operariado: uma vida curta e de riscos

Fiquei de boca aberta com a enorme mortalidade de abelhas durante o período dos voos de orientação em dois apiários franceses. Gostava de ver este estudo replicado em Portugal!

“As abelhas são insetos sociais que exibem notáveis ​​diferenças de longevidade específicas da casta. Enquanto as abelhas rainhas podem viver até 5 anos, as operárias geralmente vivem apenas duas a seis semanas no verão e cerca de 20 semanas no inverno. A diferença de 10 vezes entre a vida útil da abelha operária no verão e no inverno depende das diferenças nos processos de senescência fisiológica intrínseca e nos fatores extrínsecos, como a exposição a pressões ambientais (isto é, as abelhas de inverno raramente deixam o ambiente seguro da colmeia). Na verdade, como resultado do polietismo da idade, o risco extrínseco de mortalidade das abelhas de verão não é constante ao longo da vida do indivíduo. As abelhas passam as primeiras semanas de sua vida adulta realizando tarefas dentro do ambiente da colmeia, mas depois mudam para a atividade de forrageamento que as expõe a riscos ambientais, como temperatura, predação ou desidratação. Além disso, a transição para a atividade de forrageamento é acompanhada por uma redução nas reservas de proteínas e lipídios, bem como da glicolipoproteína vitelogenina, um importante antioxidante. As forrageadoras experimentam uma probabilidade constante de morte ao longo do tempo, mas também podem enfrentar o esgotamento das reservas limitadas de glicogénio, essenciais para sua atividade de voo. A idade de início do forrageamento, que pode ser modulada de acordo com o tamanho, demografia e necessidades da colónia, bem como por vários fatores ambientais é, portanto, assumida como um fator importante na longevidade das abelhas operárias.

A atividade de forrageamento fornece à colónia recursos florais que são essenciais para a sobrevivência e reprodução da colónia e é normalmente precedida por alguns dias em que as abelhas realizam voos de orientação exploratória, permitindo-lhes aprender as características da entrada da colmeia e da paisagem ao redor da colmeia. Este estágio de pré-forrageamento permite que as abelhas desenvolvam capacidades cognitivas altamente complexas essenciais para o forrageamento, como navegação e homing [regresso à colmeia], bem como sua capacidade de voo (desempenho sensorial e motor). A experiência desenvolvida durante a fase de pré-forrageamento pode, portanto, determinar seu desempenho futuro como forrageadoras e, provavelmente, sua vida útil. Na verdade, uma das consequências do forrageamento precoce induzida experimentalmente é o maior risco de morte nos primeiros voos de forrageamento e um período de forrageamento mais curto, possivelmente devido às capacidades de navegação mais baixas (mas também músculos de voo imaturos e/ou um corpo mais pesado). Por último, mas não menos importante, durante a realização de voos de aprendizagem, as abelhas podem ser expostas a riscos de mortalidade extrínseca. Portanto, pode haver um trade-off entre os riscos associados ao desempenho de voos de pré-forrageamento e os benefícios do acúmulo de experiência de voo durante esse estágio, o que pode se traduzir num desempenho superior e sobrevivência no estágio de forrageamento.

Nosso objetivo era documentar este período particular e crítico de aprendizagem de voo. Para tanto, monitoramos, desde a emergência até a morte, a atividade de entrada e saída de 3.786 abelhas operárias usando dispositivos automatizados de monitorização individual vitalício. Isto foi feito numa ampla gama de condições, consistindo em múltiplos contextos geográficos, sazonais e de desenvolvimento da colónia, para avaliar diversas histórias de vida relacionadas à bem conhecida plasticidade comportamental em abelhas. A variabilidade em contextos ambientais foi alcançada notavelmente pelo rastreamento de abelhas originárias de diferentes colónias de origem a cada mês, de abril a setembro, em dois locais geográficos diferentes na França. Em seguida, medimos suas características de história de vida. O objetivo geral foi avaliar se a expectativa de vida é influenciada pela experiência de voo, a fim de melhor caracterizar os padrões e os fatores de risco de mortalidade natural em abelhas obreiras. Para tanto, avaliamos (i) em que medida o estágio de pré-forrageamento está associado a riscos de mortalidade e (ii) como esse estágio de pré-forrageamento pode influenciar a duração do estágio de forrageamento.

Desenho experimental. (a) Mapa da França indicando a posição geográfica do sitio A (Chizé) e do sitio B (Avignon). (b) Sistema RFID usado no local A. (c) Sistema de contador óptico usado no local B. (d) Projeto experimental.

Conclusões: Nossos resultados mostram que a idade no primeiro voo e o início do forrageamento são fatores críticos que determinam, em grande parte, a expectativa de vida. Mais importante ainda, nossos resultados indicam que uma grande proporção (40%) das abelhas morrem durante a fase de pré-forrageamento e, para aquelas que sobrevivem, o tempo decorrido e a experiência de voo entre o primeiro voo e o início do forrageamento são importantes para maximizar o número de dias gastos em forrageamento. Uma vez no estágio de forrageamento, os indivíduos experimentam um risco de mortalidade constante de 9% e 36% por hora de forrageamento e por dia de forrageamento, respectivamente. Em conclusão, o estágio de pré-forrageamento durante o qual as abelhas realizam voos de orientação é um fator crítico para a vida útil das abelhas.

fonte: https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rsos.200998

eu era muito mais inteligente, ou o efeito Dunning-Kruger na apicultura

Texto de Rusty Burlew no seu blog Honey Bee Suite acerca do processo de “maturação” dos apicultores de língua inglesa. A semelhança com apicultores de língua portuguesa evidencia que há alguns fenómenos universais no mundo animal, independentes de latitudes e ambientes.

“Muito antes de saber que tinha um nome, escrevi sobre o efeito Dunning-Kruger* na apicultura. Numa publicação do blog intitulada “Eu era muito mais inteligente”, revelei os resultados do meu estudo unilateral, não científico sobre a base de conhecimento dos apicultores, pois se correlaciona com o tempo que eles têm abelhas.

De minha extensa pesquisa, descobri que os apicultores do primeiro ano sabem pouco. Não é uma surpresa. Muitos não distinguem um ácaro de um rato – afinal, os dois vivem em colmeias – mas tudo bem, porque os iniciantes absorvem o conhecimento e aprendem rapidamente. Eles leem, assistem às aulas, fazem perguntas. Eles ficam gratos por qualquer ajuda que possamos oferecer.

O problema começa no ano dois
Os praticantes que mais sabem, os que sabem tudo o que há para saber sobre as abelhas, estão no segundo e terceiro anos. Se temos uma pergunta, eles têm a resposta. Se temos uma opinião, eles mostram o que pensam dela – e de você. Eles não leem, porque acham que escrevem melhor. Eles não ouvem, porque eles acham que falam melhor.

Acredite em mim, eles são prodígios da apicultura. Se precisa de uma resposta rápida e de uma opinião dogmática, eles são as pessoas que você precisa ver/ouvir/ler. Se quiser uma explicação não temperada com nuances, absoluta e universal são eles que a fornecem. Estou feliz por eles, pois se deleitam com seu mar de conhecimento.

Depois disso, tudo é uma ladeira escorregadia
Então, cerca do quarto ano, algo acontece – o conhecimento deles se desgasta. Não é que eles saibam menos, mas de repente eles percebem a complexidade da apicultura. Eles percebem que aprenderam apenas a ponta do iceberg.

Estes apicultores mais experientes consideram que as questões são mais complexas do que simples. Eles veem as respostas como multifacetadas, não únicas e absolutas. À medida que o conhecimento aumenta, as respostas ficam mais longas, começando com frases como “Depende” ou “Pode ser várias coisas” ou “Preciso de mais detalhes”.

A árvore do conhecimento
De volta à minha publicação de 2013, comparei o caminho de aprendizagem à árvore do conhecimento. Os apicultores do primeiro ano ocupam o solo, onde a árvore penetra no solo. Os apicultores do segundo e terceiro ano vivem no tronco, onde tudo é liso, bem definido e organizado. Aqueles que já estão nisto há mais tempo estão nos galhos, galhos e galhos, onde cada pergunta tem uma resposta complexa e todos os caminhos estão obscurecidos por folhas.

Apicultores experientes assistem a palestras, leem artigos científicos e fazem experiências. À medida que seu conhecimento aumenta em múltiplos degraus, eles sentem que sabem menos, mas querem saber mais. Eles ficam maravilhados com as abelhas, hipnotizados, humilhados. Nunca têm respostas rápidas, apenas opiniões bem pensadas temperadas com a experiência e a constatação de que, com as abelhas, não existem respostas simples.

Antes de saber sobre o Efeito Dunning-Kruger, imaginei os apicultores do segundo e terceiro anos no tronco de uma árvore onde tudo é simples e fácil de entender. Mais tarde, à medida que nosso conhecimento se expande, nos encontramos entre os ramos onde todos os problemas são complexos e todas as perguntas têm respostas múltiplas.

Nota: * sobre o efeito Dunning-Kruger há inúmeros textos na net. Este é um entre outros: https://super.abril.com.br/comportamento/o-efeito-dunning-kruger-quanto-menos-uma-pessoa-sabe-mais-ela-acha-que-sabe/

viabilidade de imagens térmicas na detecção de ninhos da Vespa velutina

“Resumo: A Vespa velutina é uma espécie invasora de vespas que está a colonizar a Europa, provocando impactos consideráveis ​​nas abelhas, na apicultura e na biodiversidade. As estratégias de controle e alerta precoce baseiam-se principalmente em planos de monitorização e procedimentos de detecção e destruição de ninhos. Ferramentas tecnológicas (radar harmónico e radiotelemetria) têm sido desenvolvidas para aumentar as probabilidades de detecção de ninhos em novos surtos. Uma vez que as vespas são capazes de regular a temperatura do ninho, a termografia pode representar uma técnica adicional que pode ser usada, tanto isoladamente quanto em apoio a outras técnicas. Neste estudo, a viabilidade da imagem térmica na detecção de ninhos de V. velutina foi avaliada em condições controladas. A influência de diferentes variáveis ​​ambientais e operacionais (hora do dia, presença / ausência de folhas cobrindo o ninho, distância entre o ninho e o operador) foi testada em três ninhos detectados em agosto de 2018 na Itália. Todos os ninhos foram detectados por imagens térmicas, mas as variáveis ​​ambientais e operacionais afetam sua detecção. A diferença de temperatura entre os ninhos e os arredores atinge o máximo antes do nascer do sol e sem a cobertura das copas das árvores. Embora os ninhos fossem visíveis em alguns casos a partir de 30 m, a detectabilidade foi maior em distâncias menores, mesmo que essa variável também possa depender da resolução da câmera infravermelha. Um aumento na temperatura ambiente também gera uma diminuição na detectabilidade do ninho. Embora possam ocorrer algumas limitações, esses resultados mostram a aplicabilidade da termografia na detecção de ninhos de V. velutina antes do início da fase reprodutiva e, consequentemente, sua potencialidade em estratégias de controle.”

Aplicação de imagens térmicas para detecção de ninhos de V. velutina: (A) ninho número um; (B) ninho número dois; (C) ninho número três; (D) ninho número um pela manhã a 30 m do operador; (E) ninho número um à noite a 30 m do operador.

“[…] O aumento da temperatura ambiente durante o dia pode limitar a detectabilidade dos ninhos, devido à maior temperatura do ar e à presença de raios solares na folhagem das árvores. Além disso, V. velutina é predominantemente diurna; uma vez que a temperatura do ninho está positivamente correlacionada com o número de indivíduos dentro do ninho, pode-se supor que a diferença de temperatura entre o ninho e seu meio envolvente está no seu máximo antes do nascer do sol, quando todos as vespas ficam dentro do ninho e a temperatura ambiente do entorno atinge o mínimo. Pelo contrário, a detectabilidade diminui após o nascer do sol, quando a temperatura ambiente atinge valores semelhantes à temperatura interna dos ninhos de vespas. Isso pode representar um limite no uso destas câmeras em países do sul da Europa caracterizados por altos valores de temperatura durante o verão, enquanto em países mais frios esta variável pode ter menos influência na detectabilidade do ninho. A distância entre o ninho e o operador que realiza a amostragem parece influenciar a detectabilidade do ninho, mas este efeito pode estar relacionado com resolução da câmera usada para este estudo (320 × 240 px). Uma vez que câmeras de infra vermelhos com uma resolução mais alta estão disponíveis no mercado (por exemplo, 1024 × 768 px), é possível supor que o efeito desta variável pode diminuir com um equipamento de qualidade superior, com um consequente aumento na detectabilidade do ninho.[…]”

fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/1744-7917.12760

das plantas às abelhas: alguns detalhes a considerar para enriquecer o pasto apícola

Marla Spivak, em 2013, foi muito clara e enfática quando defendeu:

Marla Spivak, conceituada investigadora apícola.

O aspecto básico presente no problemático desaparecimento das abelhas está no facto de refletir uma paisagem onde as flores estão a desaparecer, assim como um sistema alimentar disfuncional. Precisamos de uma grande diversidade de flores ao longo de todas as estações de crescimento das colónias de abelhas, da primavera ao outono. Precisamos de bermas de estradas semeadas com flores para as nossas abelhas, e também para as borboletas, pássaros e outros animais selvagens. Precisamos de pensar novamente em voltar a fazer culturas de protecção e pousio que nutram os nosso solos assim como as nossas abelhas. Precisamos de diversificar as culturas nas nossas fazendas/quintas. É preciso plantar/semear plantas nos limites destes terrenos e que interrompam o deserto verde das monoculturas, assim como corrigir o sistema alimentar disfuncional que criámos.” Detalho nesta publicação algumas razões e linhas de orientação que devem presidir as nossas acções de enriquecimento do pasto apícola.

Uma vez que as abelhas utilizam recursos de uma grande variedade de plantas (> 40.000 espécies são consideradas ter importância para as abelhas; cada uma com diferentes épocas de floração e oferecendo diferentes recursos (néctar, pólen ou ambos), selecionar uma mistura adequada de espécies de plantas pode ser um desafio.

O néctar (que é convertido em mel) é importante para a colónia porque fornece sua principal fonte de carboidratos (energia), necessários para alimentar as atividades diárias, como termorregulação, produção de cera e voo. O valor das plantas de néctar para a apicultura varia consideravelmente, mas é determinado, na maior parte, pelo seu potencial de produção de mel (potencial melífero). Isso depende do número total de flores que a planta produz, da quantidade de néctar-açúcar secretado por cada flor (determinado pelo volume e concentração do néctar) e da duração e regularidade da floração das plantas. Plantas com potencial melífero muito alto (> 500 kg / ha / estação) são particularmente valiosas. No entanto, o valor da planta também depende da comercialização e das propriedades do mel produzido, incluindo sua cor, sabor, aroma, densidade, viscosidade, cristalização e bioatividade. Os tipos de mel com qualidades desejadas ou comercializáveis, como propriedades antibacterianas, provavelmente atingirão um alto preço de mercado para o apicultor. Se as plantas de alto valor também tiverem um alto potencial melífero, os resultados económicos serão consideravelmente melhorados.

Plantas de pólen são igualmente importantes para a apicultura e fornecem a principal fonte de proteína, lipídio, vitamina e ingestão de minerais das colónias, necessárias para a alimentação da criação larvar. Estes nutrientes também são necessários para crescer e reparar tecidos corporais, construir células de gordura, aumentar a imunidade e resistência a doenças e longevidade da colónia. O valor das plantas produtoras de pólen para a apicultura varia consideravelmente, devido a grandes diferenças na quantidade de pólen produzida, e a composição química e benefício nutritivo do pólen. O conteúdo de proteína bruta do pólen é particularmente importante e varia de 2% a 60% para plantas polinizadas por insetos. No entanto, os níveis ideais necessários para a criação variam de 23% a 34%. As colónias que consomem pólen dentro desta faixa produzem significativamente mais criação e operárias mais resistentes, têm melhores taxas de sobrevivência e longevidade e um maior potencial para colectar recursos e produzir mel. No entanto, há algumas evidências de que níveis elevados de proteína bruta (> 38%) em dietas artificiais são deletérios/prejudiciais para as colónias. Embora não esteja comprovado para dietas naturais, este efeito requer mais investigação.

O equilíbrio dos aminoácidos essenciais também é um indicador importante do valor nutritivo do pólen. Dez aminoácidos essenciais são necessários em diferentes quantidades mínimas para o crescimento e desenvolvimento da colónia. Infelizmente, o pólen produzido por muitas plantas com flores é deficiente em um ou mais aminoácidos essenciais. Consequentemente, colónias mantidas em fontes de pólen limitadas podem ser suscetíveis a doenças (particularmente infecção fúngica por Nosema), produzir pouca ou nenhuma criação e podem perecer completamente. O componente não proteico do pólen (por exemplo, lipídios, vitaminas e minerais) também é considerado importante, mas seu papel não é bem compreendido actualmente. Para reduzir o risco de qualquer uma das deficiências nutricionais acima mencionadas, é sugerido o plantio de uma mistura de espécies de plantas com flores. Diretrizes provisórias sugerem um mínimo de doze espécies de plantas (três a cinco florescendo simultaneamente) podem ser suficientes para manter colónias populosas. No entanto, como o pólen pode ser deficiente em um ou mais nutrientes, será importante ter como alvo combinações de espécies nutricionalmente balanceadas. As seleções de plantas devem complementar a fenologia das plantas existentes e preencher quaisquer lacunas no florescimento ou fornecimento de recursos no local e, idealmente, levar em consideração as preferências dos polinizadores.

A qualidade do néctar desempenha um papel significativo nas preferências dos polinizadores, com concentrações de néctar-açúcar (sacarose) entre a faixa de 30% a 50% sendo mais atraentes para as abelhas e oferecendo maiores recompensas calóricas. No entanto, em concentrações maiores (acima de 60%), os néctares tornam-se muito viscosos para uma libação rápida e raramente são coletados pelas abelhas.

As preferências por pólen não são bem compreendidas, mas são comumente preferidas pela disponibilidade e concentração de pólen viável e duração da floração. Finalmente, atrativos (por exemplo, cariofileno), dissuasores e toxinas naturais (por exemplo, cafeína e nicotina) no néctar e pólen também podem desempenhar um papel nas escolhas dos polinizadores, dependendo de sua concentração.

fonte: Picknoll,J.L.;Poot,P.; Renton, M. A New Approach to Inform Restoration and Management Decisions for Sustainable Apiculture. Sustainability, 2021,13,6109

comportamento de invernagem e fisiologia das abelhas de inverno

O comportamento das abelhas na colónia muda dramaticamente conforme a colónia atravessa as diferentes estações do ano. No final da primavera, verão e início do outono, as operárias têm vida curta (cerca de 􏰑30-35 dias) e apresentam uma divisão de trabalho baseada na idade (polietismo). As abelhas mais novas, geralmente com menos de 10 dias de idade, realizam tarefas de amas, as abelhas de meia idade entre 10 e 20 dias de idade envolvem-se em tarefas como construção de favos, armazenamento de alimentos, guarda, enquanto as abelhas mais velhas da colónia atuam como forrageadoras.

No outono, conforme a criação diminui, as abelhas de vida longa (até 8 meses) que sobreviverão ao inverno são produzidas (chamadas ‘abelhas de inverno’). Estas abelhas de inverno formam o aglomerado/cacho termorregulador quando as temperaturas caem. Logo que a criação é reiniciada de forma significativa no final do inverno/início da primavera, a divisão do trabalho é retomada entre as abelhas operárias que hibernaram.

Além destas profundas diferenças de comportamento, as abelhas atravessam mudanças fisiológicas notáveis ao longo das estações. Os níveis da hormona juvenil (JH), vitelogenina (Vg) e proteínas da hemolinfa, bem como o tamanho da glândula hipofaríngea (HPG), estão correlacionados e regulados entre si e variam significativamente entre as amas, forrageiras e as abelhas do inverno (ver infografia em baixo). Resumidamente, os níveis de JH são baixos em abelhas amas e de inverno, e mais altos nas forrageadoras. Em contraste, os níveis de Vg e proteínas hemolínicas são significativamente mais altos e o HPG é maior em amas e abelhas de inverno do que em forrageadoras.

Embora as diferenças fisiológicas em abelhas nutrizes, forrageiras e abelhas de inverno estejam bem documentadas, poucos estudos examinaram as mudanças na fisiologia das abelhas ao longo do inverno. Fluri, um colega de Imdorf no centro suíço de investigação Liebefeld, marcou as abelhas recém-emergidas no outono (início de setembro) e depois analisou-as em janeiro e fevereiro para comparar os níveis de JH, Vg, proteína total e peso da HPG. Curiosamente, não houve diferenças significativas entre as abelhas no outono e no meio do inverno ou no final do inverno. Estes resultados sugerem que as abelhas produzidas no outono já estão no estado fisiológico de “inverno”, e esse estado permanece estável durante todo o inverno. Huang e Robinson descobriram ainda que a taxa de biossíntese de JH diminui do início de outubro a meados de novembro, atinge seu nível mais baixo em meados de janeiro e, em seguida, aumenta acentuadamente em fevereiro e março. O aumento de JH no início da primavera está correlacionado com uma diminuição nos níveis de Vg, níveis de proteína hemo-linfática e o tamanho da HPG; assim, as abelhas que hibernaram retornam ao estado fisiológico de abelha forrageira na primavera.

Interação dos principais fatores fisiológicos em abelhas nutrizes, forrageadoras e de inverno. Os discos coloridos ao lado de cada fator representam a abundância relativa do fator em abelhas nutrizes (verde), abelhas forrageiras (vermelho) e abelhas de inverno (azul). À medida que as abelhas passam da função nutriz para a função forrageadora, os níveis de hormona juvenil (JH) na hemolinfa aumentam. Nas obreiras, a Vitelogenina (Vg) funciona como uma proteína de armazenamento de nutrientes e está envolvida num ciclo de feedback negativo com a JH, isto é, quando os níveis de JH aumentam, os níveis de Vg diminuem e a diminuição do Vg resulta no aumento de JH. Os níveis totais de proteínas da hemolinfa – que incluem Vg e todos os outros tipos de proteínas – são maiores nas abelhas nutrizes do que nas forrageiras. Por fim, as glândulas hipofaríngeas (HPG), que se localizam nas cabeças das abelhas operárias produzem as secreções que constituem a geleia real fornecidas aos demais membros da colónia; o tamanho das HPG é maior em abelhas nutrizes (de 2 até 15 dias de idade). * Projeto gráfico de Harland Patch, Penn State.

fonte: Overwintering honey bees: biology and management, Current Opinion in Insect Science · June 2015

coortes de abelhas de inverno entre agosto e dezembro

Já escrevi algumas vezes sobre as abelhas de inverno, as abelhas que habitam as minhas colónias entre setembro e março. No meu território, estas abelhas dão-me despesa, trabalho e preocupações. Contudo são a peça crítica para tirar rendimento das minhas colónias durante a primavera e verão. Por esta razão procuro conhecer este tipo de abelhas o melhor possível, para lhes dar exactamente o que elas precisam e na quantidade que precisam. A questão fundamental a que procurarei dar resposta numa série de publicações que agora inicio é esta: no meu território, o que fazer para ter o número suficiente de abelhas longevas e saudáveis por enxame durante o outono-inverno e que permitam um bom arranque das colónias em março, que as coloquem na pista certa para atingir os objectivos anuais, com um satisfatório retorno do investimento? O primeiro passo a dar é conhecer o melhor possível estas abelhas de vida longa (diutinus) e os factores que determinam a sua longevidade. Para iniciar esta tarefa socorro-me de uma infografia (retirada do blog The Apiarist) que apresenta as diversas coortes* de abelhas presentes numa colmeia entre os meses de agosto e dezembro (esta infografia é uma razoável aproximação à realidade das minhas colónias tanto quanto fui capaz de observar até à data).

Estrutura de idade das abelhas nas colónias de agosto a dezembro.

Cada cor distinta representa as abelhas criadas numa “janela” de 12 dias. Todas as abelhas presentes antes de 31 de agosto são azuis. A coorte de abelhas dos 12 dias seguintes é amarela, etc. A área ocupada por cada cor indica o número de abelhas de uma coorte de idade específica.

Vemos que a postura de ovos (preto) é insignificante entre o início de outubro e o final de novembro, quando se reinicia.

O gráfico mostra que não há mudança abrupta da produção de abelhas de verão para a produção de abelhas de inverno.

Por exemplo, cerca de 95% das abelhas azuis desapareceram a 1 de dezembro. Das abelhas amarelas, que apareceram pela primeira vez em meados de setembro, cerca de 33% estão presentes em dezembro. Finalmente, a maioria das abelhas cor de limão, que apareceram pela primeira vez no início de outubro, estão presentes no final de dezembro.

A colónia não pára abruptamente de produzir abelhas de verão de vida curta numa data específica e muda para a geração de abelhas de inverno ‘diutinus’ de longa duração. Em vez disso, conforme o final do verão chega e com o início do outono, menos abelhas de vida curta e mais abelhas de vida longa são produzidas.

Observe-se que cada coorte emerge de ovos postos 21 dias antes. A coorte de laranja emergente de 24/09 a 05/10 foi colocada nas primeiras duas semanas de setembro. Isso enfatiza a necessidade de tratar precocemente para reduzir os níveis de ácaros o suficiente para proteger as abelhas de inverno.

Para levar para casa: para conseguir abelhas de inverno saudáveis e suficientemente longevas as minhas colónias devem apresentar um baixo número de varroas e uma carga viral igualmente muito baixa a partir de finais de julho/início de agosto, quando se inicia o primeiro ciclo de criação de abelhas de inverno no território onde as tenho.

*coorte: conjunto de indivíduos que têm em comum um evento que se deu no mesmo período; exemplo: coorte de pessoas que nasceram entre 1960 e 1970. No caso desta publicação, cada coorte é definida pelo grupo de abelhas nascidas em cada “janela” de 12 dias.

varroa destructor: detalhes sobre o processo e estratégia de fecundação

Nesta publicação apresentei alguns dos aspectos, actualmente consensuais na comunidade científica, acerca do ciclo de vida do responsável pelo maior número de baixas de colónias de abelhas melíferas: o ácaro Varroa destructor. Para se chegar aqui foram essenciais múltiplas contribuições de investigações parcelares desenvolvidas ao longo das últimas três décadas. O estudo da varroa resume muito bem algumas das principais características do processo científico: parcelar, gradual, integrativo. As conclusões mais gerais e mais consolidadas provêm de contributos parcelares e replicados que se integram posteriormente num quadro mais geral. Vem isto a propósito do excerto de um texto que traduzo em baixo, sobre as observações realizadas há cerca de 30 anos, que contribuíram para o conhecimento fundamentado dos processos e mecanismos de fecundação do ácaro Varroa destructor de que dispomos hoje.

“Como na prole de uma fêmea varroa apenas um macho é criado, pode-se esperar que este poupe suas forças e que, depois de fertilizar uma fêmea, reserve seu sémen para as fêmeas que surgirem posteriormente. Nossas observações mostraram que a estratégia da Varroa é diferente porque o macho e a jovem fêmea Varroa acasalam um grande número de vezes. Essas repetições podem comprometer a capacidade do macho de fertilizar todas as futuras fêmeas, pois causam um gasto de energia para a formação do esperma. No entanto esses acasalamentos repetidos podem ser benéficos aumentando a fertilidade das novas fêmeas.

Dois argumentos estão a favor desta hipótese. Em primeiro lugar, observamos que o macho aproveita a perfuração na pupa da abelha preparada pela varroa mãe. Graças a esta perfuração, e apesar de suas quelíceras terem se transformado em espermadáctilos, o macho alimenta-se com frequência, o que lhe permite acasalar frequentemente.

Uma ninfa Varroa destructor procura o local de alimentação (indicado pela seta) numa pupa de abelha. Uma vez o buraco na cutícula da pupa encontrado, ela começa a alimentar-se. Os movimentos peristálticos de seu sistema digestivo são visíveis através de sua cutícula.

Em segundo lugar, testamos a seguinte hipótese: o número de acasalamentos influencia a quantidade de espermatozóides armazenados na espermateca das fêmeas. Como as fêmeas se reproduzem em vários ciclos, era muito difícil determinar o número de ovos produzidos por cada fêmea. Por isso utilizámos o número de espermatozoides presentes na espermateca feminina como critério de fertilidade potencial. Conhecemos dois fatos: o número de espermatozóides armazenados na espermateca das fêmeas Varroa é muito baixo (menos de 40 segundo Alberti & Hänel, 1986) e está muito próximo do número máximo de óvulos produzidos pelas fêmeas, 30 (de Rujter 1987).
Para testar essa hipótese, realizamos a seguinte experiência em alvéolos artificiais transparentes contendo pupas de operária: duas fêmeas jovens são juntas a 2 machos. Estes foram retirados de alvéolos naturais. Os acasalamentos são observados em incubadora a 34 ° C e 60% R.H .. Foram considerados acasalamentos os atos sexuais que duraram mais de 6 minutos. Foram determinados três grupos de teste: (A) fêmeas fecundadas por um único acasalamento, (B) fêmeas fecundadas por dois acasalamentos e (C) fêmeas permanecendo 48 horas na presença de machos. Fêmeas mães retiradas da criação operculada foram utilizadas como controles (grupo D). Três dias após o acasalamento, os espermatozoides migram para a espermateca e apresentam um formato fusiforme ou em pera, e posteriormente têm forma de faixa. As fêmeas são dissecadas em solução de Ringer e sua espermateca é extraída, depois dividida entre lâmina e lamela e os espermatozóides são contados ao microscópio.

Acasalamentos numerosos: garantia de fertilidade
Nenhuma das cinco fêmeas acasaladas apenas uma vez tinha espermatozoides na espermateca, enquanto nas quatorze fêmeas que acasalaram duas vezes, a contagem de espermatozoides variou de 0 (5 indivíduos) a 26 espermatozoides. Com exceção de uma, as onze fêmeas que permaneceram 48 horas na presença dos machos possuíam mais de 24 espermatozoides. Estes resultados mostram que os acasalamentos repetidos observados aumenta o número de espermatozoides armazenados por uma fêmea. Eles também indicam a importância do fator tempo para o parasita.

Assim, as primeiras duas filhas são provavelmente melhor fertilizadas do que a terceira, uma vez que acasalaram mais de oito e quatro vezes, respectivamente. A terceira fêmea só pode ser acasalada duas vezes por falta de tempo, pois a abelha se metamorfoseou em adulta.

Para concluir
Depreende-se de nossas observações que o parasita Varroa está com pressa e que, para garantir a fecundação de seus descendentes, os indivíduos utilizam um ponto de encontro que serve de local de acasalamento. Para que todas as fêmeas sejam fertilizadas, as fêmeas mais novas são preferidas em relação às mais velhas. As fêmeas mais velhas acasalam tão frequentemente quanto possível, o que aumenta sua fertilidade potencial.
No seu hospedeiro original, a abelha indiana (Apis cerana), a Varroa procria quase exclusivamente em cria de zângãos, que é menos protegida por abelhas. Nas abelhas europeias a defesa das abelhas contra a Varroa é fraca e a eficiência deste parasita em se reproduzir é claramente visível.”

fonte: Donzé G., Fluri P, Imdorf A. (1998) Pourquoi les varroas s’accouplent-ils si souvent? La santé de l’abeille 165 (5-6) 141-146.

alimentação estimulante: uma falácia com um século?

Anton Imdorf é o investigador europeu com os temas/linhas de investigação mais pertinentes que conheço. Por ex., fez investigação aprofundada sobre a longevidade das abelhas e sua dinâmica populacional ao longo das estações — ver aqui. Entre outros objectos de estudo debruçou-se sobre os efeitos da alimentação estimulante na população de abelhas. Sobre este tema traduzo em baixo excertos de uma brochura, com Imdorf como primeiro autor, que suspeito vá deixar alguns (muitos?) boqiabertos (muito possivelmente até “formadores do IEFP”!). Os meus leitores já se terão apercebido que deixei de utilizar alimentação estimulante há muito, por ter a impressão que o verdadeiro estimulante das minhas colónias é o bom fluxo de pólen que se inicia em meados de fevereiro no território, associado ao seu bom estado sanitário. Contudo uma coisa é confiarem nas minha impressões (eu também não confio nelas a toda a hora!), outra coisa, mais sólida acredito eu, é apresentar pela mão de um grande investigador apícola a trabalhar na Europa, Anton Imdorf, resultados devidamente controlados.

“Durante os períodos em que o néctar é escasso, muitos livros especializados recomendam, desde o início do século passado, alimentar as colónias de abelhas regularmente, mas não em abundância, de modo a simular a atividade de colheita durante o fluxo de néctar. Com esta alimentação estimulante, a rainha deve aumentar a postura. Este aumento da atividade de criação deve levar a um aumento na população de abelhas e, assim, permitir melhor produção de mel e uma melhor invernada. É questionável até que ponto a população de abelhas é influenciada por estas medidas, como a alimentação estimulante. Desde a década de 40 do século passado, esta tem sido estudado no contexto de vários trabalhos de investigação.

Nutrição estimulante da primavera com soluções açucaradas
Foi Butler quem realizou os primeiros testes científicos sobre este assunto em 1946, alimentando grupos de colónias com xarope de açúcar concentrado, xarope de açúcar diluído ou uma mistura de substituto do pólen e xarope de açúcar. Colónias dos grupos alimentadas dessa maneira não mostraram aumento da criação ou desenvolvimento de colónias mais rápido em comparação com colónias de controle sem alimentação estimulante. As colónias alimentadas com xarope concentrado até se desenvolveram menos bem do que as colónias de controle. Butler considerou a alimentação estimulante da primavera um desperdício de comida.

Em estudos na Liebefeld no início dos anos 1980, os pesquisadores testaram xaropes de açúcar prontos para uso disponíveis comercialmente, xaropes de açúcar 1: 1 e xaropes de açúcar com proteína adicionada. Os xaropes comerciais e as soluções de água com açúcar foram todos bem tolerados pelas abelhas. A alimentação não levou a nenhum aumento na criação ou população de obreiras em comparação com as colónias de controle que não receberam este tipo de alimentação. As colónias alimentadas não foram estimuladas a coletar mais pólen ou aumentar a colheita de mel. As colónias alimentadas com água com açúcar suplementada com proteína tiveram um desempenho notavelmente pior do que os outros grupos, possivelmente atribuíveis à fermentação do alimento.”

fonte: ALP forum no 68 | février 2010

Notas: 1) outros conhecidos divulgadores do maneio apícola, como Roger Patterson e Michael Bush, desvalorizam também o pretenso efeito positivo da alimentação estimulante na postura da rainha; 2) numa próxima publicação abordarei os efeitos da alimentação estimulante no fim do verão.

vespa velutina em confronto com cinco vespas nativas da Coreia do Sul

Na publicação anterior escrevi: “Os níveis populacionais de V. velutina são bastante baixos na Ásia em comparação com a Europa, provavelmente devido à competição com muitas outras espécies de Vespa por recursos alimentares e locais de nidificação (Matsuura, 1984).” Apresento em baixo o sumário de um estudo sul coreano, publicado em 2020, sobre a agressividade interespecífica da exótica V. velutina nigrithorax (introduzida na Coreia do Sul em 2003) e cinco outras espécies de vespas nativas.

Comportamento agressivo entre uma vespa alienígena invasora, Vespa velutina, e cinco espécies de vespas nativas coreanas (Vespa simillima, Vespa mandarinia, Vespa analis, Vespa crabro e Vespa dybowskii).
A: mordendo, V. velutina morde V. simillima usando suas mandíbulas, B: levantando antenas e sacudindo as asas, V. mandarinia ameaça V. velutina levantando sua antena e sacudindo suas asas quando V. velutina se aproxima, C: matando, V. mandarinia caça V. velutina, D: forçando para baixo e jogando, V. analis atira V. velutina, E: batendo ou empurrando com a cabeça, V. crabro empurra V. velutina com sua cabeça, F: abre a mandíbula, V. dybowskii ameaça V .velutina com suas mandíbulas. Códigos das espécies: vel: V. velutina, sim: V. simillima, homem: V. mandarinia, ana: V. analis, cra: V. crabro, dyb: V. dybowskii.

“Título: Hierarquias interespecíficas de agressividade e tamanho do corpo entre a vespa alienígena invasora, Vespa velutina nigrithorax e cinco vespas nativas na Coreia do Sul

Sumário: A vespa alienígena invasora, Vespa velutina nigrithorax, tem-se expandido continuamente desde sua invasão da Coreia em 2003. Aqui, comparamos os comportamentos agressivos e o tamanho do corpo da V. velutina nigrithorax com cinco espécies de vespas nativas para identificar as hierarquias interespecíficas que contribui para a propagação desta espécie. Os comportamentos agressivos foram classificados em 11 categorias e cada interação foi pontuada como vitória, derrota ou empate. Como resultado, V. velutina foi superior a V. simillima em 153 lutas em que V. velutina venceu 71% e apresentou uma alta incidência de comportamento ameaçador. V. mandarinia superou V. velutina em 104 lutas onde V. mandarinia ganhou 91% e o comportamento de agarrar foi frequente. V. analis foi superior a V. velutina em 67 lutas em que V. analis venceu 76% e mostrou uma alta quantidade de comportamento ameaçador. V. crabro foi superior a V. velutina em 93 lutas em que V. crabro venceu 73% e apresentou um alto índice de comportamento ameaçador. V. dybowskii foi superior a V. velutina em 132 lutas em que V. dybowskii venceu 91%, e apresentou um alto índice de comportamentos de ameaça e luta. O tamanho corporal de V. velutina era maior do que V. simillima (embora não estatisticamente significativo) e menor do que todas as outras espécies de Vespa. Portanto, de acordo com os resultados deste estudo, as baixas hierarquias interespecíficas de V. velutina parecem ser uma das principais causas de taxas de propagação mais lentas do que tem mostrado na Europa. No entanto, com o tempo, sua densidade foi aumentando gradualmente no interior da floresta, na qual parece estar superando suas desvantagens e expandindo seu alcance, possivelmente porque grandes colónias e boas habilidades de voo facilitam a obtenção de alimento.”

fonte: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0226934

vespa velutina: repostas a questões de um companheiro apicultor

Um companheiro apicultor colocou-me algumas questões num grupo de apicultores do Facebook. Como me questionou sobre aspectos do ciclo de vida das V. velutinas e da biologia dos reprodutores (machos e fundadoras), frequentemente abordados por muitos de nós, decidi responder neste espaço para lhes dar outra visibilidade. As respostas obviamente não decorrem das minhas observações pessoais, sim das observações que investigadores fizeram no terreno ao longo dos últimos anos. Estas observações foram realizadas em território francês, contudo são confirmadas por observações realizadas noutras zonas do mundo. Em Portugal as coisas passar-se-ão da mesma forma? A minha ideia é que em alguns aspectos sim, noutros poderá haver diferenças. Por exemplo, tenho ouvido referências pontuais indicando que a hibernação das fundadoras no litoral terá um período muito mais curto ou será mesmo inexistente. Não me surpreende que assim seja. Sabemos que as velutinas despertam da sua hibernação com temperaturas diurnas acima dos 12-13ºC; sabemos que no litoral os recursos nectaríferos estão presentes e são relativamente abundantes no outono/inverno; na conjugação destes dois factores em regiões do litoral do nosso país pode estar a explicação para o curto período de hibernação ou mesmo a sua inexistência. Tendo em consideração que se trata de seres vivos, cujo ciclo de vida é condicionado por factores abióticos (temperatura e humidade) o estudo do seu ciclo de vida deve ser cada vez mais local. Enquanto não disponho de dados locais publicados vou-me socorrendo dos estudos existentes, que no pior dos casos serão uma aproximação à realidade local.

Ciclo de vida comumente divulgado e aceite pelas entidades oficiais, baseado em estudos internacionais (a imagem da vespa colocada no hexágono relativo ao mês de novembro não corresponde a uma V. Velutina, um pormenor!).

P: Neste momento existem ou não machos para fecundar as vespas? R: A esmagadora maioria dos machos de V. velutina é produzida no outono, juntamente com as fundadoras (fenómeno de sincronização do surgimento dos indivíduos reprodutores comum nas vespas desta e outras espécies). Contudo tem-se encontrado ninhos na primavera com muitos machos. Estes machos primaveris e precoces aparentam ter um potencial reprodutivo mais limitado. Por outro lado é invulgar encontrar futuras fundadoras para acasalar nessa altura precoce do ano. Julga-se que a longevidade média dos machos não deverá ultrapassar os 40 dias.

Dimorfismo sexual em Vespa velutina. A: cabeças masculinas (esquerda) e operárias (direita) de V. velutina. B: Visão ventral do abdómen de um macho de V. velutina. As setas indicam a localização dos dois pequenos pontos característicos deste sexo. C: Visão ventral do abdómen de uma operária de V. velutina. O abdómen é pontiagudo e aqui o ferrão é visível (seta). (Fotos J. Poidatz).

P: Se a rainha morrer alguma obreira passa a por ovos? R: Rainhas e operárias têm ovários com um número semelhante de ovaríolos, bem como uma espermateca. A morte das rainhas, permite que algumas operárias desenvolvam seus ovários (Spradbery 1973) e ponham óvulos não fertilizados (haplóides), que darão origem a machos (Foster & Ratnieks 2000).

P: Na literatura as vespas só fecundam em outubro/ novembro e depois hibernam. Sabe-me dizer se é assim? R: Para o sucesso da espécie é necessário que a emergência/”nascimento” de machos férteis e futuras fundadoras seja síncrona, isto é, aconteça na mesma altura do ano. Do que se observou até agora esta sincronia acontece nos meses de outono. As fundadoras fecundadas hibernam isoladamente ou em pequenos grupos de 2 ou 3 fundadoras. Saem da hibernação quando as temperaturas sobem acima de 12-13 ºC num período de vários dias seguidos. Só depois de hibernarem completam a maturação dos ovários e iniciam a postura.

P: O que come a rainha? R: líquidos açucarados que recebe das obreiras e líquidos açucarados ricos em aminoácidos que recebe das regurgitações das larvas.

Nota: Os níveis populacionais de V. velutina são bastante baixos na Ásia em comparação com a Europa, provavelmente devido à competição com muitas outras espécies de Vespa por recursos alimentares e locais de nidificação (Matsuura, 1984). Na França, densidades extremamente altas de ninhos foram relatadas: 8 ninhos por km2 em zonas rurais a 23 ninhos por km2 numa área urbana (Franklin et al., 2017).

Fonte principal: De la biologie des reproducteurs au comportement d’approvisionnement du nid, vers des pistes de biocontrôle du frelon asiatique Vespa velutina en France,  Juliette Poidatz;

Fonte secundária: https://www.cabi.org/isc/datasheet/109164