determinação do resíduo de amitraz e de seus metabólitos no mel e cera de abelha após o tratamento com Apivar® em colónias de abelhas (Apis mellifera)

Dr. Jeffery S. Pettis, investigador no Bee Research Laboratory, USDA-ARS, Beltsville, MD, USA.

Em baixo deixo a tradução do sumário de um artigo, que resulta da investigação coordenada por Jeffery S. Pettis aquando do processo de homologação do Apivar pelas entidades norte-americanas.

Sumário: Um acaricida sintético, o amitraz é amplamente utilizado para controlar o Varroa destructor. Embora tenha o potencial de matar ácaros em colónias de abelhas, o resíduo de amitraz e seus metabólitos em produtos como o mel é uma preocupação. Aqui, determinámos os níveis de resíduos de amitraz e seus metabólitos no mel e cera de abelha quando as colónias foram tratadas com diferentes doses de Apivar® (1X = 2 tiras, 5X = 10 tiras e 10X = 20 tiras); a dose 1X corresponde ao tratamento de colmeia numa aplicação normal. Os resultados demonstraram que nenhum resíduo de amitraz foi detectado no mel e cera após 42 dias da aplicação em todas as colónias tratadas. Os metabólitos do amitraz, 2,4-dimetilfenilformamida (DMPF) e 2,4-dimetianilina (DMA), foram encontrados nas amostras 28 dias após o tratamento. Os níveis de resíduos desses dois metabólitos na cera de abelha foram maiores do que no mel. O DMA foi detectado apenas em cera de abelha, variando entre 111 e 177 µg/Kg , quando as colónias foram tratadas com 5X e 10X de Apivar®. Os níveis de resíduo de DMPF variaram entre 13,7 e 60,5 µg/Kg mel e 196–6,160 µg/Kg em amostras de cera. O resíduo de metabólitos de amitraz encontrados em produtos de abelhas melíferas não excedeu os limites máximos de resíduos (LMRs), embora altas doses tenham sido aplicadas neste estudo para criar os casos de piores cenários.

fonte: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00218839.2021.1918943

Nota: O LMR do amitraz e seus metabólitos é 200 µg/Kg para o mel de produção convencional, de acordo com o estabelecido pela Comissão Regulatória (UE), N° 37/2010 de 22 Dezembro de 2009.

timing do tratamento de verão da varroose: testemunho de um amigo e cliente

Deixo em baixo o testemunho de um amigo e cliente de enxames, a quem tenho dado consultoria gratuita no último ano e meio — os meus clientes de enxames contam com essa ajuda, sempre que a requerem. Este amigo pediu-me para não o identificar, por essa razão o seu nome não aparece na publicação. O timing da publicação, 15 de Agosto de 2021, parece-me muito ajustado ao conteúdo.

2019 não foi uma época apícola brilhante, pelo menos para mim. A produção de mel ficou aquém, mas o pior estava para vir. Com tratamentos atrasados e falta de monitorização perco cerca 70 das 80 colónias no inverno. Depois da frustração foi tempo de refletir o que tinha feito de errado. Concluí que o tratamento da varroose foi feito tardiamente e já pouco havia a fazer.

Foto de uma colónia à saída do inverno de 2020-2021.

2020 e 2021 foi ano de começar basicamente do zero. Em 2020 com cerca de 50 colónias tinha de evitar o que se tinha passado na época anterior. Foi nessa altura que conheci o Eduardo, que me fala de manter sempre a varroa o mais controlada possível e não perder 10 para ganhar 5. O que quero dizer com isto é não sujeitar as colmeias a recolherem mais 2/3 kg de mel e com isso atrasar o tratamento. O maneio estava claro para mim, seria “ acabar “ a época de mel mais cedo, isto na zona de Trás-os-Montes. Em 2020 acabei a época em meados de Agosto; retirei todas as meias alças e procedi ao tratamento com Apivar. Com o tratamento já nas colónias foi tempo de proceder a várias inspeções. A cada 2 semanas abri rigorosamente todas as colónias e ajustei as tiras na câmara de criação: se a câmara de criação se contrai para o centro as tiras ajustam-se também. As tiras andam neste tempo em conformidade com a criação: onde está a criação estão também as tiras.

Era tempo também de não fechar os olhos às colmeias mais fracas que por algum motivo não estavam tão fortes quanto a maioria. A decisão foi fazer a junção dessas colónias que achava que não tinham grandes condições de passar o inverno. Com isto feito foquei-me nas inspeções de outono, que servem para efectuar uma inspeção visual quer dos níveis de varroa quer da criação, quer da população de abelhas, e proceder ao ajuste das tiras. Depois deste trabalho feito, e sem nunca faltar alimento às colónias, esperava que o inverno passasse para ter uma noção clara de quantas colónias tinha para a nova época. O resultado foi este: 52 colónias invernadas; 1 colónia morta; 3 colónias fracas. Em relação à época anterior a passagem do inverno para a primavera tinha sido 200% melhor. Encarei a época apícola de 2021 com bons olhos.

Para mim tudo isto se deve ao facto de o tratamento ter entrado nas colónias mais cedo. Defendo que as inspeções de outono são importantíssimas pois permite-me ver a olho nu sinais de varroa, como foi o caso de uma colónia onde vi várias abelhas com as asas deformadas. Actuei de imediato e, segundo sugestão do Eduardo, coloquei mais 2 tiras de apivar ficando com 4 tiras. Esta colónia mostrou melhorias e passou o inverno com sucesso.

Foto de uma colónia à saída do inverno de 2020-2021.

Na apicultura não sendo tudo sempre igual — o que é este ano para o próximo pode não ser —, são estes os pilares que quero manter neste próximo outono/inverno:

  • Tratamento cedo;
  • Ajustamento de tiras aos quadros com criação;
  • Inspeções de Outono.

Sem dúvida que para mim a passagem do inverno 2020-2021, foi um sucesso. Espero no inverno de 2021-2022, com os pilares que referi, obter os mesmos resultados.

a saúde da rainha das abelhas não é afetada pela exposição ao contato a pesticidas comumente encontrados na cera de abelha

Fórmula estrutural do 2,4-Dimethylphenyl, um dos metabolitos do amitraz, presente nas tiras de Apivar, provavelmente o medicamento homologado mais utilizado contra a varroa no mundo ocidental.

Resumo:

A saúde da rainha da abelha melífera é crucial para a saúde e produtividade da colónia, e os pesticidas foram anteriormente associados à perda da rainha e à sua substituição prematura. Pesquisas anteriores investigaram os efeitos da exposição indireta a pesticidas de rainhas via contacto com abelhas obreiras, bem como os efeitos diretos em rainhas durante o desenvolvimento. No entanto, quando adultas, as rainhas estão em contato constante com a cera enquanto caminham sobre o favo e põem ovos; portanto, o contato direto de pesticidas com rainhas adultas é uma via de exposição relevante, mas raramente investigada. Aqui, conduzimos experiências de laboratório e de campo para investigar os impactos da exposição a pesticidas tópicos em rainhas adultas. Testamos as relações dose-resposta de seis pesticidas comumente encontrados na cera: cumafos [CheckMite], tau-fluvalinato [Apistan], atrazina, 2,4-DMPF [Apivar], clorpirifos, clorotalonil e um coquetail de todos os seis, cada um com dosagens até 32 vezes as concentrações normalmente encontradas em cera. Não encontramos nenhum efeito de qualquer tratamento na massa corporal da rainha ou na viabilidade do esperma. Além disso, nenhuma das 1.568 proteínas quantificadas nos corpos gordos das rainhas (um importante local de produção da enzima de desintoxicação) foi expressa diferencialmente. Num ensaio de campo com N = 30 rainhas expostas a um controle de maneio, um controle de solvente ou um coquetail de pesticidas, novamente não encontramos impacto no padrão de postura de ovos da rainha, sua massa corporal ou massa corporal de operárias filhas. Além disso, das 3.127 proteínas identificadas no fluido da espermateca (órgão de armazenamento do esperma), nenhuma foi diferencialmente expressa. Estas experiências mostram consistentemente que em níveis de exposição realistas, os pesticidas comumente encontrados na cera não têm impacto direto no desempenho da rainha, na reprodução ou nas métricas de qualidade. […]

fonte: https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2021.04.24.441288v1.full

abelhas resistentes: medindo a re-operculação e remoção de criação

Em baixo deixo um vídeo muito pedagógico que nos instrui acerca dos procedimentos, utensílios e cálculos a levar a cabo para seleccionar abelhas mais resistentes ao ácaro varroa. Aos dois comportamentos, remoção da criação infestada e reoperculação, está associado um terceiro traço: a reprodução reduzida dos ácaros. Estes três aspectos/traços surgem em enxames resistentes, independentemente da sua localização geográfica (ver este artigo de agosto deste ano
https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rspb.2021.1375)

Nota: comecei a ver anúncios de alguns apicultores portugueses a proclamarem que têm abelhas resistentes ao varroa, em concreto abelhas que apresentam um bom comportamento de re-operculção e remoção de criação infestada (traço VSH). Assim o espero, esperando que estejam a fazer uma avaliação criteriosa do comportamento de resistência, por forma a que o marketing seja legítimo e honesto.

notas avulsas de um apiário

Ontem arrisquei carregar 10 meias alças que tinha crestado uns dia antes e rumar ao apiário onde convivem castanheiros e azinheiras. A esperança de ainda as encherem com a melada dos azinhos é pequena, mas suficiente para me ter motivado. Feita a inspecção às 16 colónias Langstroth em produção lá estacionadas, acabei por decidir colocar meias-alças em 5 colónias.

Contando as colónias onde coloquei as meias-alças.

É neste apiário que se encontra a colónia que passou pelo processo Demaree para controlar a enxameação — ver aqui e aqui. Ontem o seu sobreninho apresentava estes quadros:

Aproveitei a deslocação para iniciar o terceiro e último tratamento do ano nos núcleos presentes.

Procedi à recolha de abelhas adultas para efectuar o cálculo da taxa de infestação por varroa neste apiário.

Em casa e de acordo com os procedimentos descritos na publicação anterior encontrei 3 varroas numa amostra de cerca de 550 abelhas.

0,5 % de taxa de infestação de acordo com a amostra de abelhas recolhidas. Noto que as abelhas foram retiradas de duas colónias estabelecidas com mais de uma ano e de duas outras colónias novas onde foram introduzidas rainhas virgens em abril. Deste aspecto decorre um período de cerca de 12 dias sem postura, período durante o qual se interrompe a fase reprodutiva na população de varroas.

estratégia de tratamentos: números e decisões

Aqui e ali, nas redes sociais, recebo umas “bocas” a chamarem a minha atenção para o facto de na apicultura “2+2 não serem 4” e “a apicultura não ser uma ciência exacta”. Este tipo de comentários revela pelo menos duas coisas aos meus olhos: 1) não me conhecem nem conhecem o que escrevo, ainda que julguem que sim; 2) mais grave, desconhecem que todos os fenómenos naturais têm uma tradução matemática.

A utilidade dos números na apicultura.

Vem isto a propósito de umas contas que vou passar a apresentar. Na publicação anterior identifiquei a taxa de infestação pelo ácaro varroa em abelhas adultas nas colónias de um apiário. Fui interpelado por um amigo se tinha ideia da taxa de eficácia das tiras de ácido oxálico que coloquei em finais de junho. Respondi que sim, isto apesar de não ter feito um teste de campo. Esta resposta assenta nos cálculos que realizei. De acordo com estes cálculos, a taxa de eficácia rondará os 65%. Como cheguei e este valor?

  1. Terminado o primeiro tratamento do ano, a taxa de eficácia ter-se-á situado nos 98% (três tiras de Apivar por ninho — ver nesta publicação: “A avaliação pós-tratamento nos mesmos apiários revelou uma infestação entre os 0,2% e os 0,4%. A monitorização foi feita com a recolha de abelhas adultas e posterior lavagem das mesmas em água com detergente para as varroas se soltarem das abelhas, filtradas através de um coador de mel com duas malhas (técnica com boa fiabilidade)”. De acordo com esta percentagem de eficácia terão sobrevivido 2% de varroas tendo em consideração a sua população total;
  2. Assim sendo, no final de julho — 3 meses passados o primeiro tratamento — a taxa de infestação em abelhas adultas rondaria os 3,2 %, considerando uma duplicação do seu número por cada 30 dias passados (0,4×2=0,8×2=1,6×2=3,2);
  3. Atendendo que no teste de campo ontem realizado encontrei uma taxa de infestação de 1,1%, a diferença entre este valor e o valor previsível (3,2%), caso não tivesse efectuado o tratamento intermédio com as tiras de oxálico, é de 2,1.
  4. Para o cálculo de eficácia destas tiras considerei que 100% de eficácia seria eliminar os 3,2% previsíveis. Como “apenas” se eliminou 2,1% (3,2-1,1=2,1) quanto representa percentualmente um abaixamento de 2,1? Fazendo uma regra de “três simples”, a calculadora diz-me que a percentagem de eficácia das tiras de oxalico é de 65,6% ( 2,1×100/3,2= 65,6%).

Em conclusão, o tratamento com as tiras de oxálico está perfeitamente justificado na minha estratégia de tratamentos da varroose:

  • faz baixar o suficiente a taxa de infestação durante o período de fluxo de néctar;
  • a sua taxa de eficácia é suficiente para o considerar um bom tratamento intermédio;
  • esta taxa de eficácia é baixa para pôr a hipótese de não efectuar um terceiro tratamento.

Ainda que a minha apicultura assente em dados numéricos, muito úteis para avaliar o caminho que estou a fazer, é óbvio —para quem me conhece e lê com olhos de ler as minhas publicações — que esta apicultura não se resume a números. Trabalho, observações, leituras, reflexões, hipóteses, cálculos, avaliações e tomada de decisões serão um resumo mais justo e completo.

cálculo da taxa de infestação de abelhas adultas pelo ácaro varroa: os meus procedimentos

Hoje, com minha esposa, realizei os procedimentos necessários e adequados — assim o espero — para obter uma ideia precisa da taxa de infestação das abelhas adultas num dos apiários onde pretendo iniciar nos próximos dias o tratamento de verão da varroose, com recurso às tiras de Apivar.

Tendo efectuado neste ano, e até à data, dois tratamentos, o primeiro com recurso a tiras de Apivar, colocadas na última semana de janeiro, o segundo com recurso a tiras com ácido oxálico colocadas em finais de junho, pretendo iniciar este terceiro e último tratamento com uma taxa de infestação das abelhas adultas abaixo dos 3%. Sei por intermédio de leituras e observações pessoais que todos os medicamentos, ou quase, são muito menos eficazes quando a taxa de infestação ultrapassa esta percentagem. Sei também que o medicamento deve ser colocado em agosto para garantir que as abelhas de inverno, que vão começar a ser criadas nas duas a três semanas seguintes, devem ser nutridas num ambiente saudável, com poucas varroas e poucos vírus.

Assim sendo, munidos dos conhecimentos e equipamentos para fazer este teste à infestação por varroa, a minha esposa e eu passámos à acção.

Em baixo fica o foto-filme das etapas, procedimentos e equipamentos utilizados para este propósito.

Preparação do líquido e recipiente que vai ser utilizado para proceder à lavagem de abelhas.

No apiário, identifiquei 6 colónias que ao longo da época estiveram fortes, com muita criação ao longo dos últimos 4 meses. Nessas 6 colónias sacudi abelhas dos quadros com criação, isto depois de ter posto de lado o quadro onde andava a rainha.

Localização do quadro onde andava rainha.
Abelhas a serem sacudidas.
Um pequeno número destas abelhas foram sacrificadas para o bem maior de cerca de um milhão de abelhas que habitam as colónias deste apiário.
Uma etapa emocionalmente difícil!

De regresso a casa, procedi à lavagem e coagem de abelhas e ácaros.

Abelhas recolhidas do ninho de 6 colónias diferentes num apiário com 27 colónias.
Abelhas num coador de mel com duas malhas e lavagem com água da torneira.
5 varroas recolhidas na malha fina do coador
5 varroas recolhidas em quantas abelhas?
Contagem das abelhas em montes de 10.
45 grupos de 10 abelhas + 2 abelhas
Taxa média de infestação nas 6 colónias: 1,1%

Análise retrospectiva e análise prospectiva: Com uma taxa de 1,1% de infestação pelo ácaro varroa olho para trás e confirmo a validade e adequação da estratégia de tratamentos que estou a seguir este ano. Por outro lado, e olhando agora para a frente, esta taxa permite-me estar muito confiante, pois antevejo que o tratamento de verão tem tudo para correr bem, uma vez que a taxa de infestação está bem abaixo dos 2 a 3%. Este é o limiar máximo que os mais conhecedores e mais cuidadosos apicultores que conheço recomendam para iniciar o tratamento. Isto se os apicultores meus vizinhos também estiverem a fazer o que devem fazer e na altura em que o devem fazer. Quando os ouriços se começam a formar nos castanheiros, pode ser a mnemónica?

Foto de Júlia Gomes (31-07).

vendo mel claro da colheita de 2021 enfrascado

Dou inicio à comercialização do mel de minha produção de 2021 na modalidade enfrascado. A origem: flores silvestres na fronteira do Parque Natural da Serra da Estrela. Destino: consumidor que valoriza a qualidade do mel que coloca à sua mesa.  Os frascos ao dispôr são de 1Kg, 0,5Kg e 0,25 Kg.

Deixo a tabela de preços* aos interessados:

1 Kg = 6,40 €;

0,5 Kg = 3,70 €;

0,25 Kg = 2,30 €.

* (ao qual acresce o IVA à taxa de 6%)

Aceitam-se encomendas para quantidades não inferiores a 36 Kg, a entregar dentro dos limites do distrito da Guarda e/ou distrito de Coimbra. Para quantidades inferiores e/ou para fora dos limites destes dois distritos os encargos com o transporte são da responsabilidade do comprador.

Estou disponível neste endereço electrónico para receber as encomendas e detalhar o que entenderem necessário: jejgomes@gmail.com

As fotos em baixo foram tiradas na minha UPP em 26.07.2021 e retratam etapas do processo de extracção e enfrascamento.