ineficácia dos tratamentos para a varroose: para lá da resistência

Todos os tratamentos contra a varroose num momento ou outro são ineficazes. Nenhum deles foi eficaz de todas as vezes que foi aplicado. Esta ineficácia, que surge mais frequentemente em certos anos ou em certos apiários, é por si só a demonstração de resistência da varroa aos princípios activos utilizados? Se a resposta fosse um simples sim, então teríamos de concluir que existem varroas resistentes, por exemplo, ao ácido fórmico ou ao ácido oxálico sempre que ele não é eficaz — pelos relatórios que tenho traduzido, os apicultores da região da Alsácia que utilizam o fórmico, o oxálico ou o timol identificam ano após ano uma percentagem de mortalidade de colónias a rondar os 30%.

Até à data, ninguém informado aceita que seja a resistência ao fórmico ou ao oxálico a explicação para a ineficácia destes nos casos em que a sua aplicação não resultou efectiva. Os factores de ineficácia apontados são variados mas podem resumir-se na frase “too little, too late” (pouco e tarde).

Contudo, se facilmente se aceita que as razões da elevada ineficácia destes tratamentos orgânicos não está na resistência das varroas aos mesmos, já no caso do amitraz, presente em três medicamentos homologados em Portugal, o Apivar, o Apitraz e o Amicel, é a resistência a explicação mais ouvida e utilizada para explicar os casos de ineficácia. Este pré-juízo em relação ao amitraz pode ser muito prejudicial à apicultura nacional:

  • Primeira razão: pode deixar a ilusão numa boa parte dos apicultores que existem tratamentos alternativos, como o fórmico ou o oxálico que, sem casos documentados de varroas resistentes, são sempre eficazes. Pensar assim é um erro crasso — os apicultores que estão em Bio que abram o livro e tornem público as dificuldades que passam e a mortalidade de colónias que infelizmente constatam nos seus apiários, isto apesar de utilizarem tratamentos para os quais as varroas não têm resistência. Os tratamentos orgânicos são sempre eficazes, até ao momento em que o não são.
  • Segunda razão: não descartando a possibilidade de as varroas terem aumentado um pouco a resistência ao amitraz, isto é serem menos susceptíveis às quantidades que as matavam no passado, a explicação da ineficácia dos tratamentos homologados com amitraz a partir exclusivamente da ideia de resistência contribui para não se explorar devidamente a hipótese que a ineficácia se deveu sobretudo ao facto de ter sido “too little, too late” a que eu acrescento “too slow” (lento).

Nada como ouvir a JoJo a discorrer sobre o conceito “too little, too late”, para o interiorizarmos devidamente :-).

Nota 1: deixo o apelo dos responsáveis pelo inquérito em Portugal: por favor respondam ao mesmo. O link: https://bgoodwp4.ugent.be/home/portuguese-version/

Nota 2: Sugiro a leitura desta publicação em complemento.

os resultados da minha estratégia de combate à varroa este ano: o sumário que fiz ao Randy Oliver

Tomei conhecimento da boa notícia sobre a sua saúde há dois dias e aproveitei a oportunidade para o felicitar e lhe dar o feedback sobre os resultados globais da minha estratégia de combate à varroa este ano. Em baixo o e-mail que enviei hoje ao Randy Oliver.

“Good morning, Randy!

I’m very happy that you are doing well, as you wrote in Bee-L. 

I continue to translate some excerpts from SBeekeeping for my blog. I learn a lot from what you do and write. 
This year I treated my colonies three times during the year: in February and August with apivar strips and I did an intermediate treatment in June with oxalic acid cardboard strips from the Polish manufacturer Lyson. In 90% of the colonies this strategy gave good results, however in October I found bees with deformed wings in 8% and in 2% PMS. About 80% of these colonies, where the strategy was not effective, were very strong hives throughout the season. Next year I am planning to carry out two intermediate treatments with the oxalic strips in the strongest hives.

Randy I wish you and your family the best of health. 
A big hug from your friend,
Eduardo Gomes”

[Estou muito feliz que você esteja indo bem, como escreveu no Bee-L.

Continuo traduzindo alguns excertos do SBeekeeping para o meu blog. Aprendo muito com o que você faz e escreve.
Este ano tratei as minhas colónias três vezes durante o ano: em fevereiro e agosto com tiras de apivar, e fiz um tratamento intermédio em junho com tiras de cartão com ácido oxálico do fabricante polaco Lyson. Em 90% das colónias esta estratégia deu bons resultados, porém em outubro encontrei abelhas com asas deformadas em 8% e PMS em 2%. Cerca de 80% destas colónias, onde a estratégia não foi eficaz, foram colmeias muito fortes durante a temporada. No próximo ano, planeio realizar dois tratamentos intermédios com as tiras de oxálico nas colmeias mais fortes.

Randy, desejo a você e a sua família muita saúde.
Um grande abraço do seu amigo,
Eduardo Gomes “]

Foto de um ninho tirada há cerca de 2 semanas atrás. Estão bem visíveis as duas principais modificações à estratégia que efectuei este ano: passei a utilizar 3 tiras de apivar nos ninhos muito povoados e fiz um tratamento intermédio com 3 tiras de ácido oxalico (os restos destas tiras são visíveis sobre os travessões dos quadros).

Nota: Por comparação com os resultados do ano passado (cerca de 20% de colónias com níveis elevados de varroose, em setembro/outubro), a estratégia deste ano melhorou notavelmente os resultados. Espero que a do próximo ano siga esta trajectória de melhoria.

a análise do sector apícola com vista à elaboração do Plano Estratégico da PAC 2023-2027

Em baixo deixo alguns excertos do relatório de Análise Sectorial da Apicultura, elaborado pelo do GPP (Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral), para dar resposta à elaboração do Plano Estratégico da PAC 2023-2027.

Da minha leitura, as linhas directrizes básicas mantêm-se relativamente ao último relatório: o sector apícola é reconhecido como um sector essencial para a agricultura pelo papel relevante que tem na polinização, … e continua a não ter medidas específicas de apoio directo. Se isto não é incoerente, alguém que encontre melhor qualificador. Como já tive oportunidade de referir neste blog, há uns anos atrás, a maior ameaça ao sector não é a varroa, a velutina, os pesticidas, a fragmentação do território, as alterações climáticas, …; é o baixo e imprevisível retorno do investimento financeiro e humano feito. Sem um conjunto de ajudas do estado português e UE, justas e efectivas, que garanta alguma segurança e tranquilidade a quem investe no sector, o presente e o futuro não são difíceis de descrever: quem está no sector tenderá a diminuir o efectivo ou até a abandoná-lo e os jovens, que deveriam ir substituindo os mais velhos, dificilmente o farão por não encontrarem os atractivos mínimos para o considerar uma oportunidade profissional e empresarial.

Ficam os excertos do relatório que achei relevantes e oportuno destacar nesta publicação.

A apicultura é praticada em todos os Estados-Membros da UE, sem exceção, sendo caracterizada pela diversidade das condições de produção, em que os rendimentos e as práticas apícolas representam um pequeno setor, mas considerado essencial para a agricultura por causa papel relevante da polinização.” (pg. 4)

O setor apícola em Portugal, tal como no resto da União Europeia, é uma atividade tradicionalmente ligada à agricultura, normalmente encarada como um complemento ao rendimento das explorações, sendo porém de assinalar um crescente universo de apicultores profissionais, para os quais a apicultura é a base das receitas de exploração. A apicultura representa, contudo, um serviço vital para a agricultura através da polinização e contribui para a preservação da biodiversidade ao manter a diversidade genética das plantas e o equilíbrio ecológico.

É uma atividade que desempenha um papel relevante no aproveitamento integrado e economicamente sustentável do espaço rural, na animação do nosso tecido rural e na ligação do homem urbano àquele meio, que deve, como tal, ser avaliada tendo por base não só os fatores de produção envolvidos e o valor dos produtos diretos da atividade, como o mel, a cera, o pólen, a própolis, a geleia real e as abelhas, mas também outros fatores da ação na interação humana com o meio em que se desenvolve.

Trata-se contudo, de um setor com uma baixa taxa de profissionalização, com fraca concentração de oferta, mas por outro lado com um crescente interesse do consumidor e da indústria (por ex. cosmética e farmacêutica), não só do produto mel, mas também de outros produtos inerentes à atividade apícola.” (pg. 7)

Segundo dados relativos à conta de cultura da atividade apícola em Portugal, em 2018, verifica-se que:

A atividade apícola não profissional, é atribuída uma produtividade de 15 Kg por colmeia e em que se apresenta o caso de um apicultor com 25 colmeias;

Um apicultor com uma dimensão média de 30 colmeias, correspondente à dimensão média do apicultor não profissional (ou seja, a 90% dos apicultores portugueses) apresenta um custo total de 91€/colónia;” (pg.13)

Relativamente ao triénio anterior o REL [Rendimento Empresarial Líquido] médio passou de 33.642 euros [2013-2015] para 15.459 [2016-2018] euros o que corresponde a uma diferença de – 46 %.

Esta diferença deve-se à diminuição da produção de mel por colmeia (22 para 15Kg nos apicultores profissionais e não profissionais e 33 para 22Kg nos apicultores profissionais com transumância) e à diminuição do preço dos enxames de 75€ para 55 €). Por outro lado, nos encargos com consumos intermédios (custos variáveis) a reposição de ceras e a alimentação artificial aumentaram 67% (de 6 para 10€/colmeia e de 4,5 para 7,5 €/colmeia, respetivamente).” (pg.16)

O setor da apicultura não tem medidas de apoio direto específicas.” (pg. 29).

Sobre as ajudas que proponho já escrevi aqui de forma relativamente detalhada.

fontes: https://www.gpp.pt/images/PEPAC/Anexo_NDICE_ANLISE_SETORIAL___APICULTURA.pdf ; https://www.gpp.pt/index.php/pepac/plano-estrategico-da-pac-2023-2027-consulta-alargada

o catedrático que acarreta pedras

Soube ontem que um apicultor veterano da nossa praça, resolveu destratar-me nas minhas costas chamando-me depreciativamente de apicultor “catedrático”. Não fico admirado que alguns não gostem de mim, vivo bem com o desamor/ódio de alguns. Nunca procurei agradar a ninguém. E apesar disso (ou por isso) agrado a muitos mais. Vamos aos factos.

Sei de fonte muito segura, através das estatísticas do WordPress, o servidor que abriga este blog, que as minhas publicações são vistas, em média, por cerca 10 mil leitores todos os meses (destes, 70% são leitores frequentes). Os leitores atentos já perceberam há muito que não sou de dar receitas. Que não sou de ter certezas. Que procuro sempre circunstanciar as minhas observações aos meus apiários, no seu território. Que tenho uma aversão a proclamar verdades universais e absolutas. Que apenas me atrevo a dizer o que faço, porque o faço, e que resultados obtenho. Alguns leitores, que vão escrevendo no espaço dos comentários, dizem-me que algumas das minhas opções também têm resultado quando as ensaiam nos seus apiários. Alguns mais corajosos, digo eu, têm inclusive dado os seus testemunhos que aqui tenho publicado com muito gosto. É este respeito que tenho conquistado entre os mais novos, mas inclusivamente entre os “mestres” da nossa praça, ainda que não o admitam (nunca o admitirão, eu sei).

Se estas publicações fossem de um arrogantezinho catedrático, que publica um conjunto de tretas sem adesão com a realidade, então 10 mil leitores/mês seriam uns néscios. Mas não, não o são! São pessoas como eu, apaixonados pelas abelhas e com mais dúvidas informadas que com certezas cegas, à procura de um caminho para fazer melhor e com o espírito aberto.

Se sou um “catedrático”, sou um catedrático com muitas dúvidas, que sustenta o que diz e faz no que observa e que, quando não é possível observar, vai e lê o que observam os investigadores em experiências devidamente controladas. Se sou um catedrático é porque tenho aversão a afirmações peremptórias fruto de “achismos”, porque tenho uma atitude de cepticismo informado e sou muito mal-disposto com os vendilhões de ilusões, que não fazem a arte avançar, apenas procuram o lucro com os incautos ao virar de cada esquina. Para estes não tenho complacência, daí não gostarem de mim nem das minhas intervenções.

O mais belo e eterno livro escrito em língua portuguesa, os Lusíadas, termina os seus dez cantos com a palavra “inveja”. Das poucas certezas que tenho, sei que quem me apelida de catedrático sofre do pior mal que acomete frequentemente alguns portugueses, o mal de inveja.

Hoje fiz 300 km de urgência e andei a fazer o meu trabalho, sem o adiar para um dia em que já é tarde demais. Andei a colocar pedras sobre os tectos das colmeias para não levantarem voo com as rajadas de vento que se prevêem nos próximos dias. Hoje, uma vez mais sujei as mãos, transpirei, fiz o que tinha que fazer para conseguir o que poucos conseguem no nosso país: viver exclusivamente das abelhas (e ainda ter algum tempo para outras coisas, como ir escrevendo uma linhas neste blog).

Ah, e sou pouco dado a um outro mal, que me parece demasiado frequente nas nossas gentes, e que o meu querido filho tão certeiramente apelidou de “ofendidismo”. Como não me dou a esses achaques, não vou deixar de publicar e comentar o que desejar e me apetecer. E que outros “catedráticos” apareçam a descrever o seu trabalho no campo e as leituras e os conhecimentos actualizados que vão adquirindo. Que falta fazem!

Leio investigação controlada à segunda-feira e acarreto pedras para colocar sobre as minhas colmeias à terça. Esta é uma frase que me define de forma cristalina.

deslocar colmeias alguns metros: quando as abelhas nos trocam as voltas

Ao longo destes anos com abelhas, muito raramente tive de deslocar colmeias apenas alguns metros. Com vários apiários activos, quando necessito de tirar algumas colmeias do sítio, transporto-as para um outro apiário a mais de 5 km de distância.

A minha experiência mais recente com a deriva de abelhas e o regresso ao local original, foi a que passo a descrever. Este ano, na altura dos desdobramentos/multiplicação de colónias pelo método Doolittle, tive a oportunidade de aplicar três soluções alternativas para a recolocação dos novos enxames: (i) coloquei alguns destes no apiário onde estavam as colónias-mãe; (ii) coloquei alguns num outro apiário a cerca de 2,5 km/3 km do apiário original; (iii) coloquei a maior parte num apiário a cerca de 25 km de distância do apiário original. Os resultados foram facilmente observáveis: os novos enxames que perderam menos abelhas foram os que foram transferidos para o apiário a 25 km de distância; os que perderam mais abelhas foram os que ficaram no apiário original; os enxames transferidos para o apiário a 2,5/3 km de distância perderam abelhas, mas não tantas como os os que ficaram no apiário original. Nestas condições, sem utilizar nenhumas medidas que forcem a reorientação das abelhas, todos já experimentámos uma grande drenagem de abelhas para o local original se estes ficarem próximo, isto é, a menos de 3-5 km.

Contudo, há diversos protocolos que visam diminuir a deriva das abelhas campeiras para o local original quando não é possível deslocá-las para longe. Em baixo apresento um protocolo bastante completo levado a cabo pela experiente apicultora Rusty Burlew e descrito no seu blog Honey Bee Suite:

“As etapas:

  • À noite ou de manhã cedo, quando quase todas as abelhas estão na colmeia, bloqueie a entrada e mova a colmeia para seu novo local.
  • Mantenha as abelhas sequestradas nas primeiras 72 horas, se possível, e certifique-se de que elas tenham uma boa ventilação. Manter as abelhas trancadas fará com que algumas delas se reorientem na próxima vez que saírem.
  • Nesse ínterim, coloque um galho com folhas, uma cortina de contas, trapos de uma esfregona ou algo semelhante na entrada da colmeia. O objeto deve estar perto o suficiente da entrada da colmeia para que as abelhas sejam forçadas a circular em seu torno ao saírem da colmeia.
  • Após três dias, abra a entrada da colmeia. As abelhas ficarão confusas com o objeto da entrada da colmeia, param por um momento e exclamarão: “Tenho a sensação de que não estamos mais no mesmo sítio !” Cada uma delas fará um vôo curto e se reorientará para a nova localização.
  • Deixe o objecto na entrada da colmeia por dois dias ou mais e, em seguida, remova-o.
  • As abelhas ter-se-ão reorientado para seu novo lar.”
Re-orientando as abelhas com a colocação de vegetação na entrada da colmeia.

Contudo, por vezes, as abelhas trocam-nos as voltas e não seguem o protocolado. Numa publicação mais recente Rusty Burlew descreve o seguinte episódio que lhe sucedeu com uma colónia re-colocada num outro local próximo, mesmo tendo seguido todo o protocolo descrito em cima:

“Três dias depois
Perto do final do terceiro dia, prendi as folhas das samambaias na frente da colmeia, certificando-me de que cobriam a abertura. O emaranhado de folhas e galhos parecia suficiente para mim. Quer dizer, se eu saísse de casa e levasse uma pancada na cabeça de folhas de samambaia, pelo menos pararia e reconsideraria.

Mas não minhas abelhas. Nem por um segundo.

Quando abri a colmeia, as abelhas espumaram pela entrada fora. Nenhuma hesitou. Nenhuma perguntou: “De onde vieram estas folhas?” Em vez disso, as abelhas desapareceram no ar.

Saí rapidamente, atravessei o pinhal e voltei para casa. Mas quando entrei no quintal, lá estavam elas [próximo do local original da colmeia]. Milhares delas a circundaram o pátio, esperando por mim. Mais uns milhares aglomerados nas calhas da casa. Eu podia ouvi-las troçando de mim: “Por que você demorou tanto?”

Tão malvadas quanto podem ser
Talvez a perda de sua casa as tenha chateado. Ou talvez terem sido fechadas por três dias. Ou talvez eles não gostem de samambaias. Seja qual for o motivo, aquelas abelhas estavam muito mal dispostas. Elas começaram a dar cabeçadas imediatamente. Puxei minha máscara para a cabeça, mas não consegui sair dali rapidamente. Fui picada nos braços.

Dei a volta para o outro lado da casa, mas quando abri a porta da frente, algumas daqueles malvadas voaram para o interior. O cachorro, que dormia no chão da cozinha, foi picado sem motivo. O gato foi picado ao sair e desapareceu por 24 horas. Miando, choramingando. Latidos. Zumbido. Incomodando. Eu não me lembro de tamanho pandemónio. Enquanto isso, meu marido – aquele que insistiu nessa mudança – estava na Virgínia. Quão inteligente é isso?

Posso dizer que esta não foi uma predisposição genética para a a agressividade. A colmeia original foi dividida em três partes. A parte que coloquei na colmeia longa estava relaxada e calma. Várias vezes a abri apenas para observar, e as abelhas nem me ligaram. A segunda divisão, que continha criação e as abelhas que jovens, também era doce e serena.

Pense duas vezes antes de mover uma colmeia
Por que razão este método funciona às vezes e outras não? Eu não sei. Pode ser a idade das abelhas. Podem ser condições do néctar. Pode ser algo sobre o qual eu não tenho ideia.

Olhando para trás, acho que perdemos mais abelhas do que pensamos quando movemos colmeias por curtas distâncias. Se houver outras colmeias por perto, talvez algumas encontrem um lar. Mas outras abelhas, eu acho, simplesmente continuam circulando como pombos-correio. Quem sabe? Eu, pelo menos, nunca mais tentarei o método dos três dias.

Rusty”

fonte: https://www.honeybeesuite.com/how-to-move-a-hive/; https://www.honeybeesuite.com/before-you-move-a-hive-read-this/

Esta publicação surge no contexto de um pedido de opinião de um leitor sobre a deslocação de colmeias numa distância curta. Na minha opinião, podendo ser feito, a deslocação deve ser feita para um local a uma distância superior a 5 km. Não podendo, utilizem o protocolo da Rusty, ou outro qualquer. Umas vezes resultará melhor, outras vezes resultará pior. A razão para tanta divergência de resultados e opiniões acerca dos protocolos seguidos para deslocar colmeias em distâncias curtas está sobretudo relacionado, na minha opinião, com um aspecto que não é controlado: as colónias em questão têm maior ou menor proporção de abelhas forrageiras no momento em que são deslocadas? Se a proporção de abelhas forrageiras na colónia deslocada é grande, perderão muitas destas, e tal será facilmente observável; se a proporção for baixa, a colónia perderá um número de abelhas que dificilmente se observará a olho nú. Estes protocolos resultam tanto quanto podem resultar, dadas as condições iniciais dos enxames. Milagres acho que não farão! Nem conseguirão reverter a natureza das abelhas, que é fazerem o “homing” [regresso ao local original], como sempre o fizeram ao longo de milhões de anos, quando as suas casas eram em buracos de árvores, árvores que não se deslocam ao final do dia para 50 m de distância.

tudo bem! apontamento sobre as colónias em dois apiários de altitude

O extenuante processo de equalização das reservas permite-me não apenas equalizar as reservas mas também avaliar o estado sanitário das colónias, assim como a população das mesmas. Nos dois apiários que tenho entre 800-900 m de altitude estão muito bem nestes dois aspectos: colmeias populosas como raramente as encontro nesta altura do ano, muito pouca criação em geral, o que é habitual, e assimtomáticas no que respeita à varroose, vírus das asas deformadas e vírus da paralisia aguda.

Vista geral de um dos dois apiários.
Colónia em que coloquei um mestreiro em meados de maio.
Colónia em que introduzi uma rainha virgem em gaiola nos finais de abril.
Colónia em que introduzi mestreiros de reprodução pelo método de enxertia.
Aspecto da dimensão da mancha de criação que vejo habitualmente nestes dois apiários nesta altura do ano.
Rainhas a responderem adequadamente ao meio envolvente, reduzindo substancialmente a postura. Este fenómeno não traz prejuízo nenhum à colónia. Nestas condições as abelhas não precisam de manter a temperatura do ninho nos 35ºC, consomem menos reservas, não envelhecem tão rapidamente e a varroa não se reproduz.
Mas se o pasto é escasso para umas, para outras é abundante e suculento!

Saio deste empreendimento de equalizar as reservas em todas as colónias completamente de rastos, contudo com a alma revigorada e o espírito tranquilo. Neste dois apiários posso dizer que, por agora, está tudo bem! Acredito que as cerca de 50 colónias que me encomendaram para o início de março estarão muito fortes para entregar chegada a altura, serão colónias populosas, saudáveis e com rainhas sobreviventes que provaram bem num dos territórios mais hostis de Portugal, no que se refere aos aspectos abióticos.

preparando as colónias para a invernagem: o caso das colónias mais fracas

A 14 deste mês, nesta publicação, descrevi genericamente o que estou a fazer nos meus apiários para preparar as colónias para a invernagem. O maneio que descrevi levei-o a cabo nas colónias fortes (com 8 ou mais quadros cobertos por abelhas) e nas colónias médias (com 6 a 8 quadros cobertos com abelhas).

Nesta publicação vou descrever, sucintamente, o maneio que aplico às colónias menos populosas; são cerca de 10% do efectivo pelas minhas contas mais actualizadas.

Neste momento, e aproveitando o maneio de equalização das reservas já descrito, a inspecção quadro a quadro de quase todas as minhas colónias permite-me identificar com bom rigor a sua força, isto é, o número de quadros preenchidos por abelhas. Nesta época, tenho uma percentagem de colónias fracas substancialmente inferior se comparado com a percentagem do ano passado: o ano passado tinha cerca de 20-25% de colónias fracas nesta altura do ano.

O maneio destas colónias fracas continua a ser o mesmo que o do ano passado, pois os resultados foram muito satisfatórios. Colónias com 4 ou menos quadros cobertos por abelhas são transferidas para caixas-núcleo e suplementados com pasta açucarada.

Transferência de quadros e abelhas de uma colónia fraca (com 5 ou menos quadros cobertos/ocupados com abelhas) para uma caixa-núcleo.
A mancha e o aspecto da criação deixa-me optimista que estas colónias amanhã (ver fim do inverno/início da primavera) estarão a pedir para serem passadas para uma caixa de 10 quadros.
Alimento generosamente estas colónias com pasta de açúcar.

Os 5 quadros que sobram alguns foram utilizados na equalização das reservas, outros foram colocados nas colmeia-armazém, que estou a criar de acordo com as necessidades. Durante o inverno ainda não encontrei tão cómoda e melhor guarda para estes quadros com muito mel e pão de abelha do que uma colónia forte.

Colmeia forte a ser preparada para receber quadros sobrantes, resultantes da transferência de algumas colónias para caixas-núcleo.
Estas colónias fortes vão passar frio no inverno — quem não passa? — mas não é por ter um sobreninho.

vinagre de maça: a solução para combater as viroses nas abelhas?

Das primeiras dicas que recebi quando iniciei a minha actividade apícola em 2009 foram os benefícios de utilizar o vinagre para curar a ascosferiose (criação de giz) e para evitar a fermentação do xarope de açúcar e torná-lo mais palatável e atraente para as abelhas. Da minha experiência o vinagre não resolveu a ascosferiose nas colmeias submetidas ao tratamento. O benefício para evitar a fermentação do xarope de açúcar fiquei com a impressão que o alcancei. Sobre se o tornou mais palatável não tenho forma de o confirmar.

Como deixei há muito de alimentar as minhas abelhas com xaropes açucarados deixei também de utilizar o vinagre. Qual a razão desta publicação, então? A razão é simples: no dinossáurico fórum Bee-L (imaginem que ainda funciona através de e-mail, raramente tem imagens, os textos dos intervenientes são longos em geral, muito bem escritos e, sobretudo, as conversas e debates são de grande qualidade — como os invejo, aos falantes do inglês, e ao mesmo tempo lamento que em português não exista nada de remotamente semelhante!), é o tema quente do momento. O debate iniciou-se quando um apicultor canadiano, E. Tardif, postou o vídeo em baixo.

Os que visionaram este pequeno vídeo puderam constatar que o que está em causa é muito diferente do que estamos habituados a ouvir sobre os supostos efeitos benéficos do vinagre de maçã. Já não se trata de curar a ascosferiose, não se trata de evitar a fermentação do xarope, ou torná-lo mais atraente. O que está a ser aventado é outra coisa: a possibilidade de a acidificação do xarope de açúcar contribuir para a desestruturação dos vírus da paralisia, da criação ensacada e das asas deformadas. O estudo referido no vídeo, que me dispenso de o traduzir dada a sua complexidade, os mais interessados podem lê-lo aqui: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.abd7130.

Os apicultores que intervieram no debate no Bee-L, estão cépticos sobre os benefícios da utilização do vinagre de maçã. Entre outras razões referem um estudo que verificou danos nas abelhas pela acidificação com sumo de limão do xarope. Este estudo, curiosamente, foi referenciado por mim há uns meses atrás (aqui e aqui).

Nota: não posso deixar de relevar a menção que se faz no vídeo ao efeito prejudicial dos xaropes de açúcar não acidificados. No que respeita ao meu maneio é um problema que “não me assiste”, porque há muito perdi as ilusões sobre o pretenso efeito estimulante das xaropadas e deixei de as utilizar.

preparando as colónias para a invernagem

10 a 12 kgs de mel são as reservas necessárias e suficientes para as minhas colónias invernarem no território onde as tenho. Nem todos os anos tenho conseguido fazer a equalização das reservas em todas elas. Nesses anos tenho começado a suplementá-las em outubro/novembro com pasta açucarada. Este ano, graças a estes dias ainda quentes, estou a proceder de forma sistemática à equalização das reservas, por forma a que a maior parte das colónias tenham a quantidade de alimento suficiente para passarem o outono e parte do inverno. Só a partir de meados de janeiro planeio iniciar a alimentação com pasta açucarada nestas colónias.

Exemplar de um quadro que retirei de uma colónia com “excesso” de reservas. A bitola que utilizo é retirar quadros com mel em todas as colónias com mais que quatro quadros como este.
A colónia doadora recebeu este quadro que tinha saído de uma colmeia zanganeira. Como se pode ver este quadro foi alvo de pilhagem. As vespas que ajudaram na pilhagem terão também consumido as larvas da traça da cera e seus ovos.

Ao mesmo tempo este procedimento permite-me uma última inspecção aprofundada do ninho, antes de as deixar sossegadas até ao final de janeiro/meados de fevereiro. Notei que as colónias mais fortes têm manchas de criação inabituais para a época.

6 a 8 quadros como o de cima não é habitual neste território nesta altura do ano.

A explicação de tanta criação não está na alimentação estimulante. Como sei? Estas colónias não estavam a ser alimentadas. A explicação está na foto em baixo.

Pão de abelha recém ensilado. O melhor estimulante que as minhas abelhas conhecem.

3 destas colónias com 6 a 8 quadros de criação e 9 a 10 quadros de abelhas passaram à configuração ninho mais sobreninho.

Colónia que vai passar à configuração ninho+ sobreninho.
Colmeia forte a ser preparada para invernar na configuração ninho+sobreninho.
Alguns minutos depois!

Tudo isto num apiário visitado por vespas crabro e velutina. Mais uma prova que cada realidade tem um local, e que cada local conta a sua própria estória! As velutinas mato as que posso, as crabro não. Estas últimas não provocam, até à data, nenhum dano económico assinalável. Comem algumas abelhas, mas comem também borboletas da traça da cera durante a noite. Ocupam um nicho ecológico, que vazio será ocupado por outras vespas, muito provavelmente a velutina. Quando desejar que as minhas abelhas sofram predação zero levá-las-ei para a lua.

cera de opérculos: a minha solução para o seu processamento

Durante aqueles anos em que o meu efectivo ultrapassou as 400 colmeias e foi crescendo, ano após ano, até às 700, o processamento da cera dos opérculos foi o ponto de estrangulamento no processo de extracção. Na altura pensei e reflecti muitas vezes sobre a compra de uma máquina processadora dos mesmos. O investimento e as palavras que ouvi a um dos maiores apicultores que Portugal conheceu — “Eduardo actualmente passo mais tempo na melaria a resolver problemas mecânicos das máquinas do que nos apiários!” — nunca me deixaram confortável o suficiente para tomar a decisão de adquirir este tipo de equipamento. Nos anos de maior produção externalizei parte da extracção, recorrendo a uma melaria em Mangualde, e assim fui dando solução à necessidade de uma grande capacidade de extracção e processamento da cera.

Actualmente, com pouco mais de 160 colónias, voltei a utilizar em exclusividade o meu processo artesanal para limpar a cera dos opérculos.

Em baixo deixo o foto-filme de como o faço, nas condições que tenho.

Cera dos opérculos já bastante escorrida depois de ter passado vários dias na tina de desoperculação.
Cera dos opérculos colocada em caixas muito largas e pouco profundas, tranportada para uma casa rústica a 50-70 m de um dos meus apiários.
No interior da casa, onde dispus as caixas como a foto ilustra.
As abelhitas não tardam a chegar…
… e a cobrirem estas manjedouras!
Passado uns dias remexo a cera nas caixas para lhes facilitar o acesso à cera com algum mel ainda.
Cera dos opérculos quase limpa, sem mel, nas condições ideais para ser fundida na caldeira a vapor.

Nota: esta publicação foi incluída na categoria “equipamentos” por razões óbvias: é de equipamentos que trata, uns rudimentares, facilmente reparáveis, outros autónomos, as abelhas, que me libertam para o que mais gosto, estar nos apiários.