avaliação da vaporização repetida de ácido oxálico em colónias de abelhas (Hymenoptera: Apidae) para controle do ácaro ectoparasitário Varroa destructor

Há 6 anos atrás, no pico da moda da utilização de vaporizadores de ácido oxálico nos EUA, fiz esta publicação com um relato de um apicultor norte-americano sobre uma experiência menos bem sucedida no controlo da varroose com recurso à vaporização de ácido oxálico. Hoje, esta publicação traduz o sumário dos resultados da avaliação conduzida por Jennifer Berry e colegas relativa à eficácia de um programa de vaporização de ácido oxálico aplicado 7 vezes com intervalos de 5 dias entre aplicações e em colónias com criação operculada presente.

Nos últimos 18 anos, Jennifer Berry tem desenvolvido trabalho de pesquisa apícola e é responsável pela gestão do Laboratório Apícola da Universidade da Geórgia. Seus objetivos de pesquisa estão focados na melhoria da saúde das abelhas, os efeitos sub-letais de pesticidas em insetos benéficos e técnicas de Gestão Integrada de Pragas para controlo de varroa e pequenos besouros das colmeias.

Sumário: A indústria apícola americana experimenta continuamente a mortalidade das colónias com perdas anuais de até 43%. Uma das principais causas disso é o ácaro exótico e ectoparasita Varroa destructor Anderson & Trueman (Mesostigmata: Varroidae). As opções de Gestão Integrada de Pragas (IPM) são usadas para evitar que as populações de ácaros atinjam níveis letais, no entanto, devido à resistência e/ou à falta de opções de tratamento adequadas, novos controlos para reduzir os ácaros são utilizados. O ácido oxálico para controlar o V. destructor tornou-se uma opção de tratamento popular entre os apicultores comerciais/profissionais e de quintal/amadores. A aplicação de ácido oxálico vaporizado no interior de uma colmeia de abelhas é um método de aplicação legal nos EUA e resulta na morte dos ácaros expostos. No entanto, se os ácaros estão em fase reprodutiva e, portanto, sob a proteção da cera dos opérculos, o ácido oxálico é ineficaz. Um programa popular de aplicação de oxálico é vaporizar várias vezes ao longo de várias semanas para tentar contornar o problema dos ácaros escondidos nos alvéolos operculados com criação. Ao comparar com colónias de controle, testamos a vaporização de ácido oxálico em colónias submetidas a sete aplicações separadas por 5 d (35 dias no total). Testamos em apiários na Geórgia e no Alabama durante 2019 e 2020, totalizando 99 colónias. Descobrimos que as abelhas adultas Linnaeus (Hymenoptera: Apidae) e a criação em desenvolvimento não sofreram impactos adversos do regime de vaporização com o ácido oxálico. No entanto, não encontramos evidências de que a aplicação periódica frequente de oxálico durante os períodos com criação presente no ninho da colónia seja capaz de fazer descer as populações de V. destructor abaixo dos limiares de tratamento.

fonte: https://academic.oup.com/jinsectscience/article/22/1/15/6523139

ácaro Varroa: alguns aspectos da sua ecologia comportamental

Começando pelo fim a tradução deste muito recente, sumário e pertinente artigo de revisão da literatura sobe o ácaro Varroa: “Em conclusão, a ecologia comportamental do ácaro Varroa precisa ser totalmente compreendida antes que possamos realmente entender e controlar este parasita devastador das abelhas a uma escala global.” […] Deixo em baixo a tradução de alguns aspectos para a leitura atenta daqueles que entre nós procuram conhecer melhor o inimigo. Só munidos deste conhecimento aumentamos a probabilidade de o combater mais eficaz e eficientemente e, ao mesmo tempo, compreender melhor a razão porque algumas práticas são desaconselhadas ou têm resultados insuficientes [ver notas minhas a bold e entre parêntesis rectos].

“A distância entre uma larva de abelha e o topo da abertura do alvéolo também pode ser um fator chave na invasão dos alvéolos pelo Varroa. Logo que esta distância é de 7,0-7,5 mm, o alvéolo torna-se atraente para os ácaros e a invasão começa (Goetz e Koeniger 1993, Beetsma et al. 1999). Se esta distância for alcançada mais cedo, o período atrativo é maior (Boot et al. 1995). O favo mais velho é mais atraente para os ácaros, possivelmente porque os alvéolos ficam menores com o uso [devido a acumulação de seda dos casulos pupais] e, portanto, a distância de uma larva ao topo do alvéolo atinge-se mais cedo (Piccirillo e Jong 2004). Isso sugere que os apicultores devem remover o favo mais velho ou usá-lo apenas para mel para reduzir a invasão de ácaros. Curiosamente, o favo de alvéolos pequenos [com 4,9 mm de largura ou menor], que foi sugerido como um sistema de controlo mecânico para reduzir as populações de Varroa (Martin e Kryger 2002, McMullan e Brown 2006), é agora considerado ineficaz na redução de cargas de Varroa em comparação com o favo normal (Seeley e Griffin 2011 ) e pode mesmo provocar uma maior probabilidade de invasão dos alvéolos. Assim, o favo de alvéolos pequenos deve ser descontinuado como opção de tratamento de ácaros (Berry et al. 2010, Coffey et al. 2010).”

[Este excerto ajuda-nos a compreender melhor porque razão os dados de inquéritos epidemiológicos de larga escala, recentemente recolhidos nos EUA, identificam maior mortalidade de colónias entre os apicultores que re-utilizam mais frequentemente os quadros velhos que retiram das colónias que colapsam durante o inverno.]

Um diagrama simplificado que mostra o ciclo de vida do Varroa destructor. Durante a fase reprodutiva, uma fêmea fecundada entra no alvéolo de uma larva de operária ou larva de zângão antes de ser operculado (A). Logo que o alvéolo é operculado, o ácaro fundador produz um filho e várias filhas que se acasalam entre irmãos, enquanto se alimentam da pupa da abelha (B). Após a emergência da abelha adulta, os ácaros saem do alvéolo e iniciam a fase de dispersão (C), durante a qual as fêmeas recém-fecundadas são transportadas pelas abelhas para chegar a um alvéolo com criação larvar para o invadir, iniciando o ciclo novamente.

“As taxas de visitação de larvas por abelhas ama também podem ser um fator no processo de invasão de alvéolos pelo Varroa. As larvas de zângão são atrativas para os ácaros durante cerca de 40 horas antes da operculação, enquanto as larvas de operárias são atrativas durante 20 horas apenas antes da operculação (Boot et al. 1992). Este período mais prolongado de atração de ácaros por larvas de zângão pode contribuir para a preferência do Varroa para invadir alvéolos de zângão. As larvas de zângão também têm taxas de visitação de abelhas ama aproximadamente 2,5 vezes mais altas do que as larvas de operárias (Calderone e Kuenen 2003, Reams et al. dados não publicados). A criação que tem uma taxa de visitação mais alta provavelmente é exposta aos ácaros Varroa com mais frequência e, portanto, tem uma possibilidade maior de ser invadida. No entanto, mais estudos são necessários para entender como as taxas de visitação de abelhas ama influenciam a invasão de alvéolos pelo Varroa.”

[Na minha opinião há ainda lacunas importantes no conhecimento que temos do ciclo de vida do ácaro varroa, em particular de muitos detalhes durante a sua fase de dispersão/forética.]

“A invasão de Varroa em alvéolos de criação pode ser vista de várias maneiras: a taxa de invasão de ambos os tipos de larvas, a preferência por alvéolos de zângão quando comparada com a preferência por alvéolos de operárias. As taxas de invasão de larvas de zângãos e operárias são calculadas pelo número de ácaros por alvéolo (Fuchs 1990). As taxas de invasão de alvéolos de zângão são geralmente mais altas do que as taxas de invasão de alvéolos de operárias (Fuchs 1990, Boot et al. 1995). […] À medida que a proporção de alvéolos de zângãos para alvéolos de operárias aumenta, a preferência por alvéolos de zângão diminui (Fuchs 1990, 1992). Isto significa que com menos criação de zângãos, os alvéolos de zângãos são preferidos e, portanto, a preferência por alvéolos de zângãos não é constante, mas flutua ao longo do ano (Fuchs 1990, 1992). A preferência por alvéolos de zângão também depende da população de ácaros em toda a colónia. À medida que a população de ácaros aumenta (tipicamente durante a primavera e o verão), a preferência por alvéolos de zângãos diminui (Fuchs 1990).

“A preferência por alvéolos de operárias define-se como o limiar no qual o Varroa começará a invadir os alvéolos de operárias (Fuchs 1992). Este limiar […] é de cerca de 300 ácaros por colónia. Após este limiar ser atingido, a preferência por alvéolo de operárias começa a aumentar (Fuchs 1992). Isso ocorre porque assim que este limiar é atingido, há um número tal de ácaros dentro da colónia que se torna mais adaptativo para um ácaro invadir um alvéolo de operária com uma única fundadora do que invadir um alvéolo de zângão que já contém outras varroas. Isso mostra que a invasão de alvéolos de zângãos e operárias pode flutuar ao longo do ano e à medida que a população de ácaros vai mudando.”

[Esta é, na minha opinião, uma das razões para a eficácia insuficiente do conhecido “corte de zângão” no controle da infestação por varroa. Esta bio-técnica, a ser utilizada, deve ser acompanhada de outras técnicas químicas (orgânicas e/ou sintéticas) e/ou culturais mais eficazes, enquanto elementos de uma estratégia mais abrangente, diversificada e efectiva.]

“Vários ácaros podem invadir o mesmo alvéolo e isto ocorre mais frequentemente com taxas mais elevadas de infestação de ácaros (Martin 1995, Floris et al. 2020). Isso pode ser vantajoso para a população geral de ácaros dentro de uma colmeia porque aumenta a possibilidade de exogamia. No entanto, é provável que os ácaros que invadem o mesmo alvéolo estejam relacionados, de modo que a prole pode não alcançar uma maior diversidade genética por cruzamento (Beaurepaire et al. 2019). Invasões múltiplas também têm um impacto negativo sobre o ácaro. À medida que o número de invasões por alvéolo aumenta, menos ovos são postos por ácaro e a mortalidade da prole aumenta (Martin 1995). Curiosamente, mesmo após uma invasão bem-sucedida de um alvéolo com larva, a infertilidade do ácaro feminino é relativamente alta. A baixa fertilidade é causada por vários fatores, incluindo a mortalidade masculina, com o esmagamento ou deslocamento da pupa, o que leva a ácaros não fertilizados e uma invasão de ácaros “mal-sucedida” (Martin 1997, 2001; Nganso et al. 2020). A mortalidade masculina tende a ser maior durante o inverno (Martin 2001) e pode conduzir a fêmeas maduras a saírem do alvéolo sem terem acasalado (Martin et al. 1997, Häußermann et al. 2020). A falha de uma fundadora em colocar ovos dentro do alvéolo com larva também pode ser causada por oviposição atrasada ou por um baixo número de espermatozóides armazenados na sua espermateca (Harris e Harbo 1999).

[Esta é uma das várias razões que me ajudam a compreender porque os acaricidas aplicados no fim de inverno resolvem melhor o problema da varroose quando comparados com a eficácia dos acaricidas que aplico no verão.]

fonte: https://academic.oup.com/jinsectscience/article/22/1/18/6523143

abelhas resistentes: uma conversa interessante/informada no Bee-L

No fórum apícola Bee-L, do qual sou subscritor e acompanho com atenção, encontro conversas muito interessantes. Traduzo em baixo excertos de uma dessas conversa sobre as “abelhas resistentes” ao varroa, tida nos últimos dias entre três apicultores. Os pontos de vista que tenho sobre este assunto, como escrevi aqui: a minha resistência à resistência: o foco no foco, não andam longe dos partilhados nesta conversa.

Apicultor PB: “Sem seleção contínua, as características que os apicultores desejam (mansidão, produção de mel, crescimento na primavera, etc.) podem ser perdidas em pouco tempo. Até que as abelhas resistentes sejam capazes de demonstrar produtividade e capacidade de sobrevivência, elas provavelmente não ganharão muita popularidade entre os apicultores comerciais do mundo. Embora a possibilidade de desenvolver linhas resistentes tenha sido demonstrada, sua utilidade prática não o foi. — Cameron J. Jack e James D. Ellis. Journal of Insect Science, (2021) 21(5): 6; 1–32

Lembro-me de estar na plateia onde alguém estava dando uma palestra sobre abelhas resistentes. Levantei-me e disse: “O plano da natureza para a sobrevivência das abelhas é a abelha africana/africanizada”. Outra pessoa na sala levantou-se e disse: “Como sabe qual é o plano da Natureza?” Quis dizer-lhe que eu tinha uma linha direta com a Mãe Natureza, mas fiquei sentado.”

Apicultor RL: ” O Dr. Martin e sua equipe fizeram a análise de dados de 60
artigos publicados nos últimos 40 anos acerca da sobrevivência das abelhas face à pressão da varroa em todo o mundo na tentativa de encontrar características comuns nas populações resistentes.

Eles concluíram que populações resistentes tendem a ter três características em comuns, com altas taxas de:

  • Remoção de criação infestada de ácaros (VSH)
  • Desoperculação e Reoperculação (REC)
  • Infertilidade dos ácaros (SMR)

Com base nestes traços comuns entre populações em várias regiões do mundo, o Dr. Martin acredita que a resistência se pode desenvolver em qualquer subespécie.

E, finalmente, ele oferece este petisco de um pensamento interessante e provocador:

A resistência é uma característica de nível populacional e não uma característica de uma única colónia. Assim uma colónia resistente torna-se vulnerável se for removida do seu território/população e pode entrar em colapso se ocorrer um influxo repentino de ácaros no novo território. Isso pode explicar a razão por que colónias resistentes que se transferiram de seu território normalmente não sobrevivem.

É neste ponto que o Dr. Martin é pouco otimista relativamente à perspectiva de populações resistentes sustentáveis se tornarem omnipresentes nos
os EUA”

Apicultor JF: “Eu examinei várias colónias de ditos “enxames selvagens sobreviventes”, após a remoção de árvores derrubadas e similares. Continuo surpreendido com o grande número destes enxames que encontrei com rainhas marcadas.
Os donos dessas colmeias não tinham explicação para isso, pois não marcam as rainhas e não tinham as canetas necessárias para o efeito.”

multiplicar enxames e produzir mel

Para alguns é impossível obter de uma colónia abelhas e quadros com criação para fazer novos enxames e, nessa mesma época, tirar produção assinalável da mesma. Felizmente, com o maneio que utilizo habitualmente, não consigo confirmar essa crença.

Com a técnica de multiplicação de enxames que utilizo há vários anos e que no ano passado fiquei a saber que tinha a designação técnica de Doolittle (ver aqui), tenho conseguido de forma sistemática e consistente atingir este duplo objectivo: utilizar uma colónia como produtora de mel e como fonte de multiplicação de enxames —prefiro este termo ao termo desdobramento, termo este que geralmente está associado à divisão simétrica, cinco quadros para uma caixa e outros cinco para outra, quando prefiro de longe divisões não simétricas de enxames, dois ou três quadros para uma caixa nova, permanecendo os restantes na colmeia-mãe, com rainha, por forma a manter o mais possível a integridade dos enxames doadores, uma condição essencial para que produzam na época.

Multiplicação de enxames pela técnica Doolittle

A partir do início de maio, fim do período de enxameação, estas colónias vão gradualmente passando do modo fornecedoras de abelhas e quadros com criação, para o modo colónias armazenadoras de néctar e produtoras de mel. Esta passagem gradual faz-se com a colocação de 2 a 3 quadros com cera laminada por semana. O resultado final é este (fotos de 2021).

Cresta de Julho de 20121 de todas as 7 colónias que foram utilizadas de março a início de de maio para a multiplicação de enxames.
Dado o peso e com ajuda do Marcelo Murta dividimos a carga por duas caixas.
Exemplar representativo dos 70 quadros do modelo Lusitana (dimensões ninho) crestados nestas colónias.
Passadas algumas semanas crestei em muitas destas 7 colónias mais uma meia-alça/alça lusitana como a da figura.

Voltando ao início, não comprovo a impossibilidade de uma mesma colónia ser utilizada para a multiplicação de enxames e, na mesma época, obtermos dela uma produção significativa de mel. Mais, não comprovo que as grelhas excluidoras de rainhas fomentem a enxameação e reduzam a produção de mel. Utilizadas correctamente, como julgo fazê-lo, são um instrumento indispensável para o maneio das minhas colónias Langstroh e Lusitanas. Felizmente libertei-me há uns anos destes preconceitos e atavismos, infelizmente ainda propalados por alguns pequenos mestres neste pequeno país.

Nota: estou vendedor de enxames com 5 e 10 quadros nos dois modelos acima referidos. Os interessados podem contactar-me através da caixa de comentários com todo o sigilo, pois não serão tornados públicos.

amarelo não melhora a eficiência de armadilhas para captura de vespas dos géneros Vespula e Dolichovespula (Hymenoptera: Vespidae)

“Resumo: As vespas sociais são frequentemente consideradas pragas incómodas em ambientes urbanos e muitas vezes são controladas por meio de armadilhas. A maioria das armadilhas produzidas comercialmente para a captura de vespas tem o amarelo como cor dominante ao redor da entrada da armadilha. No entanto, as observações sobre a função do amarelo como atrativo para vespas são controversas. A eficiência das armadilhas de listras amarela, em comparação com as de listras verdes (N = 15) e as de listras amarelas e verdes (N = 15) foi avaliada. De acordo com os resultados, o amarelo não tem um papel específico como atrativo para vespas dos géneros Vespula Linnaeus e Dolichovespula. Para vespas, o tipo de isca será o principal atraente e pode ser suficiente por si só para fins de controle e monitorização.”

fonte: https://www.eje.cz/artkey/eje-201901-0027_yellow_does_not_improve_the_efficiency_of_traps_for_capturing_wasps_of_the_genera_vespula_and_dolichovespula_h.php

Armadilha com entrada de cor amarela.

não detecção de contaminação de colmeias de abelhas após uso de isca para vespas com proteína contendo fipronil

No seguimento da publicação anterior, com tradução de excertos de estudo acerca da grande eficácia obtida com o do uso de iscos proteicos intoxicados com fipronil na eliminação de ninhos de vespas germânicas, creio ser pertinente apresentar este outro que avalia o risco de intoxicação acidental de colónias de abelhas por via da utilização deste tipo de estratégia no controlo de indivíduos do género Vespula.

Colocação do Vespex numa armadilha dedicada para o efeito.

“Resumo: As vespas acidentalmente introduzidas (Vespula germanica e V. vulgaris) são pragas importantes na Nova Zelândia, com grandes impactos na ecologia e economia locais. As vespas comem abelhas (Apis mellifera), têm efeitos potencialmente devastadores na saúde da colmeia, bem como nas indústrias agrícolas e hortícolas. A isca Vespex, que contém fipronil [0,1%] num veículo proteico, foi recentemente introduzida [na Nova Zelândia] para controle de vespas. Em mais de uma década de ensaios relatados, as abelhas nunca foram observadas forrageando em Vespex, provavelmente porque a isca não contém açúcares para servir como fonte de alimento para as abelhas. No entanto, a possibilidade do agente de controle fipronil entrar nas colmeias não foi testado. Portanto, aqui, nós investigamos isso usando um ensaio de cromatografia líquida-espectrometria de massa de fipronil e dois derivados metabólicos de sua degradação ambiental, fipronil desulfinil e fipronil sulfona. Não detectamos fipronil em nenhuma das amostras de abelhas operárias, larvas de abelhas, mel ou pólen (n = 120 por produto) coletadas em 30 colmeias durante um período de 2 anos. […] Também não houve evidência de transferência trofalática de fipronil ou seus derivados em nenhuma das colmeias amostradas. […] nossos resultados fornecem confiança de que, se uma intoxicação indetectável estivesse ocorrendo, envolveria uma exposição aguda naqueles poucos indivíduos afetados, com prejuízo mínimo para as colónias. Portanto, concluímos que o uso de Vespex nas proximidades de abelhas não resulta em risco significativo para as colónias de abelhas, reduzindo efetivamente a pressão de vespas nas colónias de abelhas.”

fonte: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0206385

Nota: o Vespex , tanto quanto sei, não é comercializado na Europa.

remoção bem-sucedida de vespas germânicas (Hymenoptera: Vespidae) por isca tóxica

Conheço este estudo há meia-dúzia de anos ou um pouco mais. Acho oportuno dizer que nada me move contra a vespa germânica, um insecto nativo no território onde tenho as colmeias e que nunca lhes causou dano apreciável. Já a V. velutina, …

“Resumo: Vespula germanica é uma vespa social que invadiu muitas partes do mundo, inclusive a Argentina. Esta vespa costuma tornar-se uma praga, afetando diversas atividades económicas. Também pode impactar a comunidade nativa por meio da predação ou competição. O objetivo do nosso estudo foi testar iscas tóxicas para redução da abundância de vespas. Vespas foram envenenadas com 0,1% de fipronil misturado com carne moída crua em dois locais de floresta de faias em 20 de fevereiro de 2000 no noroeste da Patagónia. Todos os ninhos (46) dentro dos dois locais de 6 ha com estações/armadilhas com isca envenenadas foram eliminados, e as armadilhas nesses locais capturaram 81,1% menos vespas no final da temporada do que as armadilhas nos dois locais de controle. Após o ensaio a redução média de vespas forrageiras em iscas não tóxicas foi de 87%. O fipronil foi muito eficaz no controle do número de vespas, embora existam limitações ao método, principalmente no que diz respeito à conservação de espécies não-alvo. A isca tóxica pode ser útil no controle do número de vespas em apiários, quintais, quintas e parques. […]

Um experiência de escolha de isca foi realizado antes que as iscas envenenadas fossem colocadas. Alimentos enlatados com sabor de salmão (Whiskas, Kal Kan Foods, Vernon, CA) e carne picada crua foram testados no campo. A maioria dos estudos anteriores usou com sucesso iscas de peixe […], mas observações no nosso local de estudo indicaram que carne moída crua seria mais palatável para vespas do que isca de peixe. […] Intoxicámos com fipronil 0,1% misturado com carne moída crua, preparada no início da manhã. Um total de 3,8 kg de isca tóxica foi colocada em cada local, com 􏰏50 g por estação de isca. O fipronil é um membro de uma nova família de inseticidas, que usados ​​em baixas doses podem ser muito eficazes no controle de uma ampla gama de pragas de insetos. Devido ao seu modo de ação, o fipronil é mais específico para insetos com baixa toxicidade em aves e mamíferos. Ensaios realizados na Nova Zelândia para controlar V. vulgaris demonstraram que o fipronil é de ação rápida e eficaz em baixas concentrações, matando 􏰑90% dos ninhos de vespas dentro de uma área e especialmente sendo eficaz mesmo quando a densidade de vespas é relativamente baixa (Harris e Etheridge 2001).”

fonte: http://anterior.inta.gov.ar/bariloche/ssd/nqn/ecologiadeinsectos/pdfs/Sackmann%20et%20al%202001.pdf

um caso muito raro seguido de outro mais raro ainda

Hoje entre as 11 e as 16 horas tratei e alimentei as colónias do apiário mais densamente povoado dos quatro que tenho à data.

Também neste apiário, a 900 m de altitude, as abelhas vinham do campo bem carregadas de pólen.

No entanto o que justifica esta publicação é a apresentação de um caso muito raro.

Seguindo a linha do tempo dos eventos, no dia 14 de novembro do ano passado ao fazer o maneio de um dos núcleos neste apiário, vejo a rainha marcada a levantar voo. Este evento é muito raro na minha experiência e anotei-o no telhado do núcleo para o acompanhar em visitas futuras: a rainha voltaria ou não ao núcleo? iria ficar órfão?.

O núcleo, na data em que a rainha levantou voo, estava muito bem povoado.

Nas visitas seguintes confirmei que a rainha marcada não voltou. Nestas circunstâncias, e como o núcleo continuava bem povoado, deixei-o ficar no local. Estando bem povoado em fevereiro/março tinha o plano de lhe ir colocando um quadro com criação emergente semanalmente ou quinzenalmente. Com este maneio recupero frequentemente estas colónias órfãs.

Hoje, neste núcleo verifico duas coisas espantosas:

  1. pequena mancha com criação de obreira em vários estádios;
Desde o dia 14 de novembro que não via criação nova e ovos nesta colónia.

2. uma rainha não marcada.

A rainha que levantou voo estava marcada. Esta não está; é seguramente outra rainha. Como é possível? A colónia nas vistorias que lhe fui fazendo, desde que a rainha levantou voo e não regressou, nunca lhe vi mestreiros. Colocando possibilidade que tal me tivesse passado desapercebido, e que possa ter criado uma rainha, lembro que não há zângãos neste território desde setembro/outubro.

Durante alguns momentos fiquei perplexo… até que fiz as ligações entre este evento e um outro que me tinha dado conta uns momentos antes. Uns minutos antes tinha observado que um núcleo muito fraco nas visitas anteriores, hoje estava completamente despovoado. Não vi abelhas, rainha, criação, reservas, e não vi sinais de pilhagem a este núcleo. Os quadros estavam impecáveis, ainda que completamente vazios e limpos.

Vista de cima do núcleo vazio.

Na foto em baixo, mostro a localização destes dois núcleos um relativamente ao outro.

Em primeiro plano o núcleo que hoje encontrei completamente vazio; em cima o núcleo onde encontrei hoje a rainha em postura. Os dois estão relativamente próximos como se pode ver pela seta, mas não são os mais próximos. Logo ao lado do núcleo hoje vazio e no mesmo assento está um núcleo mais próximo, mas este está funcional com rainha e bem povoado.

A melhor explicação que encontro para este caso muito raro na minha experiência é a seguinte: a rainha e as pouca abelhas presentes no núcleo fraco (no primeiro plano) migraram e foram aceites pelo núcleo órfão e mais povoado (em segundo plano, no assento de cima).

Fica para a nossa imaginação os meandros acerca de como estas duas colónias perceberam que cada uma delas tinha exactamente os recursos críticos que faltavam à outra e como o conjunto de instintos, que todos nós conhecemos e levantam obstáculos à fusão de duas populações estranhas, foi desligado de forma aparentemente síncrona e consensual pelas duas colónias. Há dias em que a apicultura me traz perguntas que sinto que me puxam para cima e estes são dias que muito aprecio.

o primeiro tratamento do ano e outros aspectos

Com as urgueiras roxas a apresentarem as primeiras flores, isto cerca de um mês antes das datas mais habituais, entrei no apiário com dois objectivos principais: iniciar o primeiro tratamento do ano da varroose* e alimentar com fondant, cerca de trinta dias depois de as ter alimentado pela última vez.

Urgueira roxa (Erica australis) no território circundante ao apiário (a 850m de altitude).

Substituição dos sacos vazios colocados há cerca de 30 dias atrás.

Colocação das tiras de Apistan, o medicamento que escolhi para realizar o primeiro tratamento da varroose este ano. Como já passaram mais de 4 anos sobre a última utilização deste medicamento, o prazo mínimo necessário para acontecer a reversão a uma potencial resistência ao fluvalinato, estou optimista … mas atento relativamente à sua eficácia.

Das 22 colónias deste apiário todas sobreviveram ao outono e ao que já se passou deste inverno. Estão saudáveis e a expandir-se, muito graças às boas cargas de pólen que estão a trazer do campo.

As colónias estão bem povoadas em geral, com 7-8 quadros cobertos com abelhas.

A postura/criação ocupa entre 3 e 5 quadros, e preenche cerca de 50-60% da superfície dos quadros.

As rainhas a fazerem o que lhes está predestinado.

*Na semana passada iniciei o primeiro tratamento do ano nos dois apiários nas terras baixas; esta semana estou a colocar o primeiro tratamento nos dois apiários nas terras altas.

vespa velutina: uma estratégia correcta a pedir melhores ferramentas

A colocação de armadilhas para capturar Vespas velutinas fundadoras tem sido um tema controverso na comunidade científica e apícola por duas razões principais: 1) a polémica sobre o efectivo impacto na redução do número de ninhos definitivos mais adiante na época e 2) a falta de selectividade das armadilhas e atractivos utilizados. Se a polémica sobre o primeiro ponto foi desfeita por um estudo francês que veio demonstrar que a captura de V. velutinas em determinadas condições reduz efectivamente o número de ninhos definitivos (estudo que foi atempadamente e justamente referenciado neste blog aqui), o ponto 2 não merece qualquer dúvida até aos menos informados. Tendo estes dois aspectos em consideração, a validade da estratégia de captura de fundadoras e, em simultâneo, a falta de ferramentas devidamente selectivas para a concretizar, o caminho de ora em diante passa por melhorar as armadilhas ao nível da sua concepção e aprimorar os atractivos. Sobre este aspecto fiz diversas publicações nas quais identifiquei concretamente várias soluções já disponíveis (aqui, por exemplo).

Nesta demanda identifiquei recentemente mais um projecto, desta vez nascido nas Astúrias, e que teve como objectivo ” Crear una trampa para avispa asiática, que sea selectiva (es decir, que evite atrapar a otros insectos) y que se pueda fabricar por impresión 3d.”. Para além do produto final obtido, o que me importa mais com esta publicação é realçar a vantagem e necessidade de um trabalho colaborativo entre a academia, os decisores institucionais e os apicultores com vista a procurarem soluções mais efectivas para um problema complexo como este é. Na minha opinião, já não estamos em tempo de a academia e os decisores institucionais ignorarem a gravidade que a V. velutina representa para a biodiversidade e, de forma concomitante, é avisado procurar melhorar substancialmente a selectividade das armadilhas e atractivos, para que estas deixem de funcionar no campo como os insecticidas generalistas pouco selectivos contra os quais os apicultores sempre se opuseram, como no caso dos organofosforados e dos neonicotinoides.

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