vespa velutina: efeito inicial dos iscos num apiário com pressão elevada

Na sequência de duas publicações, aqui e aqui, um companheiro apicultor decidiu experimentar nesta terça-feira a utilização de iscos tóxicos para diminuir e controlar a elevada predação/presença de vespas velutinas no seu apiário. O contexto era indicado à utilização desta técnica pois na véspera tinha observado entre 15 e 30 vespas a rondarem as suas colmeias.

Como atractivo utilizou 400 grs. de camarão triturado aos quais adicionou uma pipeta de Frontline Combo de 2,68 ml de volume e com 268 mg de fipronil. De acordo com os cálculos, cada 100 grs. de isco continha 0,067 grs. de fipronil. Esta concentração está situada num valor intermédio entre as concentrações referidas no estudo espanhol (0,01% p/p) e as concentrações utilizadas na Nova Zelândia e Argentina (0,1% p/p).

Os procedimentos que utilizou seguiram de perto o protocolo do estudo espanhol. Por volta das 6h30m fechou as colmeias com esponjas dedicadas, que permitem a entrada de ar, ou com as réguas de transumância. Por volta das 7h30m distribuiu o isco por várias zonas do apiário. Nas duas primeiras horas do procedimento a maior parte vespas pouco ligou ao isco, preferindo fazer o habitual: pairar à frente das colmeias à espera de abelhas que desta vez não saíam. Passadas estas duas horas iniciais as vespas mudaram o chip e passaram a focar-se nos iscos, poisaram sobre eles, fizeram as habituais bolas deles e com o (pet)isco bem agarrado entre as patas levantavam voo. Durante as quatro horas que manteve as colónias fechadas estima que as velutinas levaram cerca de 50% do isco. Passadas as 4 horas retirou o isco sobrante e abriu as colónias. De tarde voltou ao apiário e encontrou apenas 3 velutinas a rondarem as colmeias. Efeito do isco? efeito da sua presença horas antes?

Ontem, passadas 48h, diz-me o seguinte: “Vi uma a duas vespas e enxames a trabalhar. Tenho de dar a mão à palmatória, porque estava muito céptico em relação ao resultado. Acho estranho na segunda-feira haver a quantidade que havia e agora não. É que nem lhes dei porrada, o que as poderia afastar. Só as deixei andar a levar a comida.

Passadas 48h, ou a bichas são muito assustadiças e ainda tremem de medo só de pensar voltar àquele apiário habitado por um vulto branco fantasmagórico, ou ficaram de cama com uma indigestão estranha, associada a febre alta, suores frios e tremores musculares. Será que o camarão estava estragado?

vespa velutina: estamos a utilizar demasiado fipronil nos cavalos de troia?

Há uns três ou quatro anos atrás, o Marco Portocarrero da Nativa dizia-me que os apicultores estavam a utilizar concentrações demasiado elevadas de fipronil nos cavalos de troia.

Hoje estive a fazer uns cálculos e concluo o mesmo! Espero ter feito estes cálculos correctamente, contudo se encontrarem algum erro enviem-me um comentário, por favor, para o corrigir.

Nesta publicação recente, ficamos a saber que a concentração óptima de fipronil para a produção de iscos é de 0,01% p/p. Se não estou equivocado, significa que por cada 100 grs. de isco se deve colocar 0,01gr de fipronil.

Encontramos o fipronil em vários desparasitantes de animais de companhia, como por exemplo o Frontline Combo.

Neste folheto promocional podemos verificar que cada pipeta de 4,02 ml contém 402mg de fipronil. Julgo que temos todos os dados necessários para calcular qual o volume de Frontline Combo que devemos utilizar para preparar 100 grs de isco. Se não errei nos cálculos são necessários 0,1 ml. Portanto, se prepararmos 1 kg de isco, a quantidade indicada para um apiário com 50 colmeias (10 porções de 50 gr, uma porção para cada grupo de 5 colmeias) e para duas aplicações durante dois dias, segundo o estudo referido, necessitamos de 1 ml, isto é 1/4 da pipeta. Se tivermos 4 apiários com cerca de 50 colmeias cada, necessitamos de uma pipeta (4 ml), que nos permitirá fazer 4 kgs de isco, o necessário para diminuirmos de forma significativa e em 48h o número de velutinas a predarem as nossas abelhas e durante duas semanas ou mais. Se não necessitarmos de todo o isco podemos congelá-lo até voltar a ser necessário.

Os cálculos para determinar o volume de Frontline Combo necessário para obter uma concentração de 0,01 grs de fipronil por 100 grs de isco.

Para quem tem poucas colmeias e não necessita desta quantidade de isco, medir 0,1 ml não é nada simples. Neste caso sugiro utilizar a concentração de fripronil usada nos iscos produzidos da Nova Zelândia (0,1 p/p). Neste caso para uma concentração de 0,1 gr por cada 100 grs. de isco, necessitamos de 1ml de Frontline, isto é 1/4 da pipeta.

Os cálculos para determinar o volume de Frontline Combo necessário para obter uma concentração de 0,1 grs de fipronil por 100 grs de isco.

Esta publicação é um contributo para diminuir a quantidade de fripronil utilizada nos cavalos de troia e, portanto, reduzir a sua desseminação no território. Infelizmente, em zonas predadas intensamente pela Vespa velutina, não vejo como dispensar esta ferramenta tão eficaz no controlo de níveis de predação moderados (entre 10 e 30 velutinas em simultâneo no apiário) ou altos (mais de 30 velutinas em simultâneo no apiário). Isto enquanto as ferramentas de localização dos vespeiros não evoluam e nos permitam eliminar 80-90% dos ninhos antes de as futuras fundadoras acasalarem e dispersarem. Quando chegar esse dia podemos pensar de forma realista que temos a praga debaixo de controlo. Até lá vamos fazendo o que pudermos para salvar as nossas colmeias, utilizando as armadilhas para captura de fundadoras o mais selectivas possível e biocidas na menor quantidade necessária.

Nota: se utilizarem outras marcas sigam o mesmo processo de cálculo, tendo em consideração a concentração/quantidade de fipronil por volume de pipeta.

vespa velutina: avaliação da eficácia dos iscos proteicos com fipronil em estudo espanhol

Efficacy of Protein Baits with Fipronil to Control Vespa velutina nigrithorax (Lepeletier, 1836) in Apiaries é um estudo espanhol publicado em junho deste ano. Creio que é o único estudo publicado numa revista científica (Animals) acerca da avaliação do impacto dos “cavalos de troia” na visitação e predação de abelhas melíferas por V. velutinas em apiários na Península Ibérica. A utilização dos “cavalos de troia” é uma técnica controversa, aspecto que é abordada neste parágrafo do artigo: ” […] é necessário estudar os riscos que larvas e vespas mortas e restos de iscas podem representar para aves, outros insetos e meio ambiente.

Resumo Simples
Desde a introdução acidental da vespa-de-patas-amarela (Vespa velutina nigrithorax) no início do século 21 na Europa, ela tornou-se uma ameaça para muitos polinizadores, incluindo as abelhas domésticas. Após sua chegada a França em 2004, rapidamente se espalhou pelo continente, chegando a Gipuzkoa (País Basco) em 2010, onde representa um sério problema para a apicultura. Para reduzir este problema, várias estratégias de controle foram desenvolvidas, como a remoção de ninhos ou a captura de rainhas fundadoras na primavera. No entanto, estes métodos não foram eficazes na redução do impacto das vespas na apicultura. O uso de iscas proteicas com biocidas tem-se mostrado um método eficaz no controle de populações de vespas invasoras em ambientes naturais, porém, não têm sido utilizadas para o controle de V. velutina [nota minha: não tem sido utilizado oficialmente e com a autorização das autoridades administrativas]. Este estudo avaliou a eficácia destas iscas na redução do impacto das vespas nos apiários. Os resultados mostraram que quando a presença de vespas nos apiários é alta, ocorre um alto consumo de iscas, levando a uma redução significativa no número de vespas em 48 h. Esta redução dura pelo menos duas semanas após a colocação da isca e permite que as abelhas recuperem e retornem à sua atividade normal.

A diminuição do número de vespas observada no grupo de apiários com maior pressão de V. velutina, além de ser mais pronunciada 48 após a colocação das iscas, manteve-se constante ao longo das duas semanas seguintes. As contagens pós-isca nos dias +2, +7 e +14 foram significativamente menores do que no dia 0 para os dois grupos de apiários com maior número de vespas. No grupo com menor pressão de V. velutina, embora tenha havido uma leve redução no número de vespas no dia +2 e no dia +7, a diminuição não foi significativa.

Sumário técnico
A vespa-de-patas-amarela (Vespa velutina nigrithorax), fora de sua área de distribuição natural, tornou-se uma grande ameaça para as abelhas domésticas. Vários métodos de controle têm sido usados para combater V. velutina, mas os resultados obtidos não são satisfatórios. O uso de iscas proteicas com biocidas tem-se mostrado um método eficaz no controle de populações de vespas invasoras, mas não tem sido utilizado para o controle de V. velutina. Assim, a eficácia de iscas proteicas contendo fipronil para reduzir a presença de vespas em apiários foi avaliada neste estudo. Após a determinação laboratorial da eficácia ótima de uma isca proteica com concentração de 0,01% de fipronil, foram realizados ensaios de campo envolvendo 222 apicultores. Os dados relatados pelos 90 apicultores que responderam ao questionário solicitado demonstraram que nos grupos de apiários com maior pressão de vespas (grupos com 10–30 e mais de 30 vespas por apiário), houve uma diminuição significativa na presença de V. velutina, durante pelo menos duas semanas. A redução no número de vespas foi positivamente correlacionada com o consumo de iscas, e o consumo de iscas foi positivamente correlacionado com o número de vespas presentes no momento do tratamento. Embora o método utilizado tenha mostrado boa eficácia e a concentração de fipronil utilizada tenha sido muito baixa possíveis efeitos negativos sobre o meio ambiente também devem ser avaliados.”

Materiais e métodos

Testando a Eficácia de Iscas em Apiários
Para verificar a eficácia das iscas de proteína, o trabalho de campo ocorreu entre agosto e outubro de 2019, 2020 e 2021. Foi obtida autorização oficial do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente da Espanha e do Conselho Provincial de Gipuzkoa.

Foram utilizados quatro tipos de iscas proteicas, sendo três de peixe e uma de carne. Todos tinham a mesma concentração de fipronil (0,01% p/p) [0,01 gr de fipronil por 100 gr de isco]. […] Entre 50 e 100 gr de isca foram acondicionados em pequenos recipientes recicláveis e mantidos congelados (-20 °C) até à utilização nos apiários. A distribuição dos iscos aos apicultores foi feita na sede do GBA, onde os técnicos anotaram a quantidade de iscos fornecidos a cada apicultor, o número de apiários e colmeias a tratar e o local onde foram colocados.
Para realizar os ensaios, os apicultores que concordaram em participar foram informados sobre uma série de pré-requisitos a serem atendidos, (i) um número mínimo de vespas deveria estar presente no apiário (>2 vespas por apiário), (ii) em dias de chuva e/ou ventos fortes devem ser evitados, (iii) no dia do tratamento, a entrada das colmeias deve ser fechada antes do amanhecer e mantida fechada por 4 h, período em que as iscas foram colocadas próximo das colmeias.
Assim, uma hora após o nascer do sol, com as iscas descongeladas e temperadas, um pequeno recipiente com aproximadamente 50 g de isca para cada 4 a 5 colmeias foi colocado próximo da entrada das colmeias. À medida que a isca era consumida, mais isca era adicionada. No final do dia, as embalagens eram recolhidas e descartadas em ponto de reciclagem.

Ensaios de inactivação larval em laboratório
Comparando os efeitos das iscas tóxicas nos diferentes grupos de larvas, aquelas alimentadas com a isca contendo 0,01% de fipronil apresentaram maior percentagem de larvas afetadas em 24 h.

Uma mortalidade de 100% foi observada 48 horas após a administração das iscas tóxicas. […] Após 48 h, as larvas controle ainda estavam vivas.
A maioria das larvas alimentadas com iscas proteicas com diferentes concentrações de fipronil apresentaram mudança progressiva de coloração, passando a uma coloração enegrecida quando morreram. Para determinar se a mudança de cor foi devido à ingestão de fipronil, as larvas de controle foram mantidas sem comida até morrerem. Dez dias após o início da experiência, as larvas controle perderam a atividade até morrerem, evoluindo de esbranquiçadas para pretas, como ocorreu com as larvas alimentadas com fipronil.

Mudanças de cor observadas nas larvas de Vespa velutina após 48 h de alimentação com fipronil (A) em comparação com a larva controle sem consumo de fipronil (B,C).

Discussão
A remoção do ninho e captura de rainhas fundadoras na primavera e operárias no verão são as técnicas mais comuns usadas para o controle de V. velutina. A melhor estratégia é combinar diferentes métodos ao longo do período de atividade anual das vespas. Neste estudo, apresentamos outro método utilizado com sucesso com outros membros da família Vespidae baseado no controle químico com iscas tóxicas. Vários biocidas foram investigados para controlar vespas, e o fipronil forneceu eficácia ótima em doses baixas. De fato, uma isca protéica com fipronil foi recentemente comercializada na Nova Zelândia para esse fim*. Primeiramente, é fundamental que a isca seja palatável e não provoque nenhum tipo de rejeição por parte das vespas. A esse respeito, ao longo dos três anos, nenhum apicultor indicou nos questionários que havia observado qualquer rejeição da isca por parte das vespas. Em segundo lugar, uma baixa dose de biocida na isca é fundamental porque as vespas adultas precisam sobreviver à exposição à isca e serem capazes de a transportar até ao ninho para alimentar as larvas. No presente estudo, os ensaios in vivo alimentando as larvas com iscas contendo diferentes concentrações de biocida mostraram que o percentual de inativação das larvas aumentou com a concentração, obtendo 84,1% de inativação após 24 h para a concentração máxima de fipronil testada (0,01%). Os restos de fipronil encontrados em larvas mortas representaram de 13% a 30% do total de biocida administrado. Essa baixa concentração pode ser atribuída aos processos de metabolismo e excreção do biocida. […]
Assim, a isca proteica com 0,01% de fipronil foi selecionada para o estudo de eficácia nos apiários, apresentando efeito significativo na redução da presença de V. velutina. Observou-se que para minimizar a pressão de V. velutina no apiário, a quantidade de isca tóxica transportada para os ninhos deve ser alta. No entanto, o consumo de iscas dependia do número de vespas presentes no apiário com resultados ótimos quando mais de 30 vespas estavam presentes ao mesmo tempo em frente das colmeias do apiário. A redução no número de vespas no grupo de apiários com >30 vespas (≈75%) foi semelhante a outros estudos que usaram iscas proteicas com fipronil para controlar espécies de Vespula em ambientes naturais, mas menor em comparação com outros. No entanto, a concentração de fipronil usada no presente estudo é dez vezes menor (0,01% p/p) do que as concentrações de fipronil usadas para controlar outras espécies de Vespidae (0,1% p/p). Além disso, não temos conhecimento de outras publicações sobre a eficácia de iscas de proteína tóxica no controle de V. velutina em apiários e, infelizmente, não podemos comparar os nossos resultados com outros estudos realizados em locais semelhantes. Além disso, de acordo com as observações dos apicultores, a redução alcançada nos apiários com alta predação permitiu que as abelhas continuassem sua atividade normal.

[…] Embora a contagem de vespas não tenha continuado após +14 dias pós-isca, alguns apicultores relataram um aumento de vespas, mas que não atingiram a contagem inicial. Esses aumentos foram provavelmente devidos à eclosão de novas vespas que estavam em estágio de pupa no momento da isca e, conseqüentemente, não foram alimentadas com a isca tóxica. Além disso, após o declínio inicial, um rápido aumento de vespas também foi relatado num apiário. Isso pode ser devido às vespas vindas de outros ninhos devido à menor competição entre as vespas após a iscagem em comparação com os dias anteriores. No grupo de apiários com baixa contagem de vespas (<10), alguns apiários mostraram uma ligeira diminuição no número de vespas, mas rapidamente o recuperaram.


Vários autores descobriram que aumentar a intensidade das iscas aumenta sua eficácia. Como visto neste estudo, o uso de biocidas como o fipronil pode ser útil para controlar as populações de V. velutina nos períodos de maior pressão nos apiários. […] o uso de iscas proteicas com biocidas deve ser o mais restrito possível, optimizando as condições para o máximo consumo no menor tempo possível. Essas condições podem ser alcançadas se uma isca altamente palatável estiver disponível, e os apicultores usarem essa estratégia quando os apiários são fortemente predados por V. velutina no final do verão e início do outono, quando os ninhos de V. velutina crescem rapidamente, sob controle e supervisão das autoridades locais.
O controle de V. velutina em apiários não só beneficia a apicultura como também preserva a fauna entomológica local, que também é alvo da vespa de patas amarelas. Nesse sentido, estudos realizados em França, indicam que várias espécies de vespas sociais podem representar um terço das presas de V. velutina.”

fonte: https://www.mdpi.com/2076-2615/13/13/2075

Notas: *1) Como complemento ver aqui e aqui sobre a utilização de iscos com fipronil utilizados na Nova Zelândia para controlar a vespa germânica, um insecto exótico naquele país.

2) Ainda que consciente da controvérsia que a utilização de cavalos de troia apresenta, entendo que no actual contexto de forte predação de apiários em certos territórios, a Europa devia permitir a produção controlada e a utilização parcimoniosa e com dispositivos seguros deste tipo de iscos tóxicos, à imagem do que se faz na Nova Zelândia para o controle da Vespa germânica. Enquanto assim não for, a utilização desta técnica continuará a ser levada a cabo, como já o é, provavelmente com doses de tóxico superiores ao necessário e com dispositivos rudimentares que aumentam o risco dos efeitos colaterais noutras espécies.

eficácia de harpas elétricas na redução da pressão de predação de Vespa velutina e consequências para o desenvolvimento de colónias de abelhas

Recentemente publicado, este estudo levado a cabo na Galiza vem confirmar os resultados que diversos apicultores encontram com a utilização de harpas eléctricas em apiários fortemente pressionados pela Vespa velutina. Realça ainda a importância das medidas de protecção que diminuem a paralisia dos voos de forrageamento. Finalmente, dizer que não se conhecendo uma medida super-eficaz, é da utilização atempada, correcta e diversificada de algumas delas que se retira os melhores resultados (ver outras medidas mencionadas neste blog e nesta categoria “predadores e inimigos”).

Foco: Avaliámos a pressão de predação e comparámos o desempenho da colónia de abelhas, o peso corporal das operárias e a sobrevivência no inverno para colónias protegidas versus desprotegidas em 36 colmeias experimentais em três apiários.”

Resultados: As harpas elétricas protegeram as abelhas, reduzindo a pressão de predação e, portanto, mitigando a paralisia de forrageamento. Consequentemente, a atividade de forrageamento, colecta de pólen, produção de cria e peso corporal de operárias foram maiores em colónias protegidas que por sua vez apresentaram maior sobrevivência de inverno do que aquelas que não foram protegidas, especialmente em locais com níveis intermédios a altos de predação.”

Detalhes do estudo

“As harpas elétricas foram colocadas perpendicularmente às entradas das colmeias, entre duas colmeias contíguas (a). Estes dispositivos foram colocados nos apiários 1 mês antes das primeiras observações. Durante a primeira semana as harpas foram desligadas para permitir que as abelhas se habituassem à sua presença. A armadilha consiste numa armação com fios verticais paralelos conectados alternadamente aos pólos positivo e negativo de um circuito elétrico. O modelo aqui utilizado possui uma modificação para minimizar as capturas acessórias. As vespas voadoras recebem um choque elétrico sempre que tocam dois fios consecutivos (b), paralisando-as por alguns segundos e caindo numa gaiola em baixo com paredes de malha que permitem a fuga de insetos menores. Em seguida, as vespas rastejam dentro da gaiola até cair numa garrafa coletora.”

Sistema de proteção: seis colmeias colocadas em linha, separadas de 20 a 30 cm cada, protegidas com cinco harpas elétricas (a). Ao caçar abelhas na frente das colmeias, as vespas voam entre fios eletrificados que as paralisam (b). Depois caem numa gaiola da qual insetos menores escapam enquanto vespas caem numa garrafa de coleta.

Atividade de forrageamento: O número de forrageiras foi afetado pela pressão de caça e mês em questão. A paralisia forrageira registada nas colmeias desprotegidas no local de maior predação (Gondomar) iniciou-se em agosto e manteve-se durante todo o estudo apesar da diminuição da predação observada em setembro. A paralisia de forrageamento ocorreu principalmente em colónias de abelhas que sofreram taxas de caça superiores a 0,8 vespas/colmeia/10 min . No local com maior pressão predatória, as colónias protegidas apresentaram maiores tamanhos populacionais dentro da colmeia do que as não protegidas durante agosto e setembro, precisamente quando estas colónias apresentaram paralisia. Observámos operárias de todas as idades permanecendo dentro da colmeia em colónias paralisadas. Além do forrageamento, outros comportamentos comuns, como coleta de resinas para produção de própolis ou atividades higiénicas, como voos higiénicos, remoção de indivíduos doentes ou cadáveres, também foram interrompidos.”

Recursos armazenados: Colmeias desprotegidas apresentaram menor colecta de pólen. Os depósitos de pólen e mel não foram significativamente afetados pela predação de V. velutina.”

Desenvolvimento da colónia: A quantidade de cria e a atividade de forrageamento foram significativamente afetadas pela pressão de predação e pelo mês em questão. A quantidade de cria apresentou níveis mais baixos nas colmeias desprotegidas do que nas colmeias protegidas no apiário com maior pressão das V. veluitnas.”

Peso das abelhas: As operárias de colmeias desprotegidas eram 6,7% mais leves do que as de colmeias protegidas.”

Sobrevivência: A sobrevivência no inverno foi de 77,8% para colónias protegidas e 55,6% para colónias desprotegidas. A sobrevivência de colónias desprotegidas foi menor nos locais com pressão de caça intermédia e alta (Fig. 5). A sobrevivência das colónias de abelhas foi ligada à pressão geral de caça e à interação entre pressão de caça e peso das abelhas, mas não apenas ao peso das abelhas.”

Sobrevivência de inverno de colónias de abelhas em três apiários, com pressão elevada, média e baixa, (desprotegidas e protegidas com harpas elétricas).

Conclusões

“Os dados revelaram que, além da predação, fatores temporais também desempenharam papéis importantes na quantidade de recursos disponíveis na colmeia e na sobrevivência da colónia. A redução na colecta de pólen coincidiu com a paralisia de forrageamento em colónias desprotegidas e provavelmente está relacionada com a baixa quantidade de cria observada durante os últimos meses do estudo. Estes resultados suportam a ideia da paralisia de forrageamento como a principal razão para os processos de enfraquecimento e subsequente colapso que afetam as colónias sob ataque de vespas. Nossas evidências sugerem que em apiários com baixas taxas de predação (menos de 1 vespa/colmeia/10 min), as abelhas foram mais capazes de lidar com o predador e o uso de harpas elétricas é de menor utilidade. No entanto, em locais onde a estação de floração é mais curta e o inverno é mais longo e com temperaturas mais baixas (como em Oia, o local de maior altitude do nosso estudo), taxas intermédia de predação levam a uma menor sobrevivência de colónias em colmeias protegidas e particularmente em colónias desprotegidas (ver gráfico em cima).

O menor peso corporal das operárias em colónias desprotegidas fornece novas evidências do stresse fisiológico que as abelhas sofrem sob esta nova ameaça. O pólen é um recurso de capital relevância para as abelhas, pois é uma importante fonte de proteínas, lipídios, vitaminas e outros nutrientes, necessários para a produção de geleia real, com a qual as larvas são alimentadas. Além disso, a qualidade e a diversidade do pólen influenciam as abelhas. Sabe-se que a saúde e a longevidade e a qualidade do pólen afetam o peso das larvas e das abelhas. Assim, a escassez de nutrientes durante a criação das larvas é um mecanismo plausível que está por trás das operárias mais leves. Além disso, a menor quantidade de criação observada em colmeias desprotegidas no final do estudo sugere que o número de operárias para hibernar é menor do que em colónias protegidas. Assim, nossos resultados revelaram que, além do baixo armazenamento de recursos alimentares, dois fatores estão por trás das mortes no inverno de colónias de abelhas desprotegidas: uma deficiência nos níveis nutricionais de adultos invernantes e um número reduzido de operárias.

Além disso, fornecemos evidências de que o estado fisiológico das operárias das abelhas é afetado pela predação de vespas. Portanto, incentivamos os apicultores a facilitar o acesso das abelhas a diversos recursos florais e de água doce, contribuindo assim para diminuir seu stresse fisiológico e falhas no regresso à colmeia. Por isso, quando as colónias sofrem de paralisia de forrageamento é recomendável a suplementação de uma dieta diversificada e rica em todos os nutrientes necessários. Isso deve ser fornecido não apenas durante o inverno para evitar a fome de colónias fracas, mas também no outono, quando as operárias que vão suportar o inverno estão em fase larval.

A instalação de harpas elétricas representa um importante investimento económico inicial para os apicultores que depende do número de harpas e seu preço comercial. Isto, por sua vez, está relacionado ao número e localização das colmeias. Tem sido sugerido um racional de uma harpa a cada duas ou três colmeias, o que provavelmente é inviável para grandes apiários. Além disso, é necessário tempo para manter um sistema funcional. Os apiários precisam ser adaptados frequentemente, e sugere-se formar linhas com distância reduzida entre as colmeias para diminuir a distância das entradas das colmeias à harpa, para obter um maior efeito protetor. Contudo, observámos que em apiários colocados em locais com alta abundância de V. velutina, com uma linha compacta de colmeias (20–30 cm de separação entre elas) e uma harpa entre duas colmeias consecutivas, a redução da pressão de caça foi significativa, mas ainda não suficiente para atingir uma predação nula. Portanto, em áreas altamente invadidas, este método de controle deve ser implantado em conjunto com medidas adicionais, como detecção e destruição de ninhos de V. velutina no entorno dos apiários, a fim de reduzir o número de vespas caçadoras e suas consequências prejudiciais à colónia de abelhas, desempenho e sobrevivência.”

fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ps.7132

vespa velutina: anestesia de um ninho com recurso a algodão embebido em gasolina

Neste vídeo, Fred Soulat, descreve os procedimentos para levar a cabo a destruição de um ninho primário de vespas asiáticas em 01-08-2022 por introdução na entrada do ninho de algodão embebido em gasolina.


“Os vapores anestesiam as vespas, só resta colocá-las no congelador para matá-las…” diz este apicultor francês.

vespa velutina: uma estratégia correcta a pedir melhores ferramentas

A colocação de armadilhas para capturar Vespas velutinas fundadoras tem sido um tema controverso na comunidade científica e apícola por duas razões principais: 1) a polémica sobre o efectivo impacto na redução do número de ninhos definitivos mais adiante na época e 2) a falta de selectividade das armadilhas e atractivos utilizados. Se a polémica sobre o primeiro ponto foi desfeita por um estudo francês que veio demonstrar que a captura de V. velutinas em determinadas condições reduz efectivamente o número de ninhos definitivos (estudo que foi atempadamente e justamente referenciado neste blog aqui), o ponto 2 não merece qualquer dúvida até aos menos informados. Tendo estes dois aspectos em consideração, a validade da estratégia de captura de fundadoras e, em simultâneo, a falta de ferramentas devidamente selectivas para a concretizar, o caminho de ora em diante passa por melhorar as armadilhas ao nível da sua concepção e aprimorar os atractivos. Sobre este aspecto fiz diversas publicações nas quais identifiquei concretamente várias soluções já disponíveis (aqui, por exemplo).

Nesta demanda identifiquei recentemente mais um projecto, desta vez nascido nas Astúrias, e que teve como objectivo ” Crear una trampa para avispa asiática, que sea selectiva (es decir, que evite atrapar a otros insectos) y que se pueda fabricar por impresión 3d.”. Para além do produto final obtido, o que me importa mais com esta publicação é realçar a vantagem e necessidade de um trabalho colaborativo entre a academia, os decisores institucionais e os apicultores com vista a procurarem soluções mais efectivas para um problema complexo como este é. Na minha opinião, já não estamos em tempo de a academia e os decisores institucionais ignorarem a gravidade que a V. velutina representa para a biodiversidade e, de forma concomitante, é avisado procurar melhorar substancialmente a selectividade das armadilhas e atractivos, para que estas deixem de funcionar no campo como os insecticidas generalistas pouco selectivos contra os quais os apicultores sempre se opuseram, como no caso dos organofosforados e dos neonicotinoides.

Clique na imagem para aceder ao documento.

vespa velutina: modelos de armadilha e sua eficácia

No Manual de Boas Práticas no Combate à Vespa Velutina — captura de vespa velutina com armadilhas —, publicado em 2020, foram apresentados os resultados da eficácia de diversas armadilhas, artesanais e comercias. Como podemos ver a eficácia é muito baixa; apenas 1% dos insectos apanhados são V. velutinas para os três tipos de armadilhas artesanais avaliadas. Os resultados das 3 armadilhas comerciais avaliadas são igualmente pouco entusiasmantes.

Modelos artesanais

Modelo da Associação dos Apicultores do Norte de Portugal 

Modelo da Associação dos Apicultores do Cávado e Ave 

Modelo Associação dos Apicultores de Entre- Minho e Lima 

Modelos comerciais

Modelo comercial CLAC 

Modelo comercial TAP TRAP 

Modelo comercial VÉTO-PHARMA 

fonte: https://www.drapc.gov.pt/base/geral/files/manual_boas_praticas_combate_vespa_velutina.pdf

a utilização da focinheira para diminuir a pressão da velutina: o testemunho de um amigo apicultor

O voo estacionário da V. velutina nigrithorax em frente às colmeias provoca uma resposta comportamental nas nossas abelhas pouco adaptativa, que é conhecida como “paralisia de forrageamento/voo”. Para atenuar esta resposta, pouco funcional do ponto de vista da colónia, os apicultores utilizam um conjunto de dispositivos variados, entre outros, as “focinheiras” (do francês muselière). Estes dispositivos visam atenuar a pressão das velutinas à saída/entrada da colmeia, proteger as abelhas naqueles centímetros iniciais/finais de voo mais lento, ocultar em parte a sua saída/entrada, e encorajar um comportamento mais elevado de forrageamento, uma resposta mais adaptativa da colónia à pressão da velutina. Estes dispositivos aumentam a probabilidade de sobrevivâncias das colónias em mais 50%*.

A experiência do meu amigo Jorge Pino com este equipamento levou-me a solicitar-lhe que escrevesse umas linhas para aqui publicarmos. Ele aceitou de imediato o meu pedido, com a gentileza e solidariedade que o caracterizam, e enviou o texto em baixo.

A necessidade de defesa das colmeias de uma das pragas mais conhecidas na apicultura Ibérica, vai aguçando alguns engenhos e vamos percebendo ao longo do percurso, que para continuar a agir é necessário adaptarmo-nos e desenvolver novas abordagens ou melhorar as existentes, para ter como objectivo alcançar resultados satisfatórios e adequados no combate à vespa velutina, que depende do colectivo de apicultores, é um percurso que revela caminhos possíveis, amadurecimento, entender e interpretar os imensos desafios que se colocam. 

Com base nesse pressuposto evolutivo e o facto de estar inserido enquanto apicultor “Hobbista” no Parque Natural de Sintra / Cascais, zona de forte presença da vespa velutina, levou a que interiorizasse a premissa de implementar um plano, uma estratégia, talvez com etapas evolutivas e a devida resiliência, para a defesa das colmeias, e, a focinheira, (como lhes chama o André Gonçalo), de concepção simples e ao alcançe de todos com o devido engenho e algumas ferramentas, protegerá as colónias da invasão das vespas Velutinas e de outros possíveis predadores tais como ratos ou borboletas caveira, por exemplo, estas últimas inofensivas. A dupla rede de diâmetros de 16mm e 6mm, exterior e interior respectivamente, permite uma passagem rápida das abelhas do exterior para o interior e dificulta a transposição da velutina devido à sua envergadura em voo ser superior ao diâmetro da rede exterior de 16mm, enquanto que a rede interior de #6mm impede completamente a passagem da vespa velutina e desta penetrar nas colónias.

É claro e consensual que existem equipamentos similares, contudo o aspecto evolutivo deste, sobressai nos buracos concebidos de diâmetro de 7mm, para que, tanto zângãos como rainhas os possam transpor permitindo a permanência das focinheiras ao longo do ano sem a necessidade de as remover em períodos de fecundação. 

Vista frontal.
Vista lateral.
Vista do lado interior.
Alargamento da malha para permitir o transito de zângãos e rainhas.

Atente-se que não resolve o problema na totalidade nem refreia o ímpeto de predação, apenas defende as colónias, até porque, a vespa velutina acaba por adaptar a sua hostilidade predativa fazendo pressão no exterior, e, se as colónias estiverem menos fortes, acaba este, por ser um meio fisico de disuasão de invasão das mesmas, retardando ou evitando talvez, o ponto de não retorno das colónias. 

Estou certo que o estudo deste problema começa a dar alguns resultados noutras formas de combate, mas como diz o autor deste “blog” e inspirador de práticas coerentes, simples e equilibradas, até lá “O apicultor deverá ser o cuidador das abelhas” cuja missão é demasiado nobre para se furtar a essa condição.” 

* Nota: Nesta publicação retiro este excerto “Medimos a FR (falha no retorno das abelhas devido à predação de vespas) e PF (paralisia de forrageamento: paragem da atividade de voo em colmeias devido às vespas pairando em frente da entrada) e estimámos a probabilidade de mortalidade das colónias usando uma abordagem de modelagem mecanicista. A “protecção da entrada da colmeia” não reduziu a FR associada à vespa, mas reduziu drasticamente a PF. Além disso, a “protecção da entrada da colmeia” aumentou a probabilidade de sobrevivência de colónias stressadas por vespas até 51% em contexto de alta abundância de vespas asiáticas com base em simulações teóricas. Esses resultados sugerem que a instalação de “protecção da entrada da colmeia” pode atenuar o efeito prejudicial do vespão asiático nas abelhas europeias.”

viabilidade de imagens térmicas na detecção de ninhos da Vespa velutina

“Resumo: A Vespa velutina é uma espécie invasora de vespas que está a colonizar a Europa, provocando impactos consideráveis ​​nas abelhas, na apicultura e na biodiversidade. As estratégias de controle e alerta precoce baseiam-se principalmente em planos de monitorização e procedimentos de detecção e destruição de ninhos. Ferramentas tecnológicas (radar harmónico e radiotelemetria) têm sido desenvolvidas para aumentar as probabilidades de detecção de ninhos em novos surtos. Uma vez que as vespas são capazes de regular a temperatura do ninho, a termografia pode representar uma técnica adicional que pode ser usada, tanto isoladamente quanto em apoio a outras técnicas. Neste estudo, a viabilidade da imagem térmica na detecção de ninhos de V. velutina foi avaliada em condições controladas. A influência de diferentes variáveis ​​ambientais e operacionais (hora do dia, presença / ausência de folhas cobrindo o ninho, distância entre o ninho e o operador) foi testada em três ninhos detectados em agosto de 2018 na Itália. Todos os ninhos foram detectados por imagens térmicas, mas as variáveis ​​ambientais e operacionais afetam sua detecção. A diferença de temperatura entre os ninhos e os arredores atinge o máximo antes do nascer do sol e sem a cobertura das copas das árvores. Embora os ninhos fossem visíveis em alguns casos a partir de 30 m, a detectabilidade foi maior em distâncias menores, mesmo que essa variável também possa depender da resolução da câmera infravermelha. Um aumento na temperatura ambiente também gera uma diminuição na detectabilidade do ninho. Embora possam ocorrer algumas limitações, esses resultados mostram a aplicabilidade da termografia na detecção de ninhos de V. velutina antes do início da fase reprodutiva e, consequentemente, sua potencialidade em estratégias de controle.”

Aplicação de imagens térmicas para detecção de ninhos de V. velutina: (A) ninho número um; (B) ninho número dois; (C) ninho número três; (D) ninho número um pela manhã a 30 m do operador; (E) ninho número um à noite a 30 m do operador.

“[…] O aumento da temperatura ambiente durante o dia pode limitar a detectabilidade dos ninhos, devido à maior temperatura do ar e à presença de raios solares na folhagem das árvores. Além disso, V. velutina é predominantemente diurna; uma vez que a temperatura do ninho está positivamente correlacionada com o número de indivíduos dentro do ninho, pode-se supor que a diferença de temperatura entre o ninho e seu meio envolvente está no seu máximo antes do nascer do sol, quando todos as vespas ficam dentro do ninho e a temperatura ambiente do entorno atinge o mínimo. Pelo contrário, a detectabilidade diminui após o nascer do sol, quando a temperatura ambiente atinge valores semelhantes à temperatura interna dos ninhos de vespas. Isso pode representar um limite no uso destas câmeras em países do sul da Europa caracterizados por altos valores de temperatura durante o verão, enquanto em países mais frios esta variável pode ter menos influência na detectabilidade do ninho. A distância entre o ninho e o operador que realiza a amostragem parece influenciar a detectabilidade do ninho, mas este efeito pode estar relacionado com resolução da câmera usada para este estudo (320 × 240 px). Uma vez que câmeras de infra vermelhos com uma resolução mais alta estão disponíveis no mercado (por exemplo, 1024 × 768 px), é possível supor que o efeito desta variável pode diminuir com um equipamento de qualidade superior, com um consequente aumento na detectabilidade do ninho.[…]”

fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/1744-7917.12760

vespa velutina em confronto com cinco vespas nativas da Coreia do Sul

Na publicação anterior escrevi: “Os níveis populacionais de V. velutina são bastante baixos na Ásia em comparação com a Europa, provavelmente devido à competição com muitas outras espécies de Vespa por recursos alimentares e locais de nidificação (Matsuura, 1984).” Apresento em baixo o sumário de um estudo sul coreano, publicado em 2020, sobre a agressividade interespecífica da exótica V. velutina nigrithorax (introduzida na Coreia do Sul em 2003) e cinco outras espécies de vespas nativas.

Comportamento agressivo entre uma vespa alienígena invasora, Vespa velutina, e cinco espécies de vespas nativas coreanas (Vespa simillima, Vespa mandarinia, Vespa analis, Vespa crabro e Vespa dybowskii).
A: mordendo, V. velutina morde V. simillima usando suas mandíbulas, B: levantando antenas e sacudindo as asas, V. mandarinia ameaça V. velutina levantando sua antena e sacudindo suas asas quando V. velutina se aproxima, C: matando, V. mandarinia caça V. velutina, D: forçando para baixo e jogando, V. analis atira V. velutina, E: batendo ou empurrando com a cabeça, V. crabro empurra V. velutina com sua cabeça, F: abre a mandíbula, V. dybowskii ameaça V .velutina com suas mandíbulas. Códigos das espécies: vel: V. velutina, sim: V. simillima, homem: V. mandarinia, ana: V. analis, cra: V. crabro, dyb: V. dybowskii.

“Título: Hierarquias interespecíficas de agressividade e tamanho do corpo entre a vespa alienígena invasora, Vespa velutina nigrithorax e cinco vespas nativas na Coreia do Sul

Sumário: A vespa alienígena invasora, Vespa velutina nigrithorax, tem-se expandido continuamente desde sua invasão da Coreia em 2003. Aqui, comparamos os comportamentos agressivos e o tamanho do corpo da V. velutina nigrithorax com cinco espécies de vespas nativas para identificar as hierarquias interespecíficas que contribui para a propagação desta espécie. Os comportamentos agressivos foram classificados em 11 categorias e cada interação foi pontuada como vitória, derrota ou empate. Como resultado, V. velutina foi superior a V. simillima em 153 lutas em que V. velutina venceu 71% e apresentou uma alta incidência de comportamento ameaçador. V. mandarinia superou V. velutina em 104 lutas onde V. mandarinia ganhou 91% e o comportamento de agarrar foi frequente. V. analis foi superior a V. velutina em 67 lutas em que V. analis venceu 76% e mostrou uma alta quantidade de comportamento ameaçador. V. crabro foi superior a V. velutina em 93 lutas em que V. crabro venceu 73% e apresentou um alto índice de comportamento ameaçador. V. dybowskii foi superior a V. velutina em 132 lutas em que V. dybowskii venceu 91%, e apresentou um alto índice de comportamentos de ameaça e luta. O tamanho corporal de V. velutina era maior do que V. simillima (embora não estatisticamente significativo) e menor do que todas as outras espécies de Vespa. Portanto, de acordo com os resultados deste estudo, as baixas hierarquias interespecíficas de V. velutina parecem ser uma das principais causas de taxas de propagação mais lentas do que tem mostrado na Europa. No entanto, com o tempo, sua densidade foi aumentando gradualmente no interior da floresta, na qual parece estar superando suas desvantagens e expandindo seu alcance, possivelmente porque grandes colónias e boas habilidades de voo facilitam a obtenção de alimento.”

fonte: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0226934