o programa apícola francês ou je suis français

Como em Portugal, o setor apícola francês beneficia de apoio financeiro no âmbito de um programa europeu, regido pelo regulamento (UE) 1308/2013 (OCM única), regulamentos (UE) 2015/1366 e 2015/1368 e pela decisão do Diretor-Geral da FranceAgriMer INTV SANAEI 2019-17.

Como o programa apícola português, definido para um triénio, o programa apícola francês prevê ajudas de carácter colectivo, que têm como objectivo a implementação de ações que visem a melhoria da produção e comercialização dos produtos apícolas:

  • assistência técnica e formação;
  • a luta contra agressores e doenças da colmeia;
  • pesquisa aplicada;
  • análises de mel;
  • melhoria da qualidade do produto.

Contudo, ao contrário de programa apícola português, o programa francês prevê ajudas directas aos apicultores nestas duas rubricas:

  • racionalização da transumância;
  • ajuda para manter e reforçar o efectivo apícola.

Por exemplo, os apoios à transumância têm como objetivo financiar equipamentos para modernizar os apiários e reduzir a árdua tarefa inerente às operações de transumância, sendo investimentos elegíveis para apoio os abaixo descriminados:

  • Grua;
  • Empilhadores todo terreno de 4 rodas ou esteira;
  • Reboque;
  • Plataforma elevatória;
  • Layout da plataforma do veículo;
  • Paletes;
  • Moto-roçadora ou roçadora com rodas;
  • Preparação de locais de transumância;
  • Balanças eletrónicas controláveis ​​remotamente.

As taxas de ajuda podem atingir 40% no máximo do montante, excluindo impostos sobre o investimento elegível efetivamente realizado. O tecto de investimento está definido a três anos:

  • Até 150 colmeias declaradas: € 5.000 sem impostos;
  • Mais de 151 colmeias declaradas: € 23.000 sem impostos.

Por cá, o estado paternalista, com pelo menos 95 anos — 48 antes do 25 de abril e 47 anos depois do 25 de abril—, continua a achar que os cidadãos não sabem onde, como e quando investir e aplicar o dinheiro dos apoios. E vai fazendo cada vez mais o papel de um pai esclorosado e demente!

por detrás deste blog estás tu, meu filho.

Por detrás deste blog estás tu, meu filho. Foste tu que, com a tua mestria e dedicação, me permitiste materializar esta vontade de escrever umas linhas sobre apicultura. És tu que, fora do palco, me ajudas a ultrapassar prontamente alguns problemas técnicos que vão surgindo a espaços. Sem ti, este blog seria uma frequente dor de cabeça, um aborrecimento, um peso…

Sobre ti posso dizer-te duas ou três coisas que considero essenciais neste momento em que as escrevo. 

A minha vida e o meu sentir mudaram no momento em que nasceste. Logo ali, naquele momento único e irrepetível, senti uma mudança interior. Foi logo ali que senti que o jogo da minha vida tinha passado para outro patamar, que a responsabilidade agora tinha entrado noutro campeonato. Agora a missão era criar-te. Missão mais exigente e arriscada, mas mais nobre e cheia de significado. A minha vida ganhou outra tração. 

Sobre ti, posso ainda dizer que consegues fazer praticamente tudo em que te empenhas verdadeiramente. Pouco ou nada te atemoriza, pouco ou nada te tolhe. Tens a inteligência e as ganas para seguir o TEU caminho. Tens a coragem e o instinto para cumprir o teu destino, traçando-o e construindo-o, não te submetendo a ele. Na tua área de trabalho, muito específica e inovadora, estás entre os melhores do mundo. Vivendo em Portugal, és genuinamente um cidadão do mundo. 

Dizer apenas mais isto… o teu coração é equilibrado pela tua razão, e tua razão não é sem teu coração. O que fazes faze-lo de forma apaixonada, planeada, devidamente ponderada, quase até à tua exaustão, e faze-lo porque o QUERES fazer assim. O teu combustível é a paixão que te obrigas a colocar em quase tudo o que fazes! Vives o teu dia-a-dia numa dimensão volitiva, de desejo intenso, de vontade focada, puxado pelos teus motivadores intrínsecos e fluindo, como o voo de uma abelha num campo florido, entre os teus motivadores extrínsecos. 

Como te AMO e como me sinto orgulhoso em ser teu pai! Um beijo, daqueles que os pais dão, meu filho!

Gostas de música e és muito eclético nas tuas escolhas, o que me revela bem a tua complexidade interior. Partilho algumas das que gostas: 

o plano reprodutivo pode mediar os efeitos da seleção ao nível da colónia no comportamento individual de forrageamento em abelhas

Nesta publicação apresento o sumário e um pequeno excerto de um artigo que procura esclarecer, do ponto de vista genético e evolutivo, o que determina o polietismo* presente em diversos insectos sociais, como no caso da abelha melífera. Este estudo sugere que o polietismo é função de genes com características pleiotrópicas** derivados de um plano reprodutivo básico. À imagem dos insectos solitários, o polietismo nos insectos sociais será a expressão sequencial das fases do ciclo reprodutivo que, estando inibido ao nível individual nas obreiras estéreis, não deixa de se manifestar e expressar na plasticidade e na sequência de tarefas que as abelhas melíferas vão realizando ao longo de sua vida, ao nível da colónia. As obreiras evoluem na realização de tarefas ao longo de sua vida, seguindo uma determinada sequência, de acordo com um determinismo genético, que mimetiza comportamentalmente um plano reprodutivo básico.

Sumário: O fenótipo ao nível da colónia de uma sociedade de insetos emerge de interações entre um grande número de indivíduos que podem diferir consideravelmente na sua morfologia, fisiologia e comportamento. Os mecanismos imediatos e finais que permitem a formação desse sistema integrado e complexo não são totalmente conhecidos, e a compreensão da evolução das estratégias de vida social é um tópico importante na biologia de sistemas. Em insetos solitários, comportamento, sintonia sensorial e fisiologia reprodutiva estão ligados. Essas associações são controladas em parte por redes pleiotrópicas que organizam a expressão sequencial das fases do ciclo reprodutivo. Aqui, investigamos se associações semelhantes dão origem a diferentes fenótipos comportamentais numa casta de obreiras eussociais. Nós documentámos que a rede genética pleiotrópica que controla o comportamento de forrageamento em operárias melíferas funcionalmente estéreis (Apis mellifera) tem um componente reprodutivo. Associações entre comportamento, fisiologia e sintonia sensorial em operárias com diferentes estratégias de forrageamento indicam que as arquiteturas genéticas subjacentes foram projetadas para controlar um ciclo reprodutivo. Os circuitos genéticos que constituem o “plano básico” regulatório de uma estratégia reprodutiva podem fornecer blocos de construção poderosos para a vida social. Sugerimos que a investigação deste plano básico (ground plan) desempenha um papel fundamental na evolução das sociedades de insetos sociais.

[…]

Acredita-se que a pleiotropia desempenhe um papel importante na integração fisiológica e comportamental. A pleiotropia facilita a expressão coordenada de fenótipos temporais complexos ao longo do ciclo de vida de insetos solitários por meio de interruptores reguladores capazes de controlar um grande número de genes. Pelo menos em parte por causa desse mecanismo, os diferentes estágios do ciclo reprodutivo feminino, ou seja, a fase pré-vitelogénica, vitelogénese, oviposição e cuidado da cria (se aplicável), constituem uma sequência coordenada de eventos comportamentais e fisiológicos associados. Em alguns himenópteros sociais, a divisão temporal do trabalho parece ser sobreposta a um ciclo de desenvolvimento do ovário rudimentar em que indivíduos jovens dedicados à criação têm ovários levemente desenvolvidos ou poem ovos tróficos, e ovários pouco desenvolvidos estão associados ao forrageamento. Isso pode indicar que os circuitos reguladores subjacentes à divisão temporal do trabalho em insetos eussociais são derivados de um plano reprodutivo básico [isto é, o plano básico ovariano sugerido por West-Eberhard].

fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC509206/

Polietismo*: a mudança de função/tarefas é idade-dependente e é um dos traços mais característicos das sociedades das abelhas melíferas, Apis mellifera L. 

**Pleiotropia (do grego pleio = “muito” e tropo = “mudança”) é o conjunto de múltiplos efeitos de um  gene. Acontece quando um único gene controla diversas características do fenótipo que muitas vezes não estão relacionadas. […] Ao efeito inverso, quando múltiplos genes controlam a mesma característica, dá-se o nome de Hereditariedade poligénica, Interacção génica ou, ainda Herança quantitativa. Um caso de interação gênica é a epistasia. Epistasia é quando um par de alelos inibem a ação de um outro par, impedindo assim que a característica seja formada. in https://pt.wikipedia.org/wiki/Pleiotropia

fazendo ovos das omeletes

Em diversas situações o meu caminho, estratégia e maneio vai em sentido contrário ao saber estabelecido. Esta publicação serve para deixar explícito que estou muito consciente, que estou a par e conheço relativamente bem esse saber estabelecido. Serve ainda o propósito de afirmar que dar o primeiro passo para fora dessa zona de conforto, entrar numa zona onde a magia acontece, foi uma grande vitória pessoal. Foi em boa medida este o percurso que sustenta meu sucesso como apicultor; apicultor que vive exclusivamente da apicultura há mais de dez anos. E o meu sucesso dependeu e depende de duas coisas simples, ao alcance de todos: muita transpiração e alguma inspiração/imaginação.

Num ano que muitos rotulam de escasso, com pouco mel, este é o resultado de 90% de transpiração e 10% de inspiração. Tudo se encaminha para que seja um dos meus melhores anos em termos de produção média por colónia.

Vejamos agora dois casos concretos que ilustram este caminho, várias vezes ao arrepio do saber estabelecido:

  1. O caso das colmeias armazém: cerca de 10% do meu efectivo (langstroth e lusitana) passa o outono-inverno na configuração ninho+sobreninho.
Verifiquei na inspecção de 4 de março que esta colónia Langstroth, que passou o outono-inverno na configuração ninho+sobreninho, tinha a rainha em postura no sobreninho. Um indicador que poderia “aguentar” com a colocação de excluidora depois de previamente colocar a rainha no ninho, coisa que fiz no dia 9.

Hoje estava assim, de baixo a cima:

2. O caso dos núcleos doadores de quadros a colónias em produção: em baixo a ilustração da palmerização de um núcleo, que doa quadros com criação fechada às colónias em produção, ou a colónias com rainhas fecundadas muito recentemente.

Este quadro é de uma colónia estabelecida num núcleo de 5 quadros. A postura é da responsabilidade de uma rainha emergida de um mestreiro de enxameação que enxertei cerca de um mês e meio atrás. Este quadro tem de um lado e do outro cerca de 7 mil abelhas para emergir nos próximos dias — um núcleo bem povoado tem uma população de cerca de 10 mil abelhas. Foi desta rainha e da sua utilização que um idiota credenciado gozou no Facebook para promover as suas rainhas. Ele que mostre o que faz como eu mostro o que faço, e que se deixe de garotices.

aspectos do maneio à entrada do verão ou tratar de forma desigual o que é desigual

Um enxame de abelhas pode ser analisado a diversos níveis, os mais usuais são o nível do indivíduo e o nível do super-organismo. Como cada abelha per si não tem potencial de sobrevivência, uma boa parte das análises são feitas ao nível do enxame — super-organismo. O nível do enxame é também onde, como apicultor, me coloco na observação e maneio das minhas colónias.

Chega a altura este ano de tirar as grelhas de entrada das minhas colónias a 900m de altitude. Até cerca dos 25-27 ºC de temperatura máxima por norma deixo estar as grelhas. Sobre a ventilação das colónias sei muito pouco, e creio que a ignorância é geral, apesar de todos termos opiniões e preferências — é dos temas mais complexos da apicultura mobilista. Se no inverno estas grelhas são essenciais para evitar que os ratinhos do campo entrem nas minhas colmeias, até as temperaturas rondarem 13-15ºC nocturnos e os 25-27ºC diurnos (e as temperaturas mínimas mandam muito no meu maneio, num território com grandes amplitudes térmicas) tenho observado que contribuem frequentemente para ter criação até ao fundo dos quadros, por comparação com colmeias sem as grelhas, onde observava pouca criação na parte inferior dos quadros.
Sobre a ventilação superior tenho optado por esta solução na última meia-dúzia de anos. Tapo 2/3 do óculo da prancheta. O ar quente vindo debaixo sai na mesma e, ao mesmo tempo, as abelhas têm possibilidade de tapar esta pequena fresta se assim o desejarem. Elas, melhor que eu, sabem o que fazer. Tenho verificado que há colónias que propolizam totalmente o terço de abertura que fica, outras pouco propolizam, e outras deixam um pequeno buraco do tamanho de corpo de uma abelha no meio de uma massa de própolis por onde vejo sair uma ou outra abelha. Que concluir desta diversidade comportamental? Para já apenas isso, que é diversa, que não há uma e melhor solução igual para todas as colmeias, mesmo estando no mesmo apiário!
Colocação das redes de captura do própolis — o produto da colmeia mais nobre, ideia que cresceu em mim neste ano de Covid.
Verificação da quantidade de geleia de obreira disponibilizada às larvas.
Quadro com algumas reservas, à esquerda — mel e pão de abelha —, substitui um quadro seco numa jovem colónia. Numa colónia madura, já estabelecida, estaria muito provavelmente a fazer o contrário.
Com tanta abelha para nascer e tanta larva para nutrir este cuidado faz muito sentido para mim numa colónia jovem, com pouco tempo de vida para apresentar um nível confortável de reservas de mel e pão-de-abelha .
A colónia que foi sujeita à técnica Demaree, observada ontem à entrada do verão.
Mel no sobreninho da colónia submetida à técnica Demaree, muito provavelmente de Erica arborea. Falta ainda o fluxo do castanheiro e a melada da azinheira para se lhe juntar. O produto final é complexo e raro! Esta colónia que esteve à beira de enxamear, que por essa razão foi sujeita a uma abordagem diferente, prepara-se para produzir 25-30 kgs de mel.
Compacidade na postura de uma rainha de uma linha precoce (há quem lhes chame linha de enxameação). Estas, pelas suas características mais explosivas, precisam de ser drenadas de quadros com criação um pouco mais frequentemente. Este quadro foi transferido para uma colónia em produção. As linhas precoces a produzirem mel, ainda que indirectamente, pela grande quantidade de abelhas prestes a nascer que dão às colónias em modo de produção! Este quadro tem perto de 6 mil abelhas para nascer.

Tratar de forma igual o que é igual, tratar de forma diferente o que é diferente, é um principio orientador no maneio que vou fazendo por estes dias, assim como também noutras épocas do ano.

a regra não menos de 8

Nesta época do ano, e no território onde se situam os meus apiários, as principais florações nectaríferas têm um período relativamente curto. A da marcavala dura aproximadamente 2 a 3 semanas e a do castanheiro sensivelmente o mesmo. Por esta razão as colónias devem estar muito bem povoadas para aproveitarem estes fluxos intensos mas de curta duração.

Tendo já passado o período crítico da enxameação reprodutiva, deixo de seguir a regra não mais de 6, para passar a seguir a regra não menos de 8 quadros de criação no ninho. Para a alcançar utilizo cada vez mais aqueles núcleos com enxames que foram feitos na primeira ou segunda semana de maio. Servem-me de fonte para aí retirar quadros com áreas extensas de criação operculada que são de imediato colocados em colmeias dedicadas à produção de mel.

Núcleo que doou um quadro com criação operculada e recebeu um quadro com cera laminada.
Colónia em produção que recebeu o quadro com criação operculada.
De forma cada vez mais sistemática os meus apiários são formados com colónias dedicadas à produção de mel, núcleos doadores e colmeias armazém.
Formação de uma colmeia armazém. Os quadros de cera laminada irão sendo colocados gradualmente nos núcleos à velocidade a que estes forem chamados a doar quadros repletos de criação a emergir. As colónias armazém que formo nesta altura do ano receberão os quadros bloqueados ou semi-bloqueados com pólen e mel.
Nesta colónia dedicada à produção de mel o quadro da esquerda foi substituído pelo da direita.
Nos núcleos doadores — que estou a palmerizar — decidi pela primeira vez avançar já com o tratamento contra a varroose. Como não vão produzir mel, pretendo que os quadros com criação levem o menor numero possível de varroas para as colónias em produção que os vão receber.
Colónias Langstroth que estão no território há pouco mais de duas semanas. Ontem coloquei a segunda meia alça na maioria delas. Correndo normalmente o resto do fluxo da marcavala, assim como o do castanheiro, que vai iniciar-se dentro de cerca de 10 dias, conto colocar na maioria delas a terceira meia alça para a encherem.

as flores, as abelhas, o armazenamento… o tempo é agora

Rubus ulmifolius (silva).
Jasione montana.
Digitalis purpurea.
O meu enxame mais belo (a subjectividade é, por vezes, a melhor forma de objectividade)!
A postura de uma rainha oferecida por um criador amador. (by David Marques)
O armazenamento numa caixa colocada por cima de uma excluidora. Felizmente as minhas abelhas não leram o capítulo do livro de apicultura que diz que as excluidoras de rainhas são também excluidoras de néctar!
Venha a terceira que a segunda está feita… apesar de conformada à “regra não mais de 6” durante o período da enxameação reprodutiva! As minhas abelhas sorriem ao Farrar… há já vários anos.

Notas: As fotos são de ontem, 02.06.2021, tiradas em dois apiários situados a 600m de altitude.

“Agora é o único tempo que conheço”( by Fever Ray).

monitorizar o som das abelhas ou o virar da esquina no maneio

Inúmeros sectores da agro-pecuária têm passado nas últimas décadas por desenvolvimentos importantes na “forma de fazer” graças à incorporação de novas tecnologias. No caso da apicultura essa incorporação tem sido escassa e lenta, arriscando-me a afirmar que continua, no essencial, a ser feita no campo como era feita no tempo do reverendo Langstroth — no transporte de colmeias e nas salas de extracção a inovação tem sido mais rápida e notável. Contudo talvez estejamos a dobrar a esquina, e em breve tenhamos acesso a um conjunto de dispositivos que nos ajudem a ouvir, ler e interpretar o “abelhês” em tempo real e, assim, parte importante do trabalho de campo possa ser reduzido e optimizado. Em baixo deixo um excerto com a opinião de Jerry Bromenshenk, um dos maiores especialistas mundiais na monitorização e interpretação do som produzido por colónias de abelhas.

Bee Health Guru, aplicação de smartphone Android e Apple iOS desenvolvida por uma equipe de investigadores em abelhas da Universidade de Montana, que vem desenvolvendo, há quase uma década, uma forma rápida, acessível e em tempo real de monitorar as colónias de abelhas através do som que produzem. 

Eddy Woods, um engenheiro de som do Reino Unido, aparentemente com excelente audição, percebeu uma mudança de frequência nos sons produzidos pelas colónias pouco antes de enxamearem. Ele patenteou, construiu e vendeu o Apidictor em 1964. Nos anos mais recentes, houve até instruções na internet para construir uma versão para iPhone de seu dispositivo. Alguns céticos modernos não acreditam que Eddy ou sua máquina pudessem dizer quando uma colónia estava pronta para enxamear. Precisam de ver melhor o que tem acontecido na área de monitorazação de abelhas e colmeias desde 2012.
Em outubro de 2020, Frank Linton e eu patrocinámos uma 4ª Conferência Internacional de Monitorazação de Abelhas e Colmeias com 50 palestrantes de 14 condados. Todos os vídeos de apresentação são gratuitos para o público em: https://www.umt.edu/sell/programs/bee/monitoringconference_2020/default.php.

Várias empresas estão comercializando conjuntos de sensores com sensores acústicos. Replicaram as observações de Eddy Woods e forneceram uma prova definitiva de seu conceito, usando sofisticadas visualizações de ultrassom em 3-D de colónias antes, durante e depois da enxameação. Huw Evans, da Arnia, foi um dos primeiros a fazê-lo.

Algumas dessas empresas são novas empresas. Alguns são bem financiados, alguns têm financiamento governamental de vários países e alguns têm parceiros e consultores analíticos trabalhando banco de dados bem estabelecidos, como o SAS Institute e a Oracle.

SAS é um desenvolvedor multinacional de software analítico com sede em Cary, Carolina do Norte. A empresa desenvolve e comercializa um pacote de software analítico, que ajuda a monitorar, gerir, analisar e relatar dados para auxiliar na tomada de decisões. Eles fizeram duas apresentações na Conferência de Monitorização de outubro.

Oracle é a corporação multinacional de tecnologia da computação com sede em Austin, Texas. É especializada em infraestrutura em nuvem, softwares como banco de dados Oracle, Java, Linux, MySQL, hardware Exadata e bancos de dados autónomos. De acordo com comunicados à imprensa, a Oracle fez parceria com uma das empresas líderes que atualmente comercializa dispositivos e serviços sensoriais de monitorização de colónias na Europa e nos EUA.

Presumo que empresas bem estabelecidas desse porte fizeram seu trabalho de casa antes de se envolver com ou investir em detectores de sons de colónias. Como tudo isso irá progredir ainda está para se ver.

fonte: Bee-L (27-05-2021, Honey Bee Communications)

einstein, as abelhas e os pássaros ou como replicamos tecnologicamente a natureza

Várias das descobertas e inventos que nos são muito úteis no nosso dia-a-dia procedem de investigações realizadas noutras espécies animais e vegetais ou, no mínimo, foram congeminadas a partir da sua observação. Estou a pensar no radar, no sonar, nas novas soluções construtivas de edifícios com alturas antes julgadas impossíveis. Vem esta publicação a propósito de uma carta recentemente re-descoberta, escrita por Einstein em 1949 a Ghyn Davys.

Nela, o matemático e físico nascido na Alemanha discute abelhas, pássaros e se novos princípios da física poderiam vir do estudo dos sentidos dos animais.

Carta de Einstein a Ghyn Davys.

Em 1933, Einstein deixou a Alemanha para trabalhar na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Foi aqui, em abril de 1949, que conheceu o cientista Karl von Frisch numa palestra.

Karl von Frisch ganhou o Prémio Nobel de Medicina em 1973.

Von Frisch estava de visita a Princeton para apresentar a sua nova pesquisa sobre como as abelhas navegam com mais eficácia usando os padrões de polarização da luz espalhada do céu. Ele usou esta informação para ajudar a traduzir a agora famosa linguagem de dança das abelhas, pela qual recebeu o seu próprio Prémio Nobel.

Um dia depois de Einstein assistir à palestra de von Frisch, os dois pesquisadores compartilharam uma reunião privada. Embora esta reunião não tenha sido formalmente documentada, a carta recentemente descoberta de Einstein fornece algumas dicas sobre o que pode ter sido discutido.

Suspeitamos que a carta de Einstein é uma resposta a uma consulta que ele recebeu de Glyn Davys. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, Davys ingressou na Marinha Real Britânica. Ele formou-se como engenheiro e pesquisou tópicos, incluindo o uso de radar para detectar navios e aeronaves. Essa tecnologia nascente foi mantida em segredo na época.

Por completa coincidência, o sensor de bio-sonar foi descoberto em morcegos ao mesmo tempo, alertando as pessoas para a ideia de que os animais podem ter sentidos diferentes dos humanos. Embora qualquer correspondência anterior de Davys para Einstein pareça perdida, ficámos interessados ​​no que pode tê-lo levado a escrever ao famoso físico.

Então, começamos a vasculhar arquivos online de notícias publicadas na Inglaterra em 1949. Na nossa pesquisa, constatámos que as descobertas de von Frisch sobre a navegação das abelhas já eram grandes notícias em julho daquele ano, e a sua pesquisa tinha até sido divulgada pelo jornal The Guardian em Londres.

A notícia discutiu especificamente como as abelhas usam luz polarizada para navegar. Como tal, pensamos que foi isso que levou Davys a escrever para Einstein. Também é provável que a carta inicial de Davys a Einstein mencionasse especificamente abelhas e von Frisch, pois Einstein respondeu: “Estou bem familiarizado com as admiráveis ​​investigações do Sr. v. Frisch”.

Parece que as ideias de von Frisch sobre a percepção sensorial das abelhas permaneceram nos pensamentos de Einstein desde que os dois cientistas se cruzaram em Princeton seis meses antes.

Na sua carta a Davys, Einstein também sugere que, para as abelhas ampliarem nosso conhecimento da física, novos tipos de comportamento precisariam ser observados. Notavelmente, está claro por meio de seus escritos que Einstein imaginou que novas descobertas poderiam vir do estudo do comportamento dos animais.

Einstein escreveu:

É pensável que a investigação do comportamento das aves migratórias e dos pombos-correio pode, algum dia, levar à compreensão de algum processo físico que ainda não é conhecido.

Agora, mais de 70 anos desde que Einstein enviou sua carta, a pesquisa está realmente revelando os segredos de como as aves migratórias navegam enquanto voam milhares de quilómetros para chegar a um destino preciso.

fonte: https://www.inverse.com/science/long-lost-einstein-letter

o canibalismo, seus efeitos adversos e uma sugestão de maneio

Em abril deste ano foi publicado na revista científica Scientific Reports o artigo Pupal cannibalism by worker honey bees contributes to the spread of deformed wing virus, já referenciado aqui em fevereiro, antes da sua revisão. Volto nesta publicação, de forma sumária, ao seu conteúdo para apresentar uma sugestão de maneio.

Um vírus (VAD) que deixa as abelhas com asas atrofiadas e inúteis, abdómen inchado e cérebro lento antes de as matar aproveita-se de um dos hábitos dos polinizadores – a tendência de canibalizar a sua criação, descobriu um novo estudo.

O comportamento de canibalismo.

O vírus das asas deformadas (VAD) esconde-se no interior dos ácaros que parasitam as larvas e pupas das abelhas; as operárias são infectados quando se alimentam destas, concluiu recentemente uma equipe de pesquisadores.

Esta descoberta pode explicar a razão de o VAD se ter tornado muito mais catastrófico, muitas vezes levando ao colapso das colónias, em comparação com o passado. Esta pesquisa conclui que o aumento da virulência do VAD é devido, em parte, ao comportamento de canibalismo das abelhas.

fonte: https://www.livescience.com/virus-hijacks-bee-cannibalism.html

Sugestão de maneio: Uma maneira de interromper a reinfecção viral por meio da canibalização da criação é fazer um enxame nu, retirando toda a criação presente. As abelhas recuperam muito rapidamente num bom fluxo de néctar ou quando são alimentadas, tão rapidamente que, segundo alguns apicultores experimentados, elas não perdem terreno a longo prazo. Por alguma razão, percebendo que estão sem criação na nova configuração, elas vão empenhar-se quase freneticamente na construção de favos novos e criando novas abelhas a uma velocidade muito superior à que apresentavam no seu ninho estabelecido.

As abelhas, como nós, gostam de desafios, acreditam nas suas possibilidades e, a partir daí, agem tendo o céu como limite.