnica de translarve.

A minha amiga Filipa Almeida e os meus amigos David Marques, João Gomes e Francisco Rogão já me deram umas dicas preciosas para evitar este colossal fracasso na próxima vez que tentar de novo.

a prevenção e o controlo da enxameação: o testemunho de um amigo apicultor

Quando desafio um ou outro apicultor a testemunhar a sua experiência apícola em torno desta ou daquela ideia por aqui veiculadas, é muito gratificante receber os seus testemunhos a confirmarem os ganhos que obtiveram — um pequeno aparte: uma das teorias da motivação mais interessantes que conheço, afirma que o sentido de utilidade que retiramos do que fazemos é um dos factores mais estimulantes para persistir e manter o empenho no que fazemos; como sou feito da mesma matéria que todos, importa-me saber que não estou a escrever sobre o “céu azul”, sim que estou a retratar com boa fidelidade a realidade dos meus apiários e os impactos das intervenções que realizo, que mais proximamente ou mais longinquamente há alguém que ficou a reflectir, que decidiu experimentar e, cereja no topo do bolo, obtém resultados satisfatórios. Por exemplo, recentemente o Rui Martins testemunhou como a sua estratégia de luta contra a varroose melhorou significativamente quando passou a ter em consideração o timing da aplicação dos tratamentos.

Hoje, publico o testemunho do meu amigo Miguel Pais acerca do impacto que algumas das sugestões por aqui divulgadas estão a ter nos seus apiários, em particular na prevenção da enxameação e no controlo da mesma. O texto e as fotos são suas. Obrigado Miguel por teres aceite o desafio e lhe teres dado resposta tão rapidamente. Um abraço!

Iniciei-me na Apicultura há quase 4 anos. Comecei com um enxame, e neste momento tenho cerca de 60 enxames. Tendo a varroa controlada, com poucas perdas anuais e conseguido não só manter o efectivo mas até aumentá-lo gradualmente de ano para ano, sinto cada vez mais a necessidade de prevenir e controlar a enxameação de uma forma mais prática e aumentar assim a produtividade das colmeias.

Visto que muitas vezes não quero aumentar mais o efectivo por já ter feito os desdobramentos que pretendia, começo agora a experimentar vários métodos de prevenção e controlo da enxameação. É aqui que o Eduardo tem dado uma grande ajuda com alguns métodos e experiências que tem descrito no seu blog, que têm sido importantes e têm feito a diferença no meu maneio. Muitas vezes são também os relatos dele que me fazem experimentar certo método que já conhecia mas que não estava ainda convencido da sua eficácia. 

Desses métodos que li no blog do Eduardo, há dois que me deixaram muito contente, apesar de só ter começado a usar um deles este ano, mas resultaram os dois muito bem, fiquei impressionado e arrependido por não ter começado a usá-los mais cedo! 

Em primeiro lugar passei a usar, o ano passado, aquilo a que o Eduardo chama de regra “não mais de 6”. Passei a usar essa regra, principalmente com rainhas mais velhas, não deixando assim que os enxames atinjam o pico da população antes da altura desejada, algo que considero muito importante, e esta regra parece uma forma bastante prática e simples de “segurar” os enxames. 


O segundo método comecei a experimentá-lo este ano, não é um método de prevenção mas sim de controlo de enxameação, o método Demaree, sobre o qual o Eduardo tem escrito ultimamente e que eu já conhecia, mas foi por ler o relato no blog que finalmente decidi experimentar. Em alguns enxames que começaram a aparecer com sinais de febre, comecei a meter a rainha no ninho com 2 quadros e os restantes quadros no sobreninho e uma grade excluidora entre o ninho e sobreninho, não me vou alongar muito no processo, porque podem-no ler mais detalhadamente no blog do Eduardo. 

Em conclusão, usei o método Demaree a primeira vez há cerca de 20 dias em alguns enxames e perderam a febre, bastante rápido.  Sem dúvida alguma vou passar a usar este método no meu maneio a partir de agora, vejo aqui uma solução simples e prática e que é feita sem consumir muito tempo.

Um grande obrigado Eduardo pelas coisas que escreves, desde que me iniciei que tem sido uma boa ajuda, além do mais dás também a conhecer apicultores lá de fora, como por exemplo o Randy Oliver ou o Bob Binnie, que também fazem coisas bastante interessantes.

os criadores de rainhas e o caso das rainhas da madeira

Entre os criadores de rainhas tenho maior simpatia por uns que por outros. E isto para mim conta, pois por princípio só adquiro rainhas aos criadores com quem simpatizo. E no caso das rainhas não agradarem a simpatia continua mas as compras acabam. Afirmo, portanto, que a minha disponibilidade para adquirir rainhas a alguns criadores é zero ou lá muito próximo. Não atino com aqueles criadores de rainhas que mal surge uma questão um pouco mais básica nos grupos de apicultores do Facebook, gozam, diminuem e sistematicamente mandam o novato fazer uma formação; não atino com aqueles criadores de rainhas que habitualmente apresentam vídeos ao estilo circense, com as rainhas a passear nas suas mãos e que, ao mesmo tempo que se expressam com muita humildade, estão nas entrelinhas e de forma latente constantemente a afirmar que são os maiores artistas cá do bairro; não atino com os criadores que, vindos do estrangeiro prometendo linhas seleccionadas e melhoradas, me enviam rainhas iguais e piores que todas as outras e que chegam mortas ou moribundas dentro das gaiolas; não atino com criadores de rainhas que ontem diziam cobras e lagartos das ibéricas por serem uma raça enxameadora, e hoje as criam e comercializam deixando implícito que são linhas que não enxameiam, num percurso cheio de contradições e falsidades; não atino com os criadores de rainhas que amuam porque gostei das rainhas de um concorrente, e esperam uma fidelidade canina…

À entrada de segunda semana de março, estabeleci contacto com três criadores de rainhas, com quem simpatizo, para me fornecerem uma pequena quantidade de rainhas fecundadas. O André Silva foi na altura aquele que as tinhas disponíveis de imediato. Enviou-me algumas fecundadas e, na mesma encomenda, o mesmo número de virgens. O foto-filme em baixo ilustra o desempenho de uma fecundada (à data de 26-04) e o de uma virgem, que já fecundou em terras serranas, à data de hoje.

Imagem geral da colónia, ontem 26-04, em que introduzi rainha fecundada no dia 19-03. De lá para cá, foi fortalecida com dois ou três quadros com criação fechada, e ontem apresentava o ninho praticamente cheio de abelhas e 8 quadros com criação (nestas rainhas do ano não aplico, habitualmente, a regra não mais de 6).
Coloquei a 1ª meia-alça, ontem.

Agora imagens da colónia onde introduzi a 19-03 uma rainha virgem.

À data de hoje, transferi esta colónia do núcleo onde cresceu para uma caixa de 10 quadros.
Apresentava 5 quadros com um padrão de postura digno de se ver!
Passei-a para caixa-colmeia e aproveitei para lhe doar um quadro mais com criação operculada.

Algumas das rainhas do André Silva estão, até ao momento, a dar-me bons sinais. Naturalmente vou continuar a observá-las, porque o seu percurso ainda está muito no início. Vou ficar atento para ver como vão responder a um conjunto de questões: o que vão produzir? como vão responder à varroose? como vão ultrapassar a invernagem? como vão arrancar no próximo ano? como se comportarão no período de enxameação reprodutiva? qual será a sua longevidade? Cada questão terá o seu momento próprio para ser respondida.

Nota: ao contrário do que se costuma ler nos filmes, qualquer semelhança entre o descrito no primeiro parágrafo com a realidade não terá sido mera coincidência.

o efeito de favos vazios na proporção de abelhas forrageadoras dedicadas à colecta de néctar

Thomas Rinderer (esquerda), observando um quadro com abelhas (scientific beekeeping).

Thomas Rinderer, o primeiro autor do artigo que traduzo em baixo dois excertos, é um nome de referência na investigação apícola norte-americana e mundial.

Introdução: Favo vazio nos ninhos de colónias de abelhas (Apis mellifera L.) influencia vários aspectos do comportamento de coleta, nomeadamente a coleta de néctar das abelhas (Rinderer & Baxter, 1978; Rinderer & Baxter, 1979; Rinderer, 1982a; 1982b; 1983). Geralmente, o aumento da quantidade de favos vazios resulta em maior intensidade e eficiência da coleta de néctar nas abelhas avaliadas individualmente. Além disso, certas evidências (Rinderer, 1982a) sugerem que as colónias estimuladas por favos vazios adicionais têm uma proporção maior de abelhas forrageadoras de néctar. Este estudo foi desenhado para testar essa hipótese mais fortemente.

Sumário dos resultados: A influência da adição de favos vazios às colónias nas proporções de abelhas forrageiras retornando às colmeias com néctar, pólen, pólen e néctar, ou água, e de forrageadoras mal sucedidas foi examinada. Quantidades maiores de favo vazio resultaram num aumento na proporção de forrageadoras de néctar, uma diminuição na proporção de forrageadoras de pólen e uma diminuição na proporção de forrageadoras para néctar e pólen. As proporções de abelhas coletando água e de forrageadoras mal sucedidas talvez tenham diminuído ligeiramente.

fonte: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00218839.1984.11100612?journalCode=tjar20

Nota: favo vazio, a opção que utilizei para traduzir “empty comb”, não é sinónimo de quadros com cera laminada, sim de quadros com cera puxada. Sobre a minha preferência por colocar as primeiras meias-alças com cera puxada escrevi aqui.

controlando a técnica de controlo da enxameação

Descrevi e publiquei que no passado dia 12, decidi utilizar uma técnica de controlo da enxameação proposta pelo advogado e apicultor norte-americano George Demaree, publicada no American Bee Journal em 1892.

Hoje passados 12 dias, voltei ao apiário para realizar diversas tarefas. A primeira constatação é que a Erica australis está a secar e a ser substituída gradualmente pela Erica lusitanica (urgueira ou moita branca).

O território continua estimulante!

No caso da colónia alvo da técnica Demaree em 12-04, há alguns indícios que continua a procurar enxamear. Uma inspecção a 19-04 revelou que, como esperado, tinha vários mestreiros abertos no sobreninho colocado por cima da grelha excluidora. Como não precisava destes mestreiros acabei por destruí-los. Menos esperado, por ser mais raro, foi encontrar dois mestreiros no ninho, ainda muito no início e que destruí, obviamente.

Hoje o indício de enxameação, menos evidente que os encontrados a 19-04, é a forma daquele alvéolo entre as duas abelhas.
Vista geral do ninho.
A abelha-mãe… a que geralmente e injustamente leva com as culpas de uma colónia querer enxamear.
Hoje, apesar do céu ameaçar, não foi dia de trabalhar à chuva… não seria o primeiro!

Observação 1: a propósito de um ou outro comentário que pude ler no Facebook acerca da publicação do dia 12-o4, quero deixar descansados os apicultores que parecem temer que com estas técnicas de controlo da enxameação se visa eliminar o instinto da enxameação nas abelhas melíferas. Não é esse o objectivo, como é claro, nem seria seguramente esta a técnica a utilizar para esse fim. As minhas abelhas vão continuar a querer enxamear neste e nos próximos anos. Eu é que não gosto de ficar sentado, sem nada fazer, a assistir a esse incrível fenómeno natural, mas que em nada contribui para a minha felicidade enquanto apicultor. Já os enxames saídos/fugidos em pouco ou nada contribuirão para a sustentabilidade da espécie, porque 99,9% deles estarão mortos em menos de um ano!

enxertia de mestreiros ou maximizar os recursos disponíveis e o teste a ideias feitas

Na sequência desta situação levei os núcleos formados para outro apiário. Neste outro apiário tinha por lá dois núcleos onde a introdução de rainha virgem em gaiola não resultou. Neste contexto decidi meter mãos à obra para maximizar os recursos disponíveis do momento, e ensaiar uma segunda oportunidade com estes núcleos, fazendo a introdução de mestreiros pela técnica de enxertia.

Estes são os recursos disponíveis: mestreiros retirados dos núcleos transumados onde já andavam virgens em joviais correrias.

Com um X-ato não é das tarefas mais complicadas fazer o procedimento. Sim, é verdade que as luvas são uma…, mas com um pouco de perícia a coisa vai.

Uma consideração acerca da viabilidade destes mestreiros: tenho verificado ao longo da minha experiência, que uma parte importante dos mestreiros que tenho encontrado fechados nos quadros, e isto após a emergência das rainhas virgens, depois de analisados a olho contém rainhas aparentemente mal-formadas. Sendo o caso há uma boa probabilida de ter recortado mestreiros inviáveis. Mas perdido por 100 perdido por 1000, e procurei seleccionar os que me pareceram viáveis e procedi ao seu recorte o mais cuidadosamente que me foi possível. Feito isso coloquei-os nos referidos núcleos, pendurados por um palito, entre dois quadros.

No momento em que coloquei os mestreiros sobre os quadros, o comportamento de ânsia das abelhas deixou-me esperançado que as rainhas poderiam estar vivas.

A enxertia foi realizada no dia 17 e ontem 19, entre outras tarefas, fui ver o avanço desta situação.

As abelhas tinham fixado os mestreiros a um dos quadros.

Procedi à inspecção o mais rapidamente que consegui e tomei nota que os sinais preliminares são muito animadores. Primeiro, encontrei os mestreiros rotos pelo fundo. Segundo, a forma certinha como os fundos foram recortados indicia que foi feito pelas rainhas virgens no momento da sua emergência.

Neste conjunto de dois mestreiros a precisão do recorte do fundo de um deles, o da direita, deixa-me convicto que de lá emergiu um rainha virgem viável. Daqui a cerca de 15-20 dias tirarei as dúvidas quando e se vier a surgir uma rainha fecundada em postura.

Neste momento a minha apicultura serve-me não só como a principal fonte de rendimento mas também como um inesgotável campo de pesquisa pessoal e de teste de algumas ideias feitas. Este mundo das abelhas, ainda cheio de segredos, co-habita com tantos ou mais mitos acerca dele. Por exemplo, assim como já vi inúmeras vezes que a primeira rainha virgem a nascer não elimina as suas irmãs rivais, coloco para mim a questão se tal se deve à simultaneidade com que nascem ou se a somar a isso se deve também à defesa destes mestreiros por parte das abelhas, que repelem as tentativas de destruição dos mesmos por parte das primeiras virgens a nascer. No caso vertente, se nestes dois núcleos, que já não têm possibilidade de criarem a sua rainha pelo tempo que já levam orfanados, como vou colocar quadro nenhum com ovos/larvas jovens, alguma rainha fecundada que venha a surgir só poderá ter tido origem num destes mestreiros rotos.

Se num destes dois núcleos por lá aparecer uma rainha fecundada a tese de que as primeiras rainhas a emergirem matam as suas rivais ainda no interior dos mestreiros se tiverem tempo para o fazer fica difícil de sustentar. Em sentido contrário, a tese não refutada é que nesta situação específica é a vontade/o instinto colectivo das abelhas que prevalece, expresso na defesa destes mestreiros mais tardios às investidas das rainhas virgens. E não será (quase) sempre assim no mundo secreto das abelhas: a vontade do colectivo a sobrepor-se à vontade do indivíduo?

o início do fluxo do mel claro e a expressão das rainhas

No passado dia 15, ao sacudir abelhas dos quadros para fazer desdobramentos, vi o néctar do futuro mel claro a escorrer generosamente dos quadros pela primeira vez este ano. O fluxo iniciou-se dentro da data prevista e, correndo tudo normalmente, vai manter-se durante os dois próximos meses, umas semanas mais intensamente outras menos, com origem em diversas florações.

Néctar sobre o travessão superior de alguns quadros que escorreu dos quadros sacudidos.

Em baixo deixo imagens do padrão de postura das rainhas, de várias colónias que abri ontem para conformar à regra “não mais que seis”, e que tendo passado pela minha aprovação durante o último mês e meio para prosseguirem temporada adentro, se expressam nos quadros de ninhos Lusitana desbloqueados da forma que as fotos ilustram.

São colónias com estas rainhas testadas em ambiente real que os meus clientes de enxames levam ano após ano.

Com o início do fluxo é chegada a altura de ir convertendo gradualmente as colónias preparadas até aqui para doarem quadros com criação e abelhas para os desdobramentos, em colónias direccionadas para a produção de mel.

Estas colónias Lusitana vão receber gradualmente quadros com cera laminada no sobreninho, que continuará separado do ninho por uma grelha excluidora de rainhas. O néctar será armazenado nestas ceras novas. Tal permitirá obter mel com as características organolépticas tão apreciadas pelos meus clientes e amigos, muitos dos quais o têm eleito como primeira opção nos últimos dez anos.
Mel cristalizado da produção de 2020. É o resultado que obtenho da parceria com as minhas abelhas, que se mantém vai fazer este ano uma dúzia de anos. Este é produto íntegro que os meus clientes pagam para degustar. Desde 2010!